O minibasquetebol é um mundo repleto de emoções, onde as crianças aprendem muito mais do que apenas os fundamentos do basquetebol. Além das habilidades técnicas, o minibasquete pode proporcionar, dependendo do trabalho do treinador, uma rica educação emocional e comportamental, ajudando os jovens atletas a desenvolverem empatia, resiliência, trabalho em equipa e “agressividade”, entre outras competências emocionais e comportamentais.
O minibasquete não é apenas sobre o jogo em si, mas sobre o desenvolvimento integral das crianças, tanto emocional, comportamental, quanto social. As emoções desempenham um papel crucial na tomada de decisões, especialmente no contexto desportivo. Os treinadores, cientes disso, frequentemente criam cenários emocionais durante os treinos e jogos, para preparar os atletas a lidarem com a pressão, a frustração e a euforia. Esse trabalho não apenas aprimora as habilidades técnicas, mas também fortalece a inteligência emocional dos jogadores, permitindo-lhes tomar decisões mais assertivas, mesmo em situações de tensão.
A “agressividade” é uma atitude
Figura 1 - O objetivo defensivo das
equipas de Minibasquete da Catalunha é serem equipas de luta, agressivas e com
técnica e, para isso, muitas usam na defesa a frase: A BOLA É NOSSA. Foto FCBQ 2024.
Este – “A BOLA É NOSSA” - é o mote para construir uma filosofia defensiva, que enfatiza uma mentalidade onde cada jogador é responsável por garantir que o adversário tenha o mínimo de oportunidades possível para marcar pontos e, para isso, nada melhor do que recuperar rapidamente a posse de bola.
Se explicarmos a um jovem jogador de 8 a
12 anos que a bola "é nossa", embora a outra equipa a tenha
agora, qual será a sua reação? A resposta é previsível: eles irão
procurar recuperar a bola. Assim, conseguimos fazer com que os mais jovens
compreendam a ideia de proatividade, de competitividade e de agressividade
defensiva que queremos fomentar.
J.L. Alderete, em seu livro Viva el caos,
reforça esse conceito defensivo:
“Não sei por que se chama defesa. O objetivo básico é recuperar a bola. Não interessa se lançaram mal ou perderam a bola, o que importa é recuperá-la. O jovem deve ter fixo na cabeça que, se não tiver a bola, deve recuperá-la o mais rápido possível. Se o defensor for ultrapassado, ele deve se recuperar e continuar defendendo. Os cinco jogadores devem estar focados na recuperação da bola. Defendemos para forçar o erro do adversário e assim recuperar a posse. A intenção dos cinco jogadores é ter a bola para poder atacar. Não devemos esperar que o adversário nos entregue a bola por um passe ruim, um drible errado ou um lançamento falho. Com esse pensamento, a agressividade geral da equipe vai aumentar” (Vincent, 2020).
Por isso, há uma diferença a sublinhar:
quando não temos a bola a ideia é esperar que o adversário nos entregue a bola
ou ser proativo a recuperação da bola. Esta ideia de proatividade na
recuperação da bola reflete a ideia de agressividade deste texto.
Para conseguir a posse de bola, a defesa
naturalmente precisa ser agressiva. A agressividade não é uma emoção em si, mas
uma atitude ou comportamento que pode ser alimentado por várias emoções, como determinação,
paixão ou até frustração. Ela manifesta-se na forma como os jogadores abordam
as tarefas do jogo, especialmente na defesa.
Um jogador determinado manifesta uma agressividade positiva, focada na recuperação da bola ao ser proativo. Por outro lado, uma agressividade negativa ou a falta dela pode levar à frustração, onde o jogador pode cometer faltas desnecessárias ou perder o controle emocional. No basquetebol, a agressividade é mais uma expressão de comportamento e atitude competitiva do que uma emoção pura, sendo essencial para desempenhos defensivos eficazes no jogo.
