Na minha participação no Fórum dos Treinadores da Madeira, através da apresentação de uma comunicação subordinada ao tema: “O Processo de Treino: da formação à alta competição”, realcei a importância deste preceito, substancialmente numa perspetiva de confrontação de propostas concretas relativas ao domínio sobre a otimização do desenvolvimento do processo em causa.
Evidentemente que a complexidade do tema, em associação com o tempo previsto para a sua discussão, não permitiu avanços significativos e imediatos. Daí que, uma das sugestões apresentadas no decurso dessa comunicação, visando considerar esta temática como prioritária no progresso desportivo, foi criar momentos de conferência e debate, efetivando assim o registo de ideias e críticas provenientes da comunidade que intervém, direta ou indiretamente, na evolução do processo de treino.
“A Formação dos Formadores”
A responsabilidade na concretização de um processo de treino bem-sucedido compete sobretudo a quem lidera esse percurso. É um compromisso assumido perante um grupo de elementos, leia-se atletas, que manifesta o desejo de aprender com quem orienta as suas ações e naturais ambições.
No que diz respeito ao trabalho desenvolvido na Formação de atletas, a realidade revela que, na maioria das situações, quem lidera o processo apresenta naturais fragilidades na intervenção/instrução relativa ao controlo dos conteúdos. Esta condição deve-se ao facto destes treinadores encontrarem-se numa fase inicial da sua formação e, naturalmente, não apresentarem a vivência suficiente, para lidarem com muitos dos aspetos, que condicionam a relação treinador/atleta. Então, torna-se indubitável que os “Formadores dos formadores”, aqueles que conquistaram uma visão mais sofisticada sobre a causa em questão - evolução/orientação do processo de treino, direcionem o seu conhecimento, em função das necessidades observáveis, para os treinadores que têm como responsabilidade, em muitos casos excessiva e precoce, lidar diariamente com a Formação de atletas.
Influenciar positivamente o desenvolvimento sustentado
do percurso que nos leva da formação à alta competição exige uma dedicação
eficaz, na orientação dos treinadores da formação, de modo ininterrupto, permitindo
assim a sua continuada aprendizagem relativamente aos aspetos inerentes ao
ensino dos conteúdos e da relação entre sujeito e tarefa que daí advém:
aprender a ensinar. Neste âmbito, seria pertinente considerar as seguintes
questões:
- Como conseguir que os treinadores jovens conquistem a aptidão para revelarem uma imprescindível e amadurecida visão integral do processo em que estão envolvidos, em vez de promoverem ambições de caracter pessoal e, com isso, pretenderem evidenciar-se através dos jovens com quem trabalham;
- Como conseguir que observem e acompanhem com a ponderação necessária, a evolução gradual dos seus atletas e equipas, estimulem os seus progressos e sejam tolerantes perante as suas naturais regressões periódicas;
- Como levá-los a aditar saber à vivência inicial dos jovens nas suas rudimentares experiências de participação num jogo coletivo onde, as situações com que se deparam não acontecem uma de cada vez, mas sim interpenetram-se e alteram-se a cada momento;
- Que capacidade demonstram no seu relacionamento com os jovens, tendo em conta que a sua influência vai muito além do elementar ensinamento dos conteúdos técnicos, preparando-os em simultâneo para o aperfeiçoamento das suas aptidões físicas e psíquicas e de formação de habilidades e conhecimentos úteis no desenvolvimento do processo de treino, beneficiando assim a sua integração futura na alta competição;
- Que forma encontramos para que entendam que a liderança dos jovens atletas requer, mais do que uma capacidade reprodutiva de ações, uma excelência do carácter criador de situações especificamente adaptadas a cada uma das realidades formativas.
