Quando o Sporting, claramente uma das melhores equipas de Portugal, não consegue ganhar esta época um único jogo na FIBA Europe Cup, a quarta competição da Europa ao nível de clubes, fica tudo dito relativamente ao estado do nosso basquetebol atual. E o pior é que o nível qualitativo não só não evoluiu como ainda regrediu em relação ao que já tivemos há alguns anos atrás.
Mas
afinal, o que ditou este cenário? Simples: o amadorismo que continua a
caracterizar o basquetebol nacional em todas as suas componentes. Hoje, vejo um
jogo da nossa Liga e constato que o nível organizativo dos clubes e dos jogos,
enquanto verdadeiro espetáculo para o público, é hoje mais amador do que na
década de oitenta!
Defendo
então o regresso ao profissionalismo? Claro que sim! Mas há algum país que seja
forte numa determinada modalidade sem ser verdadeiramente profissional nessa
mesma modalidade? Não! Ninguém, seja no desporto ou noutra atividade qualquer, tem
resultados ou é verdadeiramente reconhecido pelo seu sucesso se não adotar por
ser profissional.
Podem-me dizer que já tivemos uma Liga Profissional e que a mesma faliu e foi responsável pelo fim de vários clubes! É verdade, por isso é que defendo uma Liga Profissional assente na realidade financeira do país, que exija aos clubes orçamentos realistas e que não entre na loucura do passado. A extinta Liga Profissional vivia acima das suas possibilidades, os clubes idem aspas, daí o colapso a que assistimos.
Numa
altura em que de discute o número de equipas participantes na Liga do próximo
ano, parece-me evidente que seria muito mais útil, e lógico, se retomássemos a
discussão de um eventual modelo profissional para a principal competição
portuguesa ao nível de clubes.
O
que temos hoje é uma aberração! Que modelo é este que contempla algumas equipas
com estruturas profissionais, casos do Benfica, Sporting e Porto, com algumas
sem- profissionais e ainda outras completamente amadoras? Há clubes que não têm
condições para se tornarem profissionais, há treinadores que têm uma outra
atividade profissional principal e há jogadores que trabalham e que só
conseguem treinar à noite? Há! Claro que há, mas se não têm condições ou
simplesmente não querem ser profissionais, simples, competem na Proliga!
Só
podemos evoluir quando tivermos os mais diversos agentes da modalidade cem por
cento dedicados à modalidade. E não me refiro só a jogadores e treinadores. Por
exemplo, é inacreditável ver a qualidade organizativa dos jogos ou verificar
que não existem momentos de espetáculo nos «time outs»! É penoso ver pavilhões
onde no inverno está mais frio do que no exterior e é ridículo ver os próprios
dirigentes a fazerem de speaker ou a limparem o piso quando um jogador cai.
A
Federação fez um excelente trabalho ao transmitir os jogos na internet de
várias competições que organiza, mas precisa de exigir mais aos clubes da Liga.
É necessário trabalhar áreas como o marketing, por exemplo, e, repito, voltar a
discutir um formato de campeonato em que só pode participar quem tem
efetivamente condições para ser profissional. Está na hora de deixarmos de
«brincar» ao basquetebol! Como é possível que Espanha, estando aqui ao lado,
continue sem servir absolutamente de nada como exemplo a seguir?
Pedro
Neves
(Jornalista
entre 1999 e 2009)
4-4-2021