Os nossos jovens são iguais aos outros… - por Mário Silva


Os Talentos apresentam determinadas características, que lhes permitem resolver facilmente os problemas que o jogo lhes coloca, usando os gestos técnicos corretos, no tempo certo.

Alguns dos talentos ficam-se pelos escalões de formação já que têm um avanço maturacional em relação à sua idade. Ou seja, há que distinguir o avanço maturacional dos talentos, em que os primeiros dominam na formação, mas não florescem na competição. O texto que se segue, não tem a ver com o avanço maturacional, mas sim com os talentos.

É, pois, necessária uma visão mais abrangente, para perceber a razão de tal avanço. Ninguém pode garantir que o “campeão” de hoje será o “campeão” de amanhã. Poderemos, contudo, inferir que o jovem talentoso terá elevadas possibilidades de ser um futuro “campeão”, com o devido empenho, dedicação e estímulos adequados.

Ao contrário do basquetebol, muitas modalidades detetam muito cedo os talentos. Tive conhecimento em Évora da “contratação” de um jovem futebolista de 8 anos, por parte de um grande de Lisboa.

Através das suas competências e nas quais se inclui o bom senso, o treinador pode influenciar directamente o desempenho dos atletas, promovendo os respectivos talentos desportivos ou, pelo contrário, pode fazê-los abandonar precocemente a modalidade e o desporto.

Numa fase inicial, é de vital importância oferecer às crianças atividades simples, alegres e motivadoras. Nas fases de desenvolvimento seguintes, o treinador avalia, reformula e melhora constantemente o seu desempenho, de forma a poder responder adequadamente às exigências desportivas do jovem talento, para que no tempo da especialização, o jovem a assuma consciente e decididamente o jogo.

Obviamente não chega ter aptidão especial para o desporto. Há uma relação directa entre treino a longo prazo e talento desportivo.

No basquetebol, o modelo mais utilizado para detetar crianças e jovens com talento é feita através da observação em situação de competição, um procedimento com um certo grau de subjetividade e de empirismo e, em muitos casos, tardio. Obviamente o recurso a metodologias mais desenvolvidas poderiam ajudar neste trabalho.


Roko foi bom, mas Luka vai ser melhor.

O jovem Luka Ukić (nascido em 2010), é filho do croata Roko Leni Ukić, um antigo jogador profissional.

O pai Ukić teve uma carreira brilhante em vários países:

Quando tinha apenas quatro anos, o filho Roko Ukic já dava mostras de ter sido abençoado com o talento do pai.  O site “Eurohoops” documentou num vídeo o jovem a lançar com incrível pontaria, revelando uma “mão quente” perante o orgulho do pai.


Fonte: Eurohoops TV (2015)

Agora com 11 anos, Luka manipula a bola de forma fluida como poucos, tem grande visão de jogo, é criativo nos passes e toma muitas e boas decisões em jogo.

Fonte: Silva (2021b)

Roko foi um excelente lançador, mas sem dúvida, o filho Luka vai ser um melhor “atirador”. Herdou todos os seus genes, é um talento e promete dar continuidade ao nome Ukić.

 

O novo Iverson.

Os norte americanos fazem “rankings” de quase tudo e o basquetebol não foge á regra.

O jovem Kamden Thompson já referenciado desde 2019, aparece agora no “Top 5”, nacional. Aluno do 5º ano de escolaridade (5th Grader) já com direito a “nickname” (“WHITE IVERSON”), domina como poucos os fundamentos do jogo.

Fonte: Silva (2021c)

“Não me enganei e raramente tenho dúvidas “

Recentemente, tive oportunidade de trabalhar com treinadores e jovens da Associação de Basquetebol do Alentejo e fui agradavelmente surpreendido pelo nível de jogo apresentado por alguns jovens SUB 10.

Não resisti á tentação e resolvi dar um treino particular, a um deles, com o tema do “Passo Zero”. O registo do filme mostra claramente que mais uma vez: “não me enganei e raramente tenho dúvidas “.

Fonte: Silva (2021a)

 

Aprender rápido e cedo

Muitos autores reafirmam que é muito mais fácil ensinar o “Passo Zero” aos jovens praticantes. Na verdade, como conclui do treino com um SUB 10, aprendem rápido e bem, ao contrário da maioria dos mais velhos que já têm os gestos mecanizados, o que os obriga a mudarem radicalmente os padrões motores e a terem de se adaptar e aprender os fundamentos de novo.

