Desporto e Pandemia: a importância do Desporto de Formação – por Aniceto do Carmo

A dramática situação pandémica presente não se permite a receitas feitas nem a certezas, mas precisa de reflexões objetivas e a decisões eficazes e assertivas.

Se em Março foi uma completa novidade colhendo cidadãos e governantes de surpresa, todas as medidas implementadas foram de uma maneira geral bem acolhidas e mais do que isso ordeiramente executadas, merecendo a generalidade do povo português o elogio dos dirigentes nacionais, pela disciplina evidenciada. Até a oposição política, por não saber nem poder apresentar melhores alternativas, apoiaram as medidas, onde a novidade uniu, ninguém se atreveu a dizer que não deviam ser aquelas as medidas, nem se conheceram alternativas. 


Hoje já não podemos invocar novamente a novidade e a surpresa. Obriga-nos fazer balanços com base nos resultados do que obtivemos. Ter como base factos e a experiência recente dos últimos meses e dos seus resultados, e admitir que não se podia ter feito diferente, porque não se sabia como. Não é difícil ser consensual que as medidas foram eficientes, isto é, boas medidas, mas convínhamos não foram eficazes. Tínhamos 200, 400, 800 infeções por dia, e hoje temos mais de 5000. Algo temos de concluir que tem de mudar e melhorar.

A dicotomia dos dirigentes políticos de dominar a pandemia e manter a economia é um exercício de difícil equação, cujas incógnitas estão indeterminadas. Parece haver uma proporcionalidade inversa e coloca a questão entre dois mundos de difícil interceção: ou se trata da pandemia e se prejudica a economia, ou se mantém a economia e temos descontrolo epidémico.

De uma forma prosaica, para não se morrer do vírus, arrisca-se a perder o emprego e a morrer de fome. Estranha escolha em pleno seculo XXI, século do conhecimento e da abundância. Os governos existem na profundidade das suas medidas, nas restrições da atividade social, procurando um equilíbrio instável das medidas, no escrutínio entre pandemia e economia, que tem ainda mais um fator de entropia, quando se acrescenta o tema das liberdades e garantias.

Convínhamos que para quem morre é perfeitamente indiferente. Pura e simplesmente morreu. E morrendo tanto faz ser do vírus ou de fome, e por certo perguntará para que lhe serviu a liberdade?  

Se ter certeza do tipo de medidas pode ser e é uma miragem, e até presunção, já a oportunidade, o momento para a sua implementação e a sua eficácia parecem já ser exigíveis e indiscutíveis. A confiança constrói-se no acerto e, por isso, em caso de catástrofe, é perfeitamente compreensível que se exija medidas que resolvam. Já temos 8 meses de convivência viral, portanto já não somos virgens nesta matéria de tomar medidas e ver os resultados. Se tivermos em linha de conta que diferentes medidas foram tomadas em diferentes países, o universo das observações de métodos e processos aumenta a possibilidades de análises.

Os governantes políticos e de saúde não têm feito outra coisa, nos últimos meses, a não ser tomar medidas contra o covid e, pretensamente, a defender a economia.

Já tivemos a decisão de confinar tudo e este modelo ao que sabemos terá eventualmente resultado na China. Mas nós estamos na Europa e somos portugueses, com a sua própria cultura, costumes, estilo de vida, hábitos ocidentais e europeus. Nesse contexto, os resultados na Grã-Bretanha, Holanda, Alemanha, França, Itália e Espanha foram ao que tudo indica até hoje ineficazes. Lamentamos e não nos contenta o descontrolo pandémico dos outros. Mas ao que os resultados nos obrigam é à obrigatória aprendizagem.

As experiências de confinamentos totais não resultaram na Europa de 1ª, nem na de 2ª, não resolveram nem a pandemia e afetaram de forma violenta a economia. Curiosamente o contrário do que se pretendia com essas medidas. Conclusão: tendência para mais descontrolo confinar mais e durante mais tempo.

Será que é boa decisão insistir no mesmo processo e no mesmo tipo de medidas? 

Será que devemos acreditar que se a pandemia piorar a solução é aumentar o grau de confinamento? Pelas conclusões do passado recente, parece que voltar a acreditar que o confinamento na Europa é solução (hipótese sempre possível no caso descontrolo total) pode conduzir a uma situação progressivamente mais grave. Por isso e com base nos resultados, não me parece apenas que confinar seja a medida mais eficaz a tomar, tendo em conta resolver as duas incógnitas da equação; pandemia e economia.

É hoje sabido que o vírus veio para ficar, meses senão alguns anos, e parece estarmos obrigados a aprender a viver com ele. Que se tomem as medidas que permitam essa convivência. Temos de ser mais inteligentes, que o vírus.  

As medidas anunciadas nesta nova fase de estado de emergência centram-se:

  1. Na manutenção do direito ao emprego e ao ensino (fábricas, escolas, etc…)
  2. Manter o nível de atividades e restrições diferenciadas geograficamente e de acordo com o estado da pandeia em cada local, ou município.
  3. Aumentar o número de controlos do estado de saúde individual em locais de atividades organizadas.

Reconhecido que os confinamentos parciais ou totais prejudicam a economia, parece ser a quadratura do circulo quando se diz que temos de confinar mais, com exceção para trabalhar, porque economia não aguenta! Isto é, ficamos sem saber, se damos uma no cravo ou na ferradura

A experiência do anterior confinamento diz-nos que não ajudou a resolver, senão não tínhamos hoje mais de 5000 casos diários de novas infeções. Não foi porque desconfinarmos no Verão e vieram os turistas, porque assim se fez noutros locais, com piores resultados que nós e não tem Verão, nem algarve nem turistas, e pretensamente até mais “disciplinados”, e os seus resultados foram os mesmos, nenhuns ou piores e, por isso, penso que é possível retirar algumas conclusões.

Devemos e podemos concluir que com os hábitos dos europeus, temos de resolver esta pandemia em atividade, mas obrigatoriamente de forma diferente, implementando os cuidados absolutamente necessários, protegendo, detectando, testando e isolando o mais rapidamente os casos positivos, e o mais cedo possível, quebrando assim as cadeias de contágio.

Pertenço a um sector que não parou a construção civil. Não se podem fazer obras por teletrabalho. Tem de se sair de casa, apanhar transporte, ir ao local, fazê-la e regressar a casa, e isto todos os dias de forma sistemática, resistente e consistente.

Por isso, é essencial cuidar dos transportes em todos os locais, mas principalmente nos grandes centros urbanos grande Lisboa e grande Porto, locais onde os números da pandemia tem uma maior expressão.

Tivemos um caso de numa obra onde alguém que assintomático por necessidade de ir para os Açores tinha de apresentar teste negativo e ao fazê-lo espanto! Deu positivo. Alerta e todos os que estiveram em contacto receberam ordem de confinamento, e tentou-se de imediato quebrar a cadeia.

Se for esta uma conclusão que me parece adequada, e aqui chegados, podemos perguntar se a interrupção e desativação da prática desportiva em escalões de formação faz sentido, atendendo à prioridade da manutenção do ensino. Desporto de formação não é ensino? Então é o quê? 

Resulta que testar é um meio de prevenir. Quanto mais testes, mais rápido se deteta e se previne. Então na logica de manter o direito ao ensino, porquê parar atividades desportivas de formação (amadoras se quiserem).

Se nesses locais de prática desportiva organizada, forem implementados processos de rastreio sistemáticos,  de teste e deteção, obrigatoriamente deixam de ser locais potenciais de proliferação e de contagio, para passarem a ser locais de deteção e determinação de casos positivos  e assim contribuírem (tal como noutros locais de pratica desportiva e de outras modalidades) para a sua identificação, e logo para o seu controlo e interrupção da cadeia de transmissão, aliás tal como nas escolas, nas fábricas nos locais de saúde, nas grande superfícies e em todos os locais.

Deveria assim a FPB bater-se pela manutenção da atividade nas suas associações e nos seus clubes, contrariando a ideia de que a prática desportiva é uma potencial forma de aumento de transmissões.

Contrariamente defender a manutenção da atividade de forma adequada às circunstâncias e responsável, não é uma mera reivindicação corporativista, para satisfazer interesses próprios e internos, mas um contributo do desporto para com a sociedade, que bem precisa de domínio e de controlo desta trágica pandemia.

A manutenção da prática desportiva constitui acima de tudo mais uma oportunidade de continuar não só o processo de deteção, mas também um local de ocupação da juventude, de aprendizagem de aquisição e treino de regras de educação para a pandemia, constituindo-se numa efetiva contribuição para um melhor e real controlo de eventuais casos positivos e de evitar as possibilidades de transmissão.

A FPB deveria facilitar e promover a aquisição dos meios e dos apoios aos clubes tais como, reforço de recursos humanos já existentes, fisioterapeuta ou médico do clube, ou outro profissional de saúde encarregue das necessárias diligencias, tais como testes por amostragem, ou por indícios, aquisição de materiais de proteção e desinfeção.

A FPB deverá adaptar as regulamentações a este caso excecional, e caso existam casos e impedimento de participação de equipas por casos positivos ter resposta imediata a estas novas situações.

Como os confinamentos são por ordem geográfica, identificar os casos em cada município ou concelho e adaptar de imediato as competições a esta excecionalidade, porque a deslocação entre concelhos pode impedir as deslocações das equipas, dos árbitros, etc.

Dizer que se deve manter a atividade realçando os aspetos positivos da pratica desportiva já sabemos, porque ele já era por demais importante antes da pandemia, mas realçar a sua importância nestas circunstâncias, dizer bem alto que ela é indispensável, porque é um local que pode contribuir para identificar casos, cortar cadeias de transmissão, melhorar comportamentos necessários e esta pandemia e parece-me de todo no âmbito do desporto, o desporto de formação não pode deixar de estar presente no auxilio da resolução deste importante problema social. Isto é responsabilidade de dirigentes e não se resume aos políticos.


por Aniceto do Carmo






8.11.2020

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