As dimensões ocultas do Minibasquete: uma viagem ao inesperado - por Mário Silva

 

Figura 1 - No aparentemente previsível  mundo do basquetebol , o minibasquete apresenta  uma dimensão alternativa, onde a imprevisibilidade é  a regra e a  uniformidade  a exceção. Foto FEB 2024.

Neste artigo, aventuramo-nos um pouco e procuramos explorar as profundidades deste jogo, onde a variabilidade e a singularidade reinam.

No coração do minibasquete está o seu maior tesouro: a diversidade inigualável de cada jogo, de cada equipa e de cada jogador (figura 1).

O jogo é uma obra mestra única, uma sinfonia de habilidades, estratégias e circunstâncias que se ligam numa dança improvisada.

A impossibilidade de encontrar dois jogos idênticos desafia a nossa compreensão convencional do jogo, levando-nos a abraçar a incerteza como uma fonte de riqueza.

À medida que avançamos nesta travessia, descobrimos um panorama em constante mudança, onde o jogo se transforma de maneira vertiginosa.

O minibasquete evoluciona para uma forma de arte mais exigente, onde emerge o duelo do um contra um, como protagonista principal. Aqui, as tomadas de decisões instantâneas e a agilidade mental são moeda corrente, desafiando o génio dos   jogadores em cada jogada.

Neste novo paradigma, o jogo estático, na periferia, desvanece-se, dando lugar a uma era de posses de bola curtas e transições vertiginosas.  Cada ataque é uma corrida em contrarrelógio, onde a capacidade de criar oportunidades e vantagens em situações de um contra um e tomar decisões precisas no momento certo se convertem na marca distintiva do sucesso

Em última instância, o minibasquete revela-se como um microcosmo de complexidade e diversidade, onde cada jogo é uma oportunidade para explorar novas fronteiras e desafiar os limites do possível.

O jogo constitui uma riqueza infinita de experiências e emoções, à espera de serem descobertas por  todos aqueles que estejam dispostos a aventurar-se no desconhecido.

Entramos assim no fascinante mundo da imprevisibilidade e da mudança constante. No minibasquete, como na vida, a verdadeira beleza reside na diversidade e na singularidade de cada momento.

 

Caracterizar o Minibasquete


Figura 2 - O minibasquete é um jogo dinâmico e energético, onde os jovens combinam habilidades físicas, técnicas, preceptivas e cognitivas com o objetivo de marcar pontos no aro oposto.  Foto FEB 2024.

O minibasquete é um jogo que exige dos jogadores uma combinação única de habilidades físicas e mentais (figura 2). Tomar decisões rápidas e executar movimentos precisos são elementos-chave, para o sucesso neste jogo. A capacidade de processar informações e reagir instantaneamente às diversas alternativas oferecidas pelo jogo é fundamental.

“A maioria das situações durante um jogo de basquetebol requerem dos jogadores a capacidade para tomarem boas decisões num instante de tempo muito reduzido, enquanto executam respostas motoras de forma totalmente imediata. (Camacho, 2012).

Ofensivamente, o jogo concentra-se frequentemente nas situações de 1x1, onde os jogadores devem ser capazes de tomar decisões rápidas e reagir instantaneamente às defesas adversárias. A velocidade e dinamismo do jogo resultam em poucas pausas e poucas posições estáticas. As posses de bola são curtas, com transições rápidas entre a defesa e o ataque e o uso do 1x1 é comum, para criar vantagens e desequilibrar a defesa adversária.

Para ter sucesso no minibasquete, os jogadores precisam estar confortáveis enfrentando desafios e mantendo uma atitude proativa e resiliente ao longo do jogo. A capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças no jogo e de continuar a tomar decisões assertivas sob pressão é essencial. Em resumo, o minibasquete é um jogo rápido, dinâmico e desafiador, onde a capacidade de tomar decisões e reagir rapidamente é fundamental para o sucesso.


O pensamento lateral

 

Figura 3 -  O médico maltês Edward de Bono, falecido recentemente, criou uma técnica poderosa: o pensamento lateral, que permite resolver problemas e situações de forma imaginativa usando a criatividade. Foto BBC news 2021.

O minibasquete não é apenas um jogo de habilidades técnicas e físicas, mas também um terreno fértil para o desenvolvimento do pensamento lateral. Introduzido por Edward De Bono (figura 3), no seu influente livro "New Think: The Use of Lateral Thinking" em 1967, o pensamento lateral é definido como um padrão de pensamento que diverge das abordagens tradicionais, permitindo novas perspetivas e soluções inovadoras (Lisa Institute, 2024).

Essa abordagem criativa não se limita ao mundo acadêmico ou empresarial; a sua influência estende-se ao âmbito desportivo, encontrando um lugar fundamental no minibasquete.

Evitando a lógica linear, o pensamento lateral estimula o desenvolvimento da criatividade e procura soluções indiretas para problemas comuns (The Conversation, 2024).

