Chamusca – o que fazer? – por João Oliveira

Nos últimos dias, foi veiculada a hipótese, do Chamusca Basket desistir da participação na Proliga, a situação não me deixou indiferente e desencadeou uma pequena reflexão.

A primeira imagem que visualizei foi a de pessoas que gostam de Basquetebol e que por essa paixão se dedicam e sacrificam pelo Basquetebol. Quantas horas, as pessoas que dirigem, treinam e jogam no Chamusca dedicaram e dedicam ao Basquetebol? Quantas vezes, as pessoas que dirigem, treinam e jogam no Chamusca sacrificaram outras coisas das suas vidas pelo Basquetebol?


A seguir coloquei a seguinte questão: o que poderá levar um Clube e as suas pessoas a desistir do que gostam, se dedicam e se sacrificam?

Comecei a relembrar situações de pessoas que conheci e que também desistiram do Basquetebol.

Certa época, conheci um jogador, vou chamá-lo de Hugo, que adorava jogar. Morava e estudava longe do Clube e, para treinar, tinha de ir para a Escola com duas mochilas, todos os dias e apanhar o comboio e o autocarro para ir treinar Basquetebol. Fez isto durante vários anos, mas a certa altura e sem ninguém contar desistiu do que gostava, pelo que se sacrificava, do Basquetebol. O que terá levado o Hugo a desistir do Basquetebol? Será que haverá alguma coisa em comum entre o Hugo e o Chamusca?

Noutra altura, um treinador que conheci, digamos que é o Zé, tinha sido jogador durante anos, a seguir passou vários anos a treinar o seu Clube. A energia para fazer tudo isto tinha por base o gosto pelo Basquetebol e por esse gosto, o Zé trabalhava oito horas por dia, a seguir ia para o Clube treinar os jovens e quando chegava a casa, encontrava a sua esposa e filhos já a dormir. Pelo gosto do jogo, o Zé sacrificava alguns dos seus dias de férias para fazer formação como Treinador de Basquetebol, o Zé perdeu algumas festas dos filhos na escola. O gosto, a dedicação e os sacrifícios do Zé pelo Basquetebol tinham-no levado a mais de 20 anos de persistência, mas a determinada altura o Zé desistiu do Basquetebol. O que terá levado o Zé a desistir do Basquetebol? Haverá alguma coisa em comum entre o Zé e o Chamusca?

Um dirigente, o Luís, tinha jogado e treinado durante anos, mas a determinada altura, passou a dirigir o Clube, que embora modesto, lhe dizia muito, por ajudar imensos jovens a encontrar uma base segura, para o seu desenvolvimento. Enquanto dirigente, o Luís assistia aos treinos das equipas, dirigia-se frequentemente à junta de freguesia e aos comerciantes locais para tentar encontrar os meios para o Clube sobreviver. Infelizmente. Na procura de apoios, o não era mais frequente que o sim. Tal como o Chamusca, o Hugo e o Zé, o Luís sacrificou muitos jantares e fins de semana em família pelo que o Clube significava para ele, mas a determinada altura desistiu do Basquetebol.

Por esta altura, para mim, a situação do Chamusca passou a ser mais do que a situação de um Clube. Passei a vê-la como a situação de tantas e tantas pessoas que gostavam (e gostam) do Basquetebol e que desistiram.

Será que conhece alguém, uma pessoa que tenha jogado, treinado, dirigido, arbitrado ou (…) Basquetebol e que desistiu do que gostava de fazer?

Por isso, reformulei a questão inicial para: “Chamuscas” – o que fazer?

Antes de explorar um pouco esta questão, tal como o milho se torna em pipoca, surgiu-me outra imagem, a do corpo, e com ela duas ideias, até porque algumas pessoas poderão perguntar-se, que interesse têm os Hugos, os Zés, os Luíses ou os Chamuscas?

Então vejamos, quantas vezes pensei no dedo mindinho do pé esquerdo, nos últimos anos? Provavelmente poucas ou nenhuma. Mas será que por isso estaria disposto a abdicar do meu dedo mindinho do pé esquerdo?

Por outro lado, a certa altura, teria uns 13 anos, tive um problema com a apêndice. Na altura não sabia o que era, mas aquele pequeno segmento em forma de dedo inflamou e tive de ser operado de urgência, sob pena daquela inflamação provocar uma infeção generalizada.

Ou seja, se virmos as equipas, as organizações ou o Basquetebol Português como um corpo, por exemplo se olharmos para os Hugos, os Zés, os Luíses ou os “Chamuscas” como o dedo mindinho do pé esquerdo ou como o apêndice, será que podemos considerar abdicar desse dedo ou de correr o risco dessa situação poder provocar uma infeção generalizada no Basquetebol?

O que podemos fazer perante estas situações, de pessoas que gostam do Basquetebol e consideram desistir a determinada altura?

Algumas vezes, olhei para o lado, afinal não era problema meu, digamos que acenei para a situação e com isso vi pessoas que gostavam do Basquetebol a desistir. Outras vezes, pressionei essas pessoas a ficarem. Contudo, nenhuma destas alternativas provocou os resultados que desejava, que as pessoas que gostavam do Basquetebol mantivessem a sua vinculação. A minha experiência não demonstrou que “acenar” ou “pressionar” seja as melhores opções e por essa altura, surgiu a seguinte questão:

Se “acenar” e “pressionar” não são boas opções, será que haverá uma alternativa melhor para todos, ao longo do tempo?

A alternativa poderá ser “remar”, isto é, compreender a situação e depois pegar num remo e influenciar (contribuir) construtivamente para a situação.

Para tentar compreender a situação, tentei perceber o que é que se poderia sobrepor ao que gostamos de fazer e fui encontrar a resposta nos Hugos, nos Zés e nos Luíses. Com todos eles tinha acontecido algo, na relação com os Treinadores, com os Colegas de equipa, com a Direção do Clube, das Associações ou Federação que consideravam inaceitável, inadmissível, intolerável, que lhes provocava tamanho desconforto e que geriram desistindo. Isto é, para além de outras situações, as pessoas têm crenças e valores pelos quais estão dispostos a lutar, mas também desistir do que gostam, quando são colocados em causa.

Vejamos alguns princípios sobre os quais as pessoas forjam os seus valores: servir, contribuir, respeito, equidade, honestidade e integridade.

Olhando para trás será que: o Hugo desistiu porque via algumas pessoas a servirem-se da situação; o Zé desistiu porque havia pessoas a prejudicar e a faltar ao respeito; o Luís desistiu por sentir parcialidade e desonestidade?

Regressando à questão inicial: Chamusca – o que fazer?

Será que aconteceu alguma coisa inadmissível, inaceitável ou intolerável que levou o Chamusca a considerar a desistência da Proliga? Será que esta poderá ser a questão a colocar, para compreender e influenciar construtivamente (“remar”) a situação? Será que “remar” é o melhor para todos, ao longo do tempo, em vez de “acenar” ou “pressionar”?

Força “Chamuscas” – estamos juntos.


por João Oliveira



 



1.11.2020


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