A analogia entre basquetebol e a química
não é nova e encontra particular significado nas ações ofensivas, quando tentamos
explicar as mesmas a partir das moléculas.
O objetivo do ataque é claro: encontrar
vantagens e explorá-las, recorrendo as regras /conceitos ou ações básicas
(átomos). Se tem vantagens, então usa-as, se não tem vantagem, cria-a com uma
nova ação.
Por definição, uma molécula é uma entidade eletricamente neutra, composta por dois ou mais átomos do mesmo elemento ou elementos diferentes, unidos por uma ligação. As exceções são todos os metais e os gases raros que se constituem por átomos de um único elemento.
Considerando os conceitos ou ações
como os átomos, então o tipo de ligação (mais fechada – por
jogada – ou mais aberta – por conceitos) e as interações que originam
vão condicionar o tipo de moléculas (estruturas ou soluções ofensivas) que
formam.
Cada nova combinação de elementos
(átomos) cria uma nova estrutura
molecular (novo ataque).
Portanto, o foco está no tipo de
ligação que estão na base das interações. No caso das ligações fechadas,
os jogadores ficam condicionados a formar sempre o mesmo tipo de moléculas (as
“jogadas” ou “coreografias”). Quando os jogadores estabelecem ligações
abertas, então podem formar diferentes moléculas (diferentes soluções).
No primeiro caso, os jogadores executam
independentemente do contexto. No segundo caso, os jogadores interpretam a situação
para tomarem a melhor decisão, com base no conceito: “Find” - “Use” – “Create” ou “Detetar” – “Usar” – “Criar”.
COMO
ATACA O SPORTING?
Uma das moléculas mais utilizadas pelo Sporting
tem apenas um átomo (monoatómico): o jogo de 1x1 (Iso).
No ataque, o Sporting deteta rapidamente
as vantagens (“Find”) e, como as tem,
procura logo tirar partido das mesmas (“Use”).
Assim, com Travante Williams ou James Elisor, na posse da bola,
joga muitas vezes direto, fazendo apelo à técnica e criando a vantagem
necessária para concretizar. Jogam direto e de forma eficaz, sem necessidade de
“coreografias” mais ou menos complicadas, porque raramente as defesas conseguem
defender de forma coletiva.
É sabido que a molécula de água tem dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio. A molécula agora utilizada pelo Sporting tem também dois átomos elementares (Mudança lado da bola + 1x1).
Contudo, temos de ter em atenção que se
reduzirmos o jogo de 5x5 apenas ao 1x1, o mesmo perde significado e deixa de
ser basquetebol, cuja lógica interna aponta para um jogo coletivo de invasão.
Assim, o atacante deve tentar jogar 1x1 a
pensar nos colegas e com estes a reagirem simultaneamente (afinal o 1x1 não
é jogo individual) e se não conseguir vantagem, deve criar uma situação de
1x1+1 e, assim, entramos na álgebra molecular do basquetebol, continuando a jogar.
Nas imagens, Ellisor não consegue
vantagem no 1x1 e dá mais um passe (a quem tenha vantagem e que pode lançar ou passar),
e pode continua a ser útil (fica, corta para o lado bola, corta para o lado contrário,
afasta-se da bola, vai á mão, faz bloqueio direto ou indireto). No jogo real,
pode dar um passe de apoio a um companheiro e continuar a jogar, receber a bola
novamente.
Atacar
sempre …
Chegar a jogar com bloqueio direto
lateral é o que fazem quase todas as equipas na LCB e o Sporting não foge da regra.
Na transição, usam o conceito «Early Offense Molecules» onde
combinam diferentes átomos (jogadores) para ganharem vantagens rápidas,
normalmente com apenas dois jogadores.
“Early offense“ ou “Chegar a jogar” faz parte da transição ofensiva e significa atacar rápido, continuando a jogar com ataques curtos, se não se consegue resolver no contra-ataque.
O átomo forma-se e dá lugar SPR (“Side Pick & Roll” - Bloqueio Directo
Lateral) para criar esta molécula (“Early offense”).
Em átomo, os jogadores podem realizar diferentes ações, se lhe for
possível, primeiro, e capaz, segundo, de estabelecerem diferentes ligações com
outro átomo, formando moléculas e, neste caso, amplia-se a vantagem com
movimentos simples.
Nas imagens Diogo Ventura e João Fernandes jogam 2x2 com a opção da ligação
“pop out”, para lançamento exterior.
A mesma molécula monoatómica (bloqueio direto) é também chamada à ação no
ataque de posição (no meio ou na lateral).
