A Química do SPORTING – por Mário Silva

 

A analogia entre basquetebol e a química não é nova e encontra particular significado nas ações ofensivas, quando tentamos explicar as mesmas a partir das moléculas. 

O objetivo do ataque é claro: encontrar vantagens e explorá-las, recorrendo as regras /conceitos ou ações básicas (átomos). Se tem vantagens, então usa-as, se não tem vantagem, cria-a com uma nova ação.


Por definição, uma molécula é uma entidade eletricamente neutra, composta por dois ou mais átomos do mesmo elemento ou elementos diferentes, unidos por uma ligação. As exceções são todos os metais e os gases raros que se constituem por átomos de um único elemento.

Considerando os conceitos ou ações como os átomos, então o tipo de ligação (mais fechada – por jogada – ou mais aberta – por conceitos) e as interações que originam vão condicionar o tipo de moléculas (estruturas ou soluções ofensivas) que formam.

Cada nova combinação de elementos (átomos) cria uma nova estrutura molecular (novo ataque).

Portanto, o foco está no tipo de ligação que estão na base das interações. No caso das ligações fechadas, os jogadores ficam condicionados a formar sempre o mesmo tipo de moléculas (as “jogadas” ou “coreografias”). Quando os jogadores estabelecem ligações abertas, então podem formar diferentes moléculas (diferentes soluções).

No primeiro caso, os jogadores executam independentemente do contexto. No segundo caso, os jogadores interpretam a situação para tomarem a melhor decisão, com base no conceito: “Find” - “Use” – “Create” ou “Detetar” – “Usar” – “Criar”.

 

COMO ATACA O SPORTING?

Uma das moléculas mais utilizadas pelo Sporting tem apenas um átomo (monoatómico): o jogo de 1x1 (Iso).


No ataque, o Sporting deteta rapidamente as vantagens (“Find”) e, como as tem, procura logo tirar partido das mesmas (“Use”). Assim, com Travante Williams ou James Elisor, na posse da bola, joga muitas vezes direto, fazendo apelo à técnica e criando a vantagem necessária para concretizar. Jogam direto e de forma eficaz, sem necessidade de “coreografias” mais ou menos complicadas, porque raramente as defesas conseguem defender de forma coletiva.

Com a mesma ideia (isolar Travante ou Ellissor), se a bola não está nas mãos dos dois norte americanos, a equipa cria (“Create “) condições para isolar e atacar com o 1x1 a 45º, com a ação de mudar rapidamente o lado da bola. 





É sabido que a molécula de água tem dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio. A molécula agora utilizada pelo Sporting tem também dois átomos elementares (Mudança lado da bola + 1x1).

Contudo, temos de ter em atenção que se reduzirmos o jogo de 5x5 apenas ao 1x1, o mesmo perde significado e deixa de ser basquetebol, cuja lógica interna aponta para um jogo coletivo de invasão.

Assim, o atacante deve tentar jogar 1x1 a pensar nos colegas e com estes a reagirem simultaneamente (afinal o 1x1 não é jogo individual) e se não conseguir vantagem, deve criar uma situação de 1x1+1 e, assim, entramos na álgebra molecular do basquetebol, continuando a jogar.






Nas imagens, Ellisor não consegue vantagem no 1x1 e dá mais um passe (a quem tenha vantagem e que pode lançar ou passar), e pode continua a ser útil (fica, corta para o lado bola, corta para o lado contrário, afasta-se da bola, vai á mão, faz bloqueio direto ou indireto). No jogo real, pode dar um passe de apoio a um companheiro e continuar a jogar, receber a bola novamente.

Atacar sempre …

Chegar a jogar com bloqueio direto lateral é o que fazem quase todas as equipas na LCB e o Sporting não foge da regra.

Na transição, usam o conceito «Early Offense Molecules» onde combinam diferentes átomos (jogadores) para ganharem vantagens rápidas, normalmente com apenas dois jogadores.

Early offense“ ou “Chegar a jogar” faz parte da transição ofensiva e significa atacar rápido, continuando a jogar com ataques curtos, se não se consegue resolver no contra-ataque.






O átomo forma-se e dá lugar SPR (“Side Pick & Roll” - Bloqueio Directo Lateral) para criar esta molécula (“Early offense”).

Em átomo, os jogadores podem realizar diferentes ações, se lhe for possível, primeiro, e capaz, segundo, de estabelecerem diferentes ligações com outro átomo, formando moléculas e, neste caso, amplia-se a vantagem com movimentos simples.

Nas imagens Diogo Ventura e João Fernandes jogam 2x2 com a opção da ligação “pop out”, para lançamento exterior.

A mesma molécula monoatómica (bloqueio direto) é também chamada à ação no ataque de posição (no meio ou na lateral).


