Para que servem as RODAS COMUNICATIVAS? – por Mário Silva e Filipe Talaia

Mahlo (1969) introduziu a ideia que o protagonista da tomada de decisão durante o jogo era o jogador.

O treino cognitivo passou a ser uma necessidade não só pela tomada de decisão e criatividade associada, mas também pela incerteza que o contexto provoca. A criatividade passou a ser determinante os desportos coletivos, no qual os praticantes têm muitas oportunidades de colaboração e o desafio da oposição.



Como tal, tornou-se evidente a importância de o treinador ensinar e o praticante aprender a tomar decisões, mas como fazer isso acontecer na prática?

Para pormos em prática a ideia de que o protagonista é o jogar (quem joga são os jogadores), a ideia da tomada de decisão, a ideia da criatividade, a ideia da incerteza e a ideia da integração de tudo isto com a técnica e o trabalho físico, por exemplo, necessitamos de exercícios com características provoquem esta integração.

Antes de avançarmos, as rodas comunicativas, apresentam as seguintes possibilidades:

1. Criação de hábitos e automatismos técnico táticos

As rodas não devem inibir a tomada de decisão autónoma, nem a espontaneidade. Reagir a companheiros e adversários.

2. Finalizações num contexto real sem e com oposição

A realização de rodas com e sem defesa permitem finalizações diferentes, em contexto real ou próximo do jogo.

3. Trabalho de tomada de decisões

4. Variabilidade, criatividade e imaginação

As rodas comunicativas necessitam em grande parte da criatividade e da imaginação do treinador. O que quer trabalhar? Exemplo: integração da preparação física com as rodas comunicativas, diferentes soluções, número de companheiros e oposição … a tomada de decisão determinada pelo ataque ou em função da reação do defesa.

5. Adaptabilidade ao nível dos jogadores, orientadas ou abertas em função do que queremos trabalhar.

Do mais simples ao mais complexo. Bola á mão, bloqueios indiretos, diretos ... Estruturas fechadas.

6. Evitar transferência negativa. Evitar situações descontextualizadas.

Fundamental para o trabalho de ligações com a recuperação defensiva, não cair em situações de jogo completamente irreais que tornavam as rodas sem sentido.

7. Cuidar dos detalhes. Priorizar os conteúdos.

São fundamentais os detalhes. Não sobrecarregar com informação.

O que é fundamental na tarefa.

Por exemplo evitar os deslocamentos laterais no ataque, não se movem da mesma forma que os defesas.

8. Semi liberdade. Uteis para o jogo de conceitos.

Rodas abertas, mas que respeitem as regras do jogo por conceitos, que variam em função da idade e do nível dos jogadores.

9. Ligar as situações de jogo. Ligar com balanço defensivo no lado contrário. Mudança de Chip.

Ligar as rodas comunicativas com recuperação defensiva ou situações de jogo reduzido no campo contrário, sem saber quem defendes ou com quem atacas. Por exemplo 4x0 em ambas os meios-campos com regras do jogo por conceitos. Não fazer 2 penetrações do mesmo lado, ligar ações técnico táticas, (cortes a 45º), sem possibilidade de lançamento. Ao sinal os portadores da bola decidem com quem querem atacar no cesto contrário (Mudança de Chip). Objetivo: jogo sem drible 202, limite tempo, comunicação defensiva.

10. Combinar estruturas fechadas com tática individual.

Tarefas com imprevisibilidade. Ensinar a pensar.

11. Valorizar a predisposição jogadores

Muitas vezes substituímos os exercícios típicos de volume de lançamento por rodas de lançamento comunicativas. Sem deixar via livre para a passividade.

 

As RODAS COMUNICATIVAS COMO TAREFAS INTEGRADORAS

Qual a sua utilidade no treino?

A comunicação tática define-se como “conjunto de termos e mensagens que fazem referência a princípios ou situações de jogo que permitem aos jogadores terem uma forma de entendimento comum e facilitadora do jogar desejado” (Efficientfootball, 2020).

A comunicação tática tem como fim a aprendizagem do jogador, através do desenvolvimento da consciência e da sua capacidade para perceber e distinguir as diferentes situações de jogo, ocorridas num determinado contexto (as situações simuladoras preferenciais).

Assim, uma comunicação tática eficaz potenciará a capacidade dos jogadores para resolverem uma situação de forma eficaz, sem perda de qualidade e relacionamento entre quem a executa.

As rodas comunicativas são exercícios que pretendem simular o jogo. O treinador deve ajudar a sua equipa e jogadores que treina a aprenderem a interpretar constantemente o que acontece, em cada momento do jogo.

Fundamentalmente, trata-se dos jogadores aprenderem a identificar as necessidades que se criam em cada espaço que ocupam e executem comportamentos adequados, para criar situações de finalização.