No minibasquete, os treinadores desempenham um papel crucial ao incentivar os jovens atletas a adotarem o pensamento lateral. Eles criam cenários de aprendizagem significativos, que promovem não só as habilidades individuais, mas também a compreensão do jogo coletivo. Em vez de imporem regras rígidas e inflexíveis, os treinadores encorajam os jogadores a serem proativos e a assumirem riscos (Lisa Institute, 2024).

Durante o calor do jogo, é fundamental que os jovens se sintam à vontade para enfrentar desafios e tomar decisões ousadas. Essa abordagem não apenas melhora o desempenho desportivo, mas também desenvolve habilidades valiosas para a vida, como resolução de problemas, tomada de decisões e trabalho em equipa.

Portanto, ao adotar o pensamento lateral no minibasquete, os treinadores preparam  os jovens não apenas para serem jogadores habilidosos, mas também para serem pensadores criativos e resolutos dentro e fora do campo. Assim, o minibasquete pode não ser apenas um jogo, mas também uma escola para a mente, onde o pensamento lateral floresce e as soluções inovadoras são desbloqueadas.

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Exercícios progressivos

Figura 4 - Para otimizar a aprendizagem dos fundamentos básicos, os treinadores adotam uma abordagem global, adaptada às necessidades individuais dos atletas.

No contexto do minibasquete (figura 4), onde o desenvolvimento cognitivo e físico dos jovens atletas é fundamental, os treinadores devem adotar uma abordagem progressiva e orientada para promover não apenas as habilidades técnicas, mas também o pensamento crítico e autonomia. Por meio de uma metodologia ativa e não diretiva, os jogadores são incentivados a explorar e descobrir, com a orientação do treinador, questionando, refletindo e executando (CEI, 2024).

Essa abordagem permite que os jogadores compreendam as razões por trás de seus erros, facilitando o processo de aprendizagem. Como destacado pelo CEI (2024), o ponto crucial do pensamento lateral não é a solução final, mas sim formular as perguntas corretas. Ao empregar métodos indutivos, os treinadores recriam cenários reais de jogo e ajustam as variáveis nos exercícios, desafiando os jogadores a tomarem decisões, serem proativos, analisarem criticamente e agirem com autonomia.

Marisa Gutiérrez, psicóloga, enfatiza a importância dos jovens não se sentirem pressionados a serem perfeitos, mas sim a aprenderem com seus erros (Revert, 2016). Nesse sentido, o treinador desempenha um papel crucial ao orientar as correções técnicas e táticas, favorecendo o pensamento lateral e formando jogadores críticos em vez de meros "autômatos".

Essa abordagem da aprendizagem guiada, conforme foi descrita por Blanco (2009), possibilita o desenvolvimento das habilidades individuais e coletivas dos jogadores, utilizando aprendizagens significativas e promovendo autonomia, por meio de uma prática intensa. Em resumo, ao adotar métodos progressivos e orientados, os treinadores no minibasquete não apenas desenvolvem habilidades desportivas, mas também cultivam pensadores críticos e autônomos, preparando os jovens atletas para desafios dentro e fora do campo.

 

# 1+ 1x1 Contra ataque

Figuras 5,6 e 7 -  Saídas de contra ataque com cesto convertido ou com conquista de ressalto.

Dois grupos de 3 e 1 treinador na linha final. Três defensores, o X3 no cesto defensivo e o X1 e o X2 na linha de lance livre. Três atacantes, 01 no cesto defensivo, 02 no meio-campo e 03 na área restritiva ofensiva. O exercício começa com X1 a realizar o lance livre, tocar na linha final e recuperar defensivamente e X2 a recuperar de imediato contornando o cone contrário; o jogador 01 vai ao ressalto e, das duas uma, se X1 marcou o lance livre, então passa ao treinador para realizar a reposição pela linha final (figura 5), recebe o 1º passe em movimento (utilizando as vantagens do passo zero), para iniciar o contra-ataque, avançando a bola em drible ou em passe para 02 se ele estiver desmarcado, que ao lance livre contorna o cone contrário e ocupa o corredor lateral e 03 abre ao lado contrário (figura 6). Se 01 tem passe para 02 e este compromete X3, 02 pode passar para 03. Ou seja, neste exercício existem muito conteúdos: recuperação defensiva, contra-ataque após ressalto ou cesto sofrido, receção do 1º passe em movimento, decidir entre progredir em passe ou drible, passe na sequência drible, penetrar lançar ou assistir, 2x1, 3x2 e 3x3.

 

# 1x1 Toca um cone

Atacante 01 recebe e não pára, 01 e dribla e sai pelo cone contrário Tomada de decisão do atacante: Lança ou finaliza ?

Figuras 8, 9 e 10 - O jogador x1 passa ao atacante 01 vai ao cone e defende .

Grupos de 2, um defensor X1 com bola e o atacante 01 sem bola no meio-campo. O jogador 01 corre para o cesto, X1 passa-lhe a bola e toca num dos cones e 01 que recebe a bola em movimento utilizando o apoio 0 e ataca sem parar o cone contrário. Neste momento, X1 recupera para defender (figura 8). Considerando que no jogo, os jogadores podem partir de posições diferentes, as figuras 9 e 10 mostram mais duas possibilidades para valorizar esta ideia de diferentes posições, sendo que o exercício é o igual.

Como sugestão, o jogo pode continuar para o cesto contrário.

 

# 2x2 com vantagens

Figuras 11 e 12  : Vantagem (JCB: jogador com bola)

Grupos de 2 jogam 2x2. O atacante 01 está a driblar e tem um cone na outra mão e, durante o drible, pode mudar o drible de mão e consequentemente o cone. O atacante 01 tem duas opções: a) driblar com o cone na mão e, neste caso, joga sem poder largar o cone; b) larga o cone e, neste caso, o defensor é obrigado a apanhar o cone e não o pode largar. Esta situação dá uma vantagem momentânea ao ataque. Se X2 não ajuda, então 01 vai para o cesto, mas se X2 ajuda, então 02 afasta-se para o canto aumentando a distância da recuperação (figura 11).

Na figura 12 está a possibilidade de fazer o mesmo exercício, mas de uma posição diferente. 

Figuras 13 e 14 - Vantagem JSB (jogador sem bola).

Grupos de 2 jogam 2x2, mas o cone está no atacante sem bola e a lógica do exercício é a mesma do anterior. Ou seja, neste caso, é o atacante 02 que decide quando larga o cone e obriga o seu defensor a apanhá-lo antes de defender. O atacante 01 com drible vivo tem de passar do drible ao jogador que corta. O jogador 01 pode estar a jogar 1x1, mas quando 02 está desmarcado, tem de lhe passar a bola. Temos o drible, o 1x1 e outros estímulos, por exemplo o corte. Na figura 14, temos o mesmo exercício mas noutra posição.

 

#3x3 com vantagens.

Figura 15 – vantagens no 3x3.

Grupos de 3 com o mesmo raciocino. O atacante 01 com bola e cone podendo jogar 1x1 ou largar o cone, construindo situações de 3x3 ou 3x2 e 02 e 03 têm de reagir aos diferentes estímulos. Por exemplo, se 01 penetra e 02 se afasta para o canto, então 03 corta.

 

# 4x4 ou 4x3+1

Figura 16 - Ataque com vantagem do JCB.

Grupos de 4 utilizam a mesma estrutura de exercício anteriormente descrita (figura 16).

 

# 5x5

Figura 17 - Atacante com bola 03 em vantagem.

Grupos de 5 utilizam a mesma estrutura de exercício anteriormente descrita (figura 17).

 

Conclusões

Como treinadores, devemos reconhecer a importância de criar um ambiente que promova a iniciativa dos jogadores, incentivando-os a correrem riscos e aprenderem com os seus erros. Devemos substituir o medo do fracasso pela compreensão de que os erros são oportunidades de crescimento, como destacado por Marisa Gutiérrez (Revert, 2016).

Além disso, é fundamental que a aprendizagem ocorra em ambientes desafiadores e próximos da realidade do jogo, estimulando assim o pensamento lateral dos jogadores. Ao enfrentarem situações complexas, eles desenvolvem a sua capacidade de encontrar soluções criativas, como foi salientado por Félix Hidalgo (Hidalgo, 2024).

Uma metodologia ativa, centrada na exploração e no descobrimento, com orientação adequada por parte do treinador, permite que os jogadores se envolvam plenamente no processo de aprendizagem. Eles compreendem não apenas o que estão a fazer, mas também por que estão a fazer e como podem melhorar, como foi destacado pelo CEI (2024).

Assim, ao adotarmos uma abordagem que valorize a iniciativa, a experimentação, o pensamento crítico e a aprendizagem em ambientes desafiadores, estaremos a capacitar os jogadores não apenas a serem melhores atletas, mas também pensadores mais criativos e resolutos dentro e fora do campo. Esta abordagem progressiva e orientada não só promove o sucesso desportivo, mas também desenvolve habilidades valiosas para a vida.

 

Bibliografia

Hidalgo, F. F. (2024). A necesidad de recrear contextosreales en el Minibasket. Obtido de Federación Baloncesto Comunidad Valenciana: www.fbcv.es

Pinel, M. (2021.). Niños con miedo a equivocarse. Guía infantil.

Revert, B. (2016). Psicología en el baloncesto: cómo apoyar al jugador/a en las etapas de formación. . Obtido de Solobasket: www.Solobasket.com

Rosa, A. (2013). La toma de decisiones en baloncesto: aplicación al balance defensivo. Obtido de Efdeportes: www.Efdeportes.com

Softtek. (2021). El Pensamiento Lateral es la nueva forma de enfocar los problemas. Softtek.

 

por Mário Silva

05-05-2024








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