Assim, ensinar cada vez mais cedo e com uma proposta metodológica coerente facilita a aprendizagem.

Uma progressão metodológica possível da regra do “Passo Zero” será:

  1. Ensinar o controlo da bola (0) em movimento sem parar de correr.
  2. Trabalhar o controlo da bola com o (os) pés no solo através de situações facilitadoras.
  3. Treinar as finalizações antes das saídas em drible.
  4. Treinar o “passo 0“ a partir do drible, antes de a partir do passe.
  5. Treinar situações de campo aberto (01 e dribla) antes das situações de jogo posicional.

 

A oposição é um factor positivo.

Como o número de atletas inscritos, no basquetebol, nesta região (Alentejo) é diminuto, alguns treinadores optam por colocar estes SUB 10 a treinarem e a jogarem em SUB 12 e em SUB 14.

O seu desempenho confirma o que Jaime Sampaio escreveu recentemente:

“A dose certa de competição em patamares de maior rendimento acelera a aprendizagem, consciencializa e motiva. É uma experiência que se conquista com rendimento e esforço”. 

Ao serem confrontados com uma outra realidade desportiva os jovens são obviamente solicitados a um ponto que os leva a atingir um grau superior de desenvolvimento.

Com bem diz o Prof. Jorge Araújo:

“O conhecimento neurocientífico básico e a própria filosofia do comportamento já concluíram que, desde que nascemos, os nossos cinco sentidos são pró-activos perante tudo o que os rodeia, intervindo como um todo. E que consoante sejam gradualmente maiores os desafios com que nos confrontamos, mais nos desenvolvemos de um ponto de vista das nossas cinco inteligências, respectivamente, mental, físico, emocional, espiritual e social."

Apoiados e incentivados pelos pais e treinadores, estes jovens alentejanos não nasceram obviamente mais ou menos talentosos do que os exemplos citados anteriormente. Foram sim simplesmente mais e melhor "desafiados".

 

O fantasma da especialização precoce

Claro está que alguns dos que me leem vão contra-argumentar com os perigos da denominada especialização precoce. Mais uma vez recorro ao Prof. Jorge Araújo que muito sabe e ensina a quem está apto a aprender

“A propósito do debate que ainda persiste ao redor dos perigos contidos na especialização precoce no nosso minibasquete, tenho a acrescentar o seguinte.

Enquanto licenciado em educação física e ex-treinador profissional de basquetebol, agora a concluir na Universidade de Coimbra um doutoramento na área do comportamento humano, diria que deixou (há muito!) de fazer sentido treinar meramente a anatomia das nossas crianças e jovens. Muito menos insistir em abordagens exclusivamente analíticas ou lúdico recreativas, quando afinal se trata simplesmente de ensinar a jogar basquetebol dentro dos parâmetros pedagógicos e educativos que as idades dos 8 aos 12 anos assim justificam.

Está hoje assumido a nível científico e filosófico que toda e qualquer aprendizagem desportiva deve acontecer em busca da aquisição de uma sabedoria comportamental global.

No fundo, o que na linguagem dos treinadores significa, “aprender a jogar, jogando”.

 

Concluindo, da mesma forma que as flores brotam nos diferentes países, também os talentos no basquetebol podem nascer em diferentes países e, claro, também em Portugal podem florescer jovens talentos basquetebolistas, desde que tenham atributos físicos, mentais, sociais e motivacionais e sejam "regados" com estímulos de treino e competição adequados ao seu florescimento.

 

Webgrafia

Eurohoops TV. (2015). Like father, like son - Roko Leni Ukic and junior. Retrieved December 1, 2021, from https://www.youtube.com/watch?time_continue=22&v=BIzPgOrIQMo&feature=emb_logo

Silva, M. (2021a). Guilherme 9 anos. Retrieved December 1, 2021, from https://www.youtube.com/watch?v=Gzdi8xql8xw

Silva, M. (2021b). Meet Luka Ukić 2010, son of Roko Leni Ukić That ball handling fluidity with the ball, court vis. Retrieved December 1, 2021, from https://www.youtube.com/watch?v=inFGQN_0TjQ

Silva, M. (2021c). WHITE IVERSON IS A PROBLEM!! 5th Grader Kamden Thompson Highlights from the T3TV Combine! Retrieved December 1, 2021, from https://www.youtube.com/watch?v=47p0DiJOW6E

 

por Mário Silva

1-12-2021










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