Cenários emocionais
O Minibasquete é um mundo de emoções onde
se aprende mais do que apenas basquetebol. Os treinadores criam, nos treinos,
cenários emocionais, que influenciam a tomada de decisões dos jovens atletas.
No trabalho defensivo, a ideia central
não se restringe apenas aos hábitos necessários para a defesa no 1x1, mas
também envolve a tomada de decisão defensiva, incentivando-a em vez de impor
rotações defensivas. O mais importante é destacar a defesa no 1x1 como o
conceito defensivo básico, sem o qual não podemos progredir.
Um exemplo disso é a adaptação de um
exercício clássico de 1x1 em três áreas diferentes, proposto por Juan Antonio
Garcia Herrero nas VII Jornadas de Formação C.B.G. 2024.
Jogos de 1x1: O defensor marca seu oponente direto e faz a rotação. Ele defende cinco vezes consecutivas e, em seguida, sai.
O
objetivo do exercício é o de avaliar a agressividade e a técnica dos atletas.
Metodologia
A metodologia utilizada leva em conta a
tomada de consciência e a avaliação compartilhada. "Tomar
consciência" refere-se ao processo pelo qual o atleta percebe,
reconhece e entende uma situação ou realidade, que antes não era notada ou
compreendida. Esse processo envolve o despertar de uma perceção crítica e o
reconhecimento da importância ou das implicações de algo. É como
"acordar" para algo que estava presente, mas não era percebido. Por
exemplo, no caso concreto do exercício, o jovem "toma consciência" de
que não está conseguindo recuperar a bola, o que é prejudicial, e decide mudar
isso.
Já a "avaliação
compartilhada" refere-se a um processo em que a análise e o julgamento
da situação defensiva proposta são realizados conjuntamente por várias partes
interessadas. Isso significa que, em vez de uma única pessoa ou entidade tomar
a decisão ou fazer a avaliação, diferentes perspetivas e conhecimentos são
considerados para chegar a um consenso ou entendimento comum. É um processo
colaborativo, onde, neste exemplo, os envolvidos são os atletas e os
treinadores, que têm voz ativa na determinação da eficácia da metodologia de
ensino.
Esses dois conceitos são importantes porque promovem a conscientização e a colaboração para alcançar objetivos comuns, neste caso, defender bem.
Figura 4 – Esta metodologia aborda a importância de estabelecer uma cultura de responsabilidade e compromisso dentro da equipa. Foto 2024.A equipa definiu que deseja ser
caracterizada por luta, agressividade e técnica. Para medir esse padrão, os
jogadores são convidados a se autoavaliar numa escala de 0 a 10,
especificamente em relação à agressividade e técnica. Quando um jogador se
avalia com uma nota baixa (como 4 ou 5), é fundamental que ele tome consciência
de que a equipa almeja ser mais combativa e técnica e que, para isso, ele
precisa melhorar o seu desempenho.
A mudança de comportamento não deve ser
motivada pelo medo de punição, mas sim pela compreensão e responsabilidade
compartilhada de que a equipa pertence a todos, e não apenas ao treinador. O
treinador desempenha um papel crucial ao ajudar os jogadores a perceberem a
necessidade de mudança e a desenvolverem comportamentos positivos, mas a
mudança em si depende do jogador.
Com o tempo, essa competência consciente
evolui, permitindo que o jogador mude seus hábitos de forma natural e
inconsciente.
A corresponsabilidade é essencial:
participar do treino e adotar atitudes e comportamentos responsáveis refletem o
comprometimento com o crescimento da equipe.
Conclusão
Recorrendo mais uma vez aos e-mails do
Professor Jorge Araújo, podemos facilmente aceitar que: “se os jovens não
estiverem suficientemente mobilizados pelo objetivo de alcançar resultados
significativos, dificilmente terão sucesso. Está bem demonstrado que somente
iniciamos o caminho do sucesso quando passamos da fase de nos querermos
divertir com uma determinada prática para a fase de nos apaixonarmos por essