O Processo de Treino: da formação à alta competição – por João Silva (Juca)

Na minha participação no Fórum dos Treinadores da Madeira, através da apresentação de uma comunicação subordinada ao tema: “O Processo de Treino: da formação à alta competição”, realcei a importância deste preceito, substancialmente numa perspetiva de confrontação de propostas concretas relativas ao domínio sobre a otimização do desenvolvimento do processo em causa.

Evidentemente que a complexidade do tema, em associação com o tempo previsto para a sua discussão, não permitiu avanços significativos e imediatos. Daí que, uma das sugestões apresentadas no decurso dessa comunicação, visando considerar esta temática como prioritária no progresso desportivo, foi criar momentos de conferência e debate, efetivando assim o registo de ideias e críticas provenientes da comunidade que intervém, direta ou indiretamente, na evolução do processo de treino.


“A Formação dos Formadores”

A responsabilidade na concretização de um processo de treino bem-sucedido compete sobretudo a quem lidera esse percurso. É um compromisso assumido perante um grupo de elementos, leia-se atletas, que manifesta o desejo de aprender com quem orienta as suas ações e naturais ambições.

No que diz respeito ao trabalho desenvolvido na Formação de atletas, a realidade revela que, na maioria das situações, quem lidera o processo apresenta naturais fragilidades na intervenção/instrução relativa ao controlo dos conteúdos. Esta condição deve-se ao facto destes treinadores encontrarem-se numa fase inicial da sua formação e, naturalmente, não apresentarem a vivência suficiente, para lidarem com muitos dos aspetos, que condicionam a relação treinador/atleta. Então, torna-se indubitável que os “Formadores dos formadores”, aqueles que conquistaram uma visão mais sofisticada sobre a causa em questão - evolução/orientação do processo de treino, direcionem o seu conhecimento, em função das necessidades observáveis, para os treinadores que têm como responsabilidade, em muitos casos excessiva e precoce, lidar diariamente com a Formação de atletas.

Influenciar positivamente o desenvolvimento sustentado do percurso que nos leva da formação à alta competição exige uma dedicação eficaz, na orientação dos treinadores da formação, de modo ininterrupto, permitindo assim a sua continuada aprendizagem relativamente aos aspetos inerentes ao ensino dos conteúdos e da relação entre sujeito e tarefa que daí advém: aprender a ensinar. Neste âmbito, seria pertinente considerar as seguintes questões:

  • Como conseguir que os treinadores jovens conquistem a aptidão para revelarem uma imprescindível e amadurecida visão integral do processo em que estão envolvidos, em vez de promoverem ambições de caracter pessoal e, com isso, pretenderem evidenciar-se através dos jovens com quem trabalham;
  • Como conseguir que observem e acompanhem com a ponderação necessária, a evolução gradual dos seus atletas e equipas, estimulem os seus progressos e sejam tolerantes perante as suas naturais regressões periódicas;
  • Como levá-los a aditar saber à vivência inicial dos jovens nas suas rudimentares experiências de participação num jogo coletivo onde, as situações com que se deparam não acontecem uma de cada vez, mas sim interpenetram-se e alteram-se a cada momento;
  • Que capacidade demonstram no seu relacionamento com os jovens, tendo em conta que a sua influência vai muito além do elementar ensinamento dos conteúdos técnicos, preparando-os em simultâneo para o aperfeiçoamento das suas aptidões físicas e psíquicas e de formação de habilidades e conhecimentos úteis no desenvolvimento do processo de treino, beneficiando assim a sua integração futura na alta competição;
  • Que forma encontramos para que entendam que a liderança dos jovens atletas requer, mais do que uma capacidade reprodutiva de ações, uma excelência do carácter criador de situações especificamente adaptadas a cada uma das realidades formativas.
A apreciação dos Formadores de jovens atletas é complexa tendo em conta o conjunto alargado de questões que merecem uma permanente consideração, na perspetiva de, em cada momento, encontrar as soluções adequadas ao eficaz desempenho da sua intervenção.