As situações de finalização criadas serão tanto melhores quanto satisfaçam as seguintes condições:

  • Superioridade numérica (“somos mais”);
  • Posicionamento adequado (“estamos melhor colocados);
  • Socioafetivo (“desta forma relacionamo-nos melhor);
  • Dá qualidade ao jogar (“somos melhores) (Efficientfootball, 2020).

A melhoria da qualidade tática do jogador verificar-se-á na medida em que sejam conscientes e percebam a intenções táticas dos seus companheiros e, desta forma, consigam comunicar melhor e, consequentemente, melhorem a interação.

Treinador tem de conhecer os jogadores. Hábitos técnicos e táticos. Onde podemos chegar.

Fazendo uma transferência do ciclo de aprendizagem para a aquisição de novas habilidades técnicas ou táticas por um jogador, este é um processo composto por 4 níveis de consciência (Vargas, 2017, p. 201).

  1. Incompetência inconsciente: O jogador não tem a habilidade, nem é consciente desse facto;
  2. Incompetência consciente: O jogador não tem a habilidade adquirida, no entanto já se deu conta e começa a mobilizar-se para aprendê-la. Agora terá de aprender como realizar a habilidade de forma eficaz e bem-sucedida;
  3. Competência consciente: O jogador mobiliza-se ainda mais e faz o esforço necessário para aprender, começando a adquirir a destreza;
  4. Competência inconsciente: Nível de conhecimento sobre a habilidade é avançado e esta atividade já não o estimula de forma que já não requer demasiada atenção. A ação já sai de forma automatizada;


O nível de conhecimento de jogo e a experiência são chaves para que o jogador consiga enfrentar a incerteza e conseguir respostas adequadas a cada situação.

A utilização das rodas comunicativas para integrar o trabalho técnico com o trabalho tático e otimizar o trabalho de tomada de decisões tem muitas vantagens:

  • Permite que o jogador tenha maior facilidade para reconhecer a situação de jogo e aperceber-se de uma maior variedade de respostas motoras (individuais e coletivas) organizadas em alternativas sucessivas para a sua execução, baseadas em diferentes critérios de eleição, segundo o contexto de jogo e as suas possibilidades.
  • Permitirá que o jogador seja capaz de influenciar o jogo de forma inteligente e, deste modo, aumentar a sua motivação.
  • Os jogadores serão capazes de antecipar respostas motoras que são as mais apropriadas e sentir-se-á mais cómodo na sua execução.
  • Reduzir a dificuldade de execução, onde os praticantes usarão apenas a energia necessária para obter o resultado pretendido (perante a oposição adaptada).
  • Ajudará o jogador a centrar a sua atenção e identificar as fases e os momentos do jogo e as zonas chaves do campo.
  • Os hábitos emergirão de a capacidade dos jogadores lerem os sinais e recordar a experiência vivida anteriormente. Colaborarão no sentido de aplicar a resposta que mais eficazmente resolve o problema colocado pela oposição.
  • Permite que os jogadores vivam de forma controlada a situação de jogo que o treinador pretende.
  • Este tipo de exercícios são uma forma de aproximação à realidade complexa do jogo, no qual o jogador tenta, erra e aprende a reconhecer o problema e a eleger as melhores opções.
  • As rodas comunicativas têm um impacto positivo no desenvolvimento da capacidade de pensar o jogo e potenciam a aprendizagem da leitura de estímulos. Os treinadores têm de ensinar os seus praticantes a observar e a descobrir as suas próprias soluções se querem que a aprendizagem seja efetiva e significativa.
  • Concretamente no treino, podem ter grande utilidade no início do treino, pela exigência que coloca sobre os jogadores ao nível da atenção (aos comportamentos dos companheiros, ao posicionamento da bola, à tomada de decisão prévia) exigindo-lhes um elevado nível de prontidão o que os obriga a comunicar, desde o primeiro momento.

EXEMPLOS DE RODAS COMUNICATIVAS

# 1 - 2x0 penetração e movimento sem bola círculo

Atacante 01 com bola penetra para o meio, o atacante 2 sem bola ajusta a sua posição de forma que um defensor não possa defender os dois atacantes, para isso ocupa a posição a 45º.

O atacante 02 sem bola deve manter-se com bons ângulos de visão, cumprindo a regra do círculo, rodando no sentido da penetração.

O atacante 01 depois de passar abre no perímetro e recebe a bola de 03 para lançar.

 

 # 2 - 2x0 WING + 45º

O atacante 01 com bola no meio penetra, 02 a 45º ajusta a posição cortando para o canto (cumprindo a regra do círculo).

Depois de passar, o atacante 01 abre no perímetro e recebe o passe de 2 para lançar exterior ou penetrar.

O atacante 01 penetra pelo lado contrário de 02 que ajusta a posição cortando para o meio (regra círculo, roda no sentido do drible).

O atacante 01 assiste para 02 e corta para o canto.

O atacante 02 passa a 01 que lança no perímetro ou penetra em drible.