No passado, Chuck Daily treinador dos Detroit Pistons disse que: “as
equipas na defesa estão preparadas para defenderem a primeira ação, mas
dificilmente defendem a segunda …”.
O Sporting usa o ataque “Veer”,
que não é mais do que a combinação de duas moléculas (um novo conceito
de jogo): uma joga bloqueio direito,
enquanto a outra molécula joga o bloqueio indireto, ao mesmo tempo. Neste
momento, estamos na esfera da “célula” ou de várias “células” a jogar
em simultâneo e as equipas tornam-se “organismos multicelulares” (2x2 + 2x2
+ 1x1; …).
Este mesmo movimento pode ser executado com uma molécula com a ligação de dois átomos (BD+BI, leia-se bloqueio direto e bloqueio indireto). Isto é, o jogador que faz o bloqueio inicial continua e faz depois um bloqueio indireto para libertar o lançador.
ATAQUES
COM MAIS ÁTOMOS
O que faz sentido é que numa molécula (formada
por vários átomos) caibam 2/3 átomos (ação / combinações). Não adianta
complicar a “coreografia”, o importante é ler a defesa e reagir em
conformidade. Ou seja, é necessário ler e escrever, leia-se executar, o ataque
logo que tenha sido detetada a vantagem.
MOLÉCULAS DE
DOIS ÁTOMOS
Tomemos outros exemplos de ataques com
dois átomos:
FLIP
+ GET
O ataque chegar a jogar com entrada de
bola à mão, seguida de bloqueio direto.
PITCH
+ GO
Entrada igual com Bola à mão para o jogador central.
Recebe e ataca diretamente o cesto aproveitando o espaço livre (“gaps”).
As equipas escolhem os átomos em função
dos jogadores que têm.
MOLÉCULAS DE 3 ÁTOMOS
Um exemplo de molécula com 3 átomos: swing (muda lado bola), down (Bloqueios indiretos)
e flip (bola à mão).
Mudança do lado da bola.
Bloqueios indiretos para os lançadores.
“Flip” entrada da bola á mão (DHO).
A partir daqui, explora-se o que dá o
jogo.
MOLÉCULAS FORMADAS POR LIGAÇÕES FECHADAS
Para exemplificar a situação dos sistemas fechados, seguem três exemplos do que poderia ser parte de uma listagem de moléculas
ofensivas realizadas, por uma das equipas da LPB.
A terminologia inglesa encontra aqui razão por que a maioria dos jogadores são estrangeiros e porque os monossílabos facilitam a comunicação.
- # SHUFLE + DHO + SPR + MUDA LADO BOLA + DHO + DRIVE E ASSISTE
- # ENTRADA PASSE 14 + BI + DHO + BI5 + ISOLA 5
- # BI + BD + FLEX + DHO + IN
CONCLUSÃO
Para concluir, a organização do jogo de equipa
far-se-á sempre com ligações “químicas de átomos” (conceitos ou ações) e o tipo
de ligação/interação que estabelecem (fechada ou aberta) dará lugar a moléculas
diferentes (sem possibilidade de se adaptarem ou com possibilidade de detetarem
– usarem – criarem) e estas diferentes moléculas formarão “células” e sistemas
diferentes.
Os sistemas baseados em moléculas
formadas através de ligações de átomos (conceitos ou ações) abertas tornam-se
abertos e complexos. Os sistemas baseados em moléculas formadas por
ligações de átomos (conceitos ou acções) fechadas têm tendência para serem
fechados e complicados.
Os jogadores ensinados a jogar com base
em ligações abertas têm a possibilidade de desenvolver a sua inteligência para
o jogo e adaptarem-se. O contrário, ensinar com base nas “coreografias”
(ligações fechadas) e preocupados em “chegar ao fim” das mesmas cria um basquetebol
sem capacidade de se adaptar, pouco criativo, previsível, monótono e pouco
atrativo.
Que tipo de ligações “químicas” são
desejadas no ensino do jogo?
Bibliografia
(Radiuathletics, 2017; Torralba, 2021; Vilaplana,
2020)
Radiuathletics. (2017). Early Offense: Three-Player
Molecules. Retrieved May 9, 2021, from
http://radiusathletics.com/early-offense-three-player-molecules
Torralba, J. (2021). Baloncesto por Moleculas. Retrieved May
9, 2021, from https://www.youtube.com/watch?v=G4gsbwhoiPU&t=139s
Vilaplana, J. (2020). Cómo Construir una Metodología
Cognitiva: “del papel a la pista.” Retrieved May 9, 2021, from
https://www.youtube.com/watch?v=Kt2Mupgr7aE
por Mário Silva
13-05-2021