Algumas considerações devem ser respeitadas para que os treinadores de jovens possam demonstrar motivação adequada, através do seu relacionamento com os atletas:

  • É importante criar vias de reconhecimento público dos treinadores dos escalões de formação;
  • Facultar-lhes formação e informação pedagógica e metodológica, tendo em conta uma convincente preparação dos jovens;
  • Manter um acompanhamento sustentado em princípios de orientação: quem coordena os formadores de jovens atletas deve evidenciar um claro domínio da matéria, prevendo assim uma otimização do processo de desenvolvimento. Orientar significa patrocinar a criação de situações essenciais de ensino/aprendizagem, sem ambicionar com isso um cumprimento rígido de conteúdos. A flexibilidade na criação de ações especificas deve ser uma das características dos treinadores de jovens;
  • Mais do que quantificar o desempenho dos treinadores de jovens - quantos títulos conquistou, quantas “estrelas” tem na sua equipa de formação..., é vital avaliar a qualidade do seu trabalho, inserindo-a num contexto de processo evolutivo. Só assim podemos perspetivar um percurso bem-sucedido entre a Formação e a Alta Competição. 

Com os avanços conseguidos no âmbito das ciências da educação, os treinadores foram concluindo que, em vez de partirem de um “programa” a ensinar, importava sobretudo preocuparem-se com o jovem em si mesmo, adaptando-o gradualmente àquilo que se pretendia instruir.

Esta medida estimula uma espontânea preocupação, relativamente ao cumprimento de atitudes que visem regular a autopreparação, responsabilizando-os para a procura individual e coletiva do saber e respetivo aperfeiçoamento pessoal. Daí que, a formação do jovem é basicamente sustentada na manifestação de situações reais do jogo, sendo este o primeiro tema de ensino para os treinadores: “Onde” e “Como” se joga, utilidade dos Fundamentos do jogo através do domínio do controlo da bola, do corpo e do espaço, e “Quando” utilizar os gestos básicos.

A imprescindível necessidade de aperfeiçoamento pessoal assume capital significado, no encadeamento do processo de treino, uma vez que cada situação de jogo não é estanque, pois ela encontra-se em permanente mutação, provocada pela oposição dos adversários. Neste sentido, a visão, perceção, análise e solução mental e motora efetuadas pelos jogadores em cada momento requerem alterações contínuas, quer de um ponto de vista qualitativo quer quantitativo.

Podemos então admitir que: o trabalho relativo aos elementos Técnicos do jogo - Fundamentos - não pode ser entendido como uma parcela independente do conceito Tático. Ambas constituem uma Unidade em função de se condicionarem e influenciarem reciprocamente. Por conseguinte, o processo de treino deve ser interpretado como um todo, assegurado por um conjunto de etapas inseparáveis onde, em cada uma delas deve existir uma definição estrutural e funcional para que se possa compreender a metodologia global do percurso ambicionado até à alta competição.

Referi inicialmente na minha comunicação que este era um tema complexo, para o qual devemos sistematicamente estabelecer vias de correspondência entre a comunidade de treinadores que, por exigência de funções, lhes faculte a necessidade para reciclarem com alguma frequência a atualização do seu conhecimento. Na realidade, a problemática do tema em causa deve ser vista como fator de motivação de novos conceitos: quem deixar de aprender deixa naturalmente de ter condições para ensinar.

Este é naturalmente um processo dinâmico que requer a utilização de estratégias metodológicas diferenciadas, que sejam capazes de atender às diversas necessidades e ritmos de aprendizagem. Se não houver a sensibilidade suficiente para compreender esta constatação então, poderemos aceitar que:

Tão perturbante como a inexistência da figura do treinador dos treinadores é a presença de treinadores que não admitem ser treináveis.

Termino fazendo referência a uma expressão do professor Jorge Araújo que, pela reflexão a que nos obriga, explica concisamente a importância do percurso desenvolvido da Formação à Alta Competição.

Se quem joga são os jogadores e não os treinadores, muito mais importante que os treinadores pensarem que sabem muito de basquetebol, é que os jogadores, a treinar e a jogar, demonstrem estar gradualmente a assimilar o conhecimento que os treinadores lhes transmitem diariamente a dois níveis:

  • no âmbito do comportamento/atitude que têm de evidenciar face ao jogo (treino/competição);
  • ao nível dos fundamentos do jogo.

por João Silva (Juca)

20-11-2022








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