Algumas considerações devem ser respeitadas
para que os treinadores de jovens possam demonstrar motivação adequada, através
do seu relacionamento com os atletas:
- É importante criar vias de reconhecimento público dos treinadores dos escalões de formação;
- Facultar-lhes formação e informação pedagógica e metodológica, tendo em conta uma convincente preparação dos jovens;
- Manter um acompanhamento sustentado em princípios de orientação: quem coordena os formadores de jovens atletas deve evidenciar um claro domínio da matéria, prevendo assim uma otimização do processo de desenvolvimento. Orientar significa patrocinar a criação de situações essenciais de ensino/aprendizagem, sem ambicionar com isso um cumprimento rígido de conteúdos. A flexibilidade na criação de ações especificas deve ser uma das características dos treinadores de jovens;
- Mais do que quantificar o desempenho dos
treinadores de jovens - quantos títulos conquistou, quantas “estrelas” tem na
sua equipa de formação..., é vital avaliar a qualidade do seu trabalho, inserindo-a
num contexto de processo evolutivo. Só assim podemos perspetivar um percurso bem-sucedido
entre a Formação e a Alta Competição.
Com os avanços conseguidos no âmbito das ciências da educação, os treinadores foram concluindo que, em vez de partirem de um “programa” a ensinar, importava sobretudo preocuparem-se com o jovem em si mesmo, adaptando-o gradualmente àquilo que se pretendia instruir.
Esta medida estimula uma espontânea preocupação, relativamente ao cumprimento de atitudes que visem regular a autopreparação, responsabilizando-os para a procura individual e coletiva do saber e respetivo aperfeiçoamento pessoal. Daí que, a formação do jovem é basicamente sustentada na manifestação de situações reais do jogo, sendo este o primeiro tema de ensino para os treinadores: “Onde” e “Como” se joga, utilidade dos Fundamentos do jogo através do domínio do controlo da bola, do corpo e do espaço, e “Quando” utilizar os gestos básicos.
A imprescindível necessidade de aperfeiçoamento pessoal assume capital significado, no encadeamento do processo de treino, uma vez que cada situação de jogo não é estanque, pois ela encontra-se em permanente mutação, provocada pela oposição dos adversários. Neste sentido, a visão, perceção, análise e solução mental e motora efetuadas pelos jogadores em cada momento requerem alterações contínuas, quer de um ponto de vista qualitativo quer quantitativo.
Podemos então admitir que: o trabalho relativo aos elementos Técnicos do jogo - Fundamentos - não pode ser entendido como uma parcela independente do conceito Tático. Ambas constituem uma Unidade em função de se condicionarem e influenciarem reciprocamente. Por conseguinte, o processo de treino deve ser interpretado como um todo, assegurado por um conjunto de etapas inseparáveis onde, em cada uma delas deve existir uma definição estrutural e funcional para que se possa compreender a metodologia global do percurso ambicionado até à alta competição.
Referi inicialmente na minha comunicação que este era um tema complexo, para o qual devemos sistematicamente estabelecer vias de correspondência entre a comunidade de treinadores que, por exigência de funções, lhes faculte a necessidade para reciclarem com alguma frequência a atualização do seu conhecimento. Na realidade, a problemática do tema em causa deve ser vista como fator de motivação de novos conceitos: quem deixar de aprender deixa naturalmente de ter condições para ensinar.
Este é naturalmente um processo dinâmico que
requer a utilização de estratégias metodológicas diferenciadas, que sejam
capazes de atender às diversas necessidades e ritmos de aprendizagem. Se não houver
a sensibilidade suficiente para compreender esta constatação então, poderemos
aceitar que:
Tão
perturbante como a inexistência da figura do treinador dos treinadores é a
presença de treinadores que não admitem ser treináveis.
Termino fazendo referência a uma expressão do professor Jorge Araújo que, pela reflexão a que nos obriga, explica concisamente a importância do percurso desenvolvido da Formação à Alta Competição.
Se quem
joga são os jogadores e não os treinadores, muito mais importante que os treinadores
pensarem que sabem muito de basquetebol, é que os jogadores, a treinar e a
jogar, demonstrem estar gradualmente a assimilar o conhecimento que os
treinadores lhes transmitem diariamente a dois níveis:
- no âmbito do comportamento/atitude que têm de evidenciar face ao jogo (treino/competição);
- ao nível dos fundamentos do jogo.
por João Silva (Juca)
20-11-2022
#basquetebol #basketball #ideiasparaobasquetebol #baquetebolqueconta #juntosvamosmaislonge #basquetebolasuamedia #basquetebol5estrelas #basquetebolcomideias