No desporto norte-americano. principalmente no universitário, existe um conceito dificil de traduzir para português, mas que considero muito interessante: "Coaching Tree" (McKeon, 2018).
Estas palavras, que significam algo como
a “Árvore
do Treinador “, dizem
respeito a uma espécie de árvore genealógica dos treinadores principais em
relação aos seus auxiliares que, posteriormente, se tornam primeiros
treinadores e assim por diante, criando uma espécie de relação de
ancestralidade entre os treinadores que se influenciam uns aos outros, através
de seus ensinamentos e exemplo.
Esta “árvore” tem diferentes ramos, que indicam a influência de alguns treinadores sobre outros, não sendo essa relação sempre a de treinador principal com a de adjunto.
Johm Wooden influênciou com o exemplo.
Esta relação de ascendência de alguns treinadores é muito acentuada nos EUA onde o respeito e gratidão pelo passado são uma constante.
Sem a menor dúvida, John Wooden, UCLA
(figura 1), foi o treinador
mais influente do século passado.
Em 2009, a revista Sporting News
(“Sporting
News’ 50 Greatest Coaches,” 2009) publicou uma lista dos 50 melhores
treinadores de todos os tempos e John Wooden foi eleito o maior da
história do desporto norte-americano.
Depois de se reformar, após 42 anos como
treinador, passou os 34 anos seguintes a escrever livros, a dar
palestras e a influenciar treinadores de todo o mundo.
Os treinadores que procuram um mentor podem aprender muito com John Wooden
um dos maiores treinadores da história do basquetebol.
Na UCLA, venceu o campeonato da NCAA por 10 vezes, no período de 1964 a 1975, com uma grande variedade de jogadores, sem que os seus princípios tenham sido alterados.
John Wooden foi igualmente influenciado por três treinadores (figura 2), cada um deles contribuiu significativamente para a sua formação como treinador, nomeadamente no que ensinava e como ensinava.
Wooden treinou gerações de
jogadores ensinando os fundamentos do basquetebol, a disciplina, a paciência e
o trabalho de equipa. Ao mesmo tempo que influenciou também a vida de muitos
treinadores com o seu exemplo
Os muitos discipulos do coach “K”.
Mais recentemente Michael
William Krzyzewski, mais conhecido por "Coach K", foi
referência, para treinadores de todo o mundo.
A “árvore” deste treinador faz parte da história da NCAA, juntamente com os títulos nacionais conquistados e o número recorde de vitórias na prova.
Duke
Basketball on Instagram 2007.
A lista de seguidores do coach “K”, (figura 3), é vasta e entre outros contempla: David Henderson trabalha no “scouting” dos Cleveland Cavaliers; Tommy Amaker é o actual treinador principal da Universidade de Harvard; Quin Snyder é técnico do Utah Jazz; Johnny Dawkins, depois de liderar a Universidade de Stanford de 2008 a 2016, agora treina a Universidade da Flórida Central; Billy King foi “G.M” dos Philadelphia 76ers e dos New Jersey/Brooklyn Nets; Danny Ferry foi “GM” dos Cavaliers e Atlanta Hawks e New Orleans Pelicans. O atual “GM” dos Sixers é Elton Brand, que jogou em Duke no final dos anos 90. Mike Dunleavy Jr. é assistente de “G.M.” dos Golden State Warriors, enquanto Shane Battier é consultor dos Miami Heat.
Bobby Hurley, um base dominante de Duke no início dos anos 90, é o técnico principal do Arizona State; Grant Hill é proprietário minoritário dos Hawks; e Trajan Langdon é GM dos Pelicanos. Mike Brey, treinador principal do Notre Dame desde 2000, é ex-assistente de Krzyzewski. Outros treinadores universitários que jogaram no Duke pelo Coach K incluem Jeff Capel (Pitt), Chris Collins (Northwestern), Kenny Blakeney (Howard) e Greg Paulus (Niagara).
O sucessor do técnico” na Universidade de Duke é jovem Jon Scheyer,
que jogou para Krzyzewski.
A escola “Jugoslava” e a escola Espanhola.
Esta relação de ascendência
de alguns treinadores sobre outros é muito acentuada nos EUA, mas também ocorre
na Europa, onde o cenário de trabalho é um pouco diferente.
No basquetebol europeu são reconhecíveis várias “Coaching Tree” com
o basquetebol da antiga Jugoslávia e da Espanha a terem papel importante:
• Aleksander 'Asa' Nikolic unanimemente considerado
o pai do basquetebol jugoslavo e, portanto, do sérvio, do esloveno, do croata, do
montenegrino e bósnio, teve como adjuntos, no passado, em clubes ou
selecções nacionais, Mirko Novosel, Ranko
Zeravica
e, mais recentemente, Bozidar Maljkovic, Bogdan Tanjevic, Dusan Ivkovic,
Svetislav Pesic e Zeljko Obradovic, todos eles são campeões europeus, em diferentes clubes ou selecções nacionais.
É impressionante como Nikolic, (figura 4), conseguiu influenciar tantos treinadores que moldaram o basquete europeu durante décadas.