# 3 - 2x0 Bola canto

O atacante 01 penetra pela linha final. O atacante 02 ajusta a posição cortando para o canto. O atacante 01 passa a 02 e abre no perímetro a 45º. O atacante 02 passa a 01 que lança do perímetro ou penetra em drible.

Jogador no canto com bola penetra linha final/meio. O jogador sem bola reage respeitando a regra círculo. Após passe, 01 abre no perímetro (realocar/ recolocar) abrindo nova linha passe e ataca o lado contrário de onde vem a bola (a bola vem da esquerda …ataco pela direita).

Fundamental não perder agressividade e atacar o cesto. Trabalho de passes reais. Onde está o defesa? Treinador faz de defesa. Após passe, jogar com mudanças de ritmo.


# 4 -  SPACING + Fixar defesa + passe extra (dois lançamentos)

Variante: Depois do passe extra + bola á mão. O atacante 01 penetra para o meio, 02 ajusta, corta canto (regra círculo). O atacante 01 passa a 02, 01 abre no perímetro (recoloca) e recebe de 02 para lançar. Fora de campo e com bola, o jogador 03 passa a 02 que lança.

 

# 5 -  Spacing, anti círculo. Penetração linha final + atacar lado contrário.

Depois bola á mão,” Timming“

O atacante 01 penetra linha final. O atacante 02 ocupa o canto (regra anti círculo). 01 passa a 02 e abre no meio. O atacante 02 passa a 01 que lança ou penetra. Nesse momento, o atacante 03 joga drible e bola á mão com 02.

 

 # 6 - 3x0 Passe extra

Penetração (centro/linha final) soltam a bola e depois fazem passe extra ou bola á mão em drible.

Penetração de 01 pelo meio e 02 e 03 reagem ajustando posições perímetro (regra círculo). 01 passa a 2 e abre fora (recoloca). 02 passa a 03 (extra passe) e 03 lança ou entrega a bola em drible á mão a 03.


O atacante 01 penetra linha final e assiste 03 no canto. 02 ajusta a posição no perímetro e recebe de 03.

 

 # 7 - 3x0 circulo e anti círculo

O jogador 01 penetra para a linha final. O jogador no meio 02 e o 03 (45º) movimenta-se em função das regras círculo e anti círculo. Os penetradores 01 e 02 após passe continuam a jogar.

No jogo real 01 ou 02 depois de passar podem:  recolocar ou cortar para outra posição livre no perímetro.

Quando 01 ou 02 saem a recolocar o mais natural é que os seus defesas fiquem na área pintada relaxando a posição. Por isso, se 01 ou 02 voltarem a receber têm boas hipóteses de resolver o 1x1.

O exercício funciona em dois blocos combinação de 01, 02 e com 05 e outro bloco com 02, 03 e com 04, com lançamentos no canto de 01 e 03.

Passe de segurança ao jogador do meio 02 que se move para 45º.

O atacante 02 recebe e ataca o lado contrário pelo centro, seguindo com movimento sem bola dos restantes jogadores.

O atacante 02 passa ao canto a 03 e lança. O passador 02 volta ao meio e recebe de 04 para lançar.

O primeiro jogador, 01 movimenta-se em círculo e recebe a 45º da fila central 05.

 

Concluindo, não sendo possível ensinar tudo e ao muito menos ao mesmo tempo, o treinador tem de construir o “caminho” adequado e personalizado para os seus praticantes. Para tal, deve estar munido de conhecimento e métodos que estimulem e permitam a aprendizagem dos jogadores à sua responsabilidade.

As rodas comunicativas são um método representativo, entre outros, que o treinador deve usar para simplificar a complexidade do jogo e a realidade da competição.

Trata-se de uma proposta de estímulo motor e cognitivo (desenvolvimento da capacidade de antecipação, atenção e memória de trabalho) vantajoso para o processo de ensino aprendizagem. Este método permite que os jogadores consigam reconhecer a situação de jogo através da simplificação, sem reduzir (mantendo os elementos essenciais da lógica interna do jogo).

Aplicando rodas comunicativas em treino, os praticantes têm a possibilidade de se aperceberem-se de uma maior variedade de possibilidades de respostas motoras e de tomadas de decisão. Para os praticantes, esta melhoria da perceção será útil para a melhoria do entendimento e conhecimento do jogo, com efeitos positivos na sua prestação em contexto competitivo.

 

Referências Bibliográficas

Efficientfootball. (2020). Como utilizar las SSP (situaciones simuladoras preferenciales) en una tarea de entrenamiento de fútbol. Acedido a 2 de maio de 2021. https://www.efficientfootball.com/ssp-situaciones-simuladoras-preferenciales/

Mahlo, F. (1969). L’ Acte Tactique en jeu. Paris: Vigot Freres Editeurs.

Vargas, F. (2017). El Entrenamiento en los deportes de equipo. Barcelona: Biocorp Europa.


por Mário Silva e Filipe Talaia

30-05-2021



 

 


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