No passado, Chuck Daily treinador dos Detroit Pistons disse que: “as equipas na defesa estão preparadas para defenderem a primeira ação, mas dificilmente defendem a segunda …”.

O Sporting usa o ataque “Veer, que não é mais do que a combinação de duas moléculas (um novo conceito de jogo):  uma joga bloqueio direito, enquanto a outra molécula joga o bloqueio indireto, ao mesmo tempo. Neste momento, estamos na esfera da “célula” ou de várias “células” a jogar em simultâneo e as equipas tornam-se “organismos multicelulares” (2x2 + 2x2 + 1x1; …).

 



Este mesmo movimento pode ser executado com uma molécula com a ligação de dois átomos (BD+BI, leia-se bloqueio direto e bloqueio indireto). Isto é, o jogador que faz o bloqueio inicial continua e faz depois um bloqueio indireto para libertar o lançador.

 

ATAQUES COM MAIS ÁTOMOS

O que faz sentido é que numa molécula (formada por vários átomos) caibam 2/3 átomos (ação / combinações). Não adianta complicar a “coreografia”, o importante é ler a defesa e reagir em conformidade. Ou seja, é necessário ler e escrever, leia-se executar, o ataque logo que tenha sido detetada a vantagem.


MOLÉCULAS DE DOIS ÁTOMOS

 

Tomemos outros exemplos de ataques com dois átomos:

FLIP + GET

O ataque chegar a jogar com entrada de bola à mão, seguida de bloqueio direto.



Esta molécula é criada com dois átomos: bola à mão (DHO) e bloqueio direto (BD). A partir daqui o ataque joga o que a defesa lhe dá. Os jogadores devem ler a defesa tentando descobrir as vantagens, sem ter necessidade de realizar a “jogada” até ao fim.

 

PITCH + GO


Entrada igual com Bola à mão para o jogador central.


Recebe e ataca diretamente o cesto aproveitando o espaço livre (“gaps”).

As equipas escolhem os átomos em função dos jogadores que têm.

 

MOLÉCULAS DE 3 ÁTOMOS

 

Um exemplo de molécula com 3 átomos: swing (muda lado bola), down (Bloqueios indiretos) e flip (bola à mão).

Mudança do lado da bola.

Bloqueios indiretos para os lançadores.

“Flip” entrada da bola á mão (DHO).

A partir daqui, explora-se o que dá o jogo.

 

MOLÉCULAS FORMADAS POR LIGAÇÕES FECHADAS

 

Para exemplificar a situação dos sistemas fechados, seguem três exemplos do que poderia ser parte de uma listagem de moléculas ofensivas realizadas, por uma das equipas da LPB.

A terminologia inglesa encontra aqui razão por que a maioria dos jogadores são estrangeiros e porque os monossílabos facilitam a comunicação.

  • # SHUFLE + DHO + SPR + MUDA LADO BOLA + DHO + DRIVE E ASSISTE
  • # ENTRADA PASSE 14 + BI + DHO + BI5 + ISOLA 5
  • # BI + BD + FLEX + DHO + IN

 

CONCLUSÃO

Para concluir, a organização do jogo de equipa far-se-á sempre com ligações “químicas de átomos” (conceitos ou ações) e o tipo de ligação/interação que estabelecem (fechada ou aberta) dará lugar a moléculas diferentes (sem possibilidade de se adaptarem ou com possibilidade de detetarem – usarem – criarem) e estas diferentes moléculas formarão “células” e sistemas diferentes.

Os sistemas baseados em moléculas formadas através de ligações de átomos (conceitos ou ações) abertas tornam-se abertos e complexos. Os sistemas baseados em moléculas formadas por ligações de átomos (conceitos ou acções) fechadas têm tendência para serem fechados e complicados.

Os jogadores ensinados a jogar com base em ligações abertas têm a possibilidade de desenvolver a sua inteligência para o jogo e adaptarem-se. O contrário, ensinar com base nas “coreografias” (ligações fechadas) e preocupados em “chegar ao fim” das mesmas cria um basquetebol sem capacidade de se adaptar, pouco criativo, previsível, monótono e pouco atrativo.

Que tipo de ligações “químicas” são desejadas no ensino do jogo?

 

Bibliografia

(Radiuathletics, 2017; Torralba, 2021; Vilaplana, 2020)

Radiuathletics. (2017). Early Offense: Three-Player Molecules. Retrieved May 9, 2021, from http://radiusathletics.com/early-offense-three-player-molecules

Torralba, J. (2021). Baloncesto por Moleculas. Retrieved May 9, 2021, from https://www.youtube.com/watch?v=G4gsbwhoiPU&t=139s

Vilaplana, J. (2020). Cómo Construir una Metodología Cognitiva: “del papel a la pista.” Retrieved May 9, 2021, from https://www.youtube.com/watch?v=Kt2Mupgr7aE


por Mário Silva

13-05-2021






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