• Aíto García Reneses a maior referência do
basquetebol espanhol continua a influenciar treinadores.
Num passado recente acompanharam o Mestre Aito, (figura 5) no banco: Sito Alonso, Israel
González, Manel Comas Joan Plaza, Carles Durán ou
Joan Montes entre muitos outros.
E em Portugal qual é a principal “Coaching Tree”?
Ao longo de vários anos, o professor Mário Lemos ensinou a jogar um número incontável de grandes jogadores.
Com ele, aprendi a gostar da
modalidade, a dar importência aos fundamentos técnicos e que, independente do número
de jogadores e das condições atmosféricas, tinhamos sempre treino. Muitas vezes
treinávamos ao ar livre com ou sem chuva.
O Prof. Mário Lemos, (Figura 6), foi um dos maiores
educadores do basquetebol nacional, com grande
prestígio internacional, introduziu o
Minibásquete em Portugal quando era professor no Colégio Militar.
Recordo com saudade os seus torneios-convívio, onde dei os primeiros passos
como treinador. Para surpresa de muitos o Professor aceitava nos seus torneios
equipas mistas e equipas constituídas por jovens de clubes diferentes.
O Prof. Eduardo Monteiro, também meu ex-treinador, resume bem a
importância que teve do Professor, em todos nós treinadores, “Mário
Lemos, foi o Professor, o educador, o grande Mestre que todos nós escutámos,
respeitámos e procurámos imitar nos mais pequenos pormenores” (“Prof.
Mário Lemos faria hoje 86 anos,” 2008).
O Mestre dos Mestres
Para esse efeito, a equipa foi reforçada com um jogador norte-americano com grande currículo no basquetebol universitário (Seabern Hill).
A equipa era constituída
por três figuras: o internacional José Alberto (recentemente falecido), Joaquim
Carlos e Armando Simões, a quem se juntaram vários talentos mais jovens onde eu
estava incluído.
Essa época marcou
claramente a minha carreira de jogador e de treinador. Avançado no tempo, o Prof.
Teotónio Lima, figura
7, marcou muitas gerações de treinadores e naturalmente a mim também.
O Mestre dos Mestres Prof. Teotónio Lima não foi excepção e
também ele seguiu o treinador norte-americano Claire Bee, Figura 8:
“Eu tive de aprender a fazer, tive de procurar os modelos a
seguir e tive de treinar a execução de todas as técnicas do basquetebol. Para o
conseguir passei a consultar a bibliografia que vinha dos Estados Unidos, em
especial os livros de Clair Bee, treinador da Universidade
de Long Island, que nos esclareciam sobre todos os aspectos
fundamentais das técnicas e das tácticas do basquetebol” (Lima, 2014).
No final da década de 1960 o Prof. Jorge Araújo, Figura 9, começou a deslocar-se com regularidade a Espanha, onde em Salamanca assistiu a um Clinic dirigido por Ed Jucker que o marcou para toda a carreira.
Amigo de Aito, cedo entendeu que na Catalunha a
modalidade tinha outra expressão.
Ao longo dos anos, sempre foi o meu mentor, confidente, professor, guia,
ouvinte e um solucionador de problemas até aos dias
de hoje
Conclusão
Os Professores Mário Lemos, Teotónio
Lima e Jorge Araújo tinham em comum a capacidade de nos ouvirem, mesmo que nós
soubéssemos que não era fácil chegar a eles.
Faziam perguntas, incentivavam a que encontrássemos as nossas próprias
respostas dando não só “feedbacks” positivos, como também críticas
construtivas.
Nem sempre me diziam o que queria ouvir, mas sempre foram honestos e diretos
comigo.
Não me restam dúvidas da necessidade dos treinadores continuarem a procurar um
mentor que os possa ajudar a crescer, desenvolver e a atingir seu potencial
máximo.
Um bom mentor pode ajudar um treinador a
ter sucesso.
Mesmo sabendo que o número e a qualidade
dos mentores não abundam na atualidade fica aqui o desafio aos mais jovens: procurem
um Mentor.
Referências
Lima, T. (2014). De Jogador a Treinador: Um contributo
para a história do treino e da pedagogia do desporto. Visão e Contextos.
McKeon,
K. (2018). Coaching Trees: A Family Affair. Retrieved October 12, 2018, from
https://www.three-man-weave.com/3mw/2018/5/16/coaching-trees-a-family-affair
Prof.
Mário Lemos faria hoje 86 anos. (2008). Retrieved December 18, 2008, from
https://www.planetabasket.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=4270:prof-mario-lemos-faria-hoje-86-anos&catid=114:lendas-mario-lemos&Itemid=335
Sporting
News’ 50 Greatest Coaches. (2009). Retrieved August 2, 2009, from
https://pickinsplinters.com/2009/08/01/sporting-news-50-greatest-coaches/
Wooden,
J. (2005). Wooden on Leadership: How to Create a Winning Organizaion.
New York, NY, USA: McGraw-Hill.
por Mário Silva
1-11-2023
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