Fazer regressar o profissionalismo? Sim, claro! - por Pedro Neves

Quando o Sporting, claramente uma das melhores equipas de Portugal, não consegue ganhar esta época um único jogo na FIBA Europe Cup, a quarta competição da Europa ao nível de clubes, fica tudo dito relativamente ao estado do nosso basquetebol atual. E o pior é que o nível qualitativo não só não evoluiu como ainda regrediu em relação ao que já tivemos há alguns anos atrás.

Mas afinal, o que ditou este cenário? Simples: o amadorismo que continua a caracterizar o basquetebol nacional em todas as suas componentes. Hoje, vejo um jogo da nossa Liga e constato que o nível organizativo dos clubes e dos jogos, enquanto verdadeiro espetáculo para o público, é hoje mais amador do que na década de oitenta!

Defendo então o regresso ao profissionalismo? Claro que sim! Mas há algum país que seja forte numa determinada modalidade sem ser verdadeiramente profissional nessa mesma modalidade? Não! Ninguém, seja no desporto ou noutra atividade qualquer, tem resultados ou é verdadeiramente reconhecido pelo seu sucesso se não adotar por ser profissional.


Podem-me dizer que já tivemos uma Liga Profissional e que a mesma faliu e foi responsável pelo fim de vários clubes! É verdade, por isso é que defendo uma Liga Profissional assente na realidade financeira do país, que exija aos clubes orçamentos realistas e que não entre na loucura do passado. A extinta Liga Profissional vivia acima das suas possibilidades, os clubes idem aspas, daí o colapso a que assistimos.

Numa altura em que de discute o número de equipas participantes na Liga do próximo ano, parece-me evidente que seria muito mais útil, e lógico, se retomássemos a discussão de um eventual modelo profissional para a principal competição portuguesa ao nível de clubes.

O que temos hoje é uma aberração! Que modelo é este que contempla algumas equipas com estruturas profissionais, casos do Benfica, Sporting e Porto, com algumas sem- profissionais e ainda outras completamente amadoras? Há clubes que não têm condições para se tornarem profissionais, há treinadores que têm uma outra atividade profissional principal e há jogadores que trabalham e que só conseguem treinar à noite? Há! Claro que há, mas se não têm condições ou simplesmente não querem ser profissionais, simples, competem na Proliga!

Só podemos evoluir quando tivermos os mais diversos agentes da modalidade cem por cento dedicados à modalidade. E não me refiro só a jogadores e treinadores. Por exemplo, é inacreditável ver a qualidade organizativa dos jogos ou verificar que não existem momentos de espetáculo nos «time outs»! É penoso ver pavilhões onde no inverno está mais frio do que no exterior e é ridículo ver os próprios dirigentes a fazerem de speaker ou a limparem o piso quando um jogador cai.

A Federação fez um excelente trabalho ao transmitir os jogos na internet de várias competições que organiza, mas precisa de exigir mais aos clubes da Liga. É necessário trabalhar áreas como o marketing, por exemplo, e, repito, voltar a discutir um formato de campeonato em que só pode participar quem tem efetivamente condições para ser profissional. Está na hora de deixarmos de «brincar» ao basquetebol! Como é possível que Espanha, estando aqui ao lado, continue sem servir absolutamente de nada como exemplo a seguir?

Pedro Neves  

(Jornalista entre 1999 e 2009)

4-4-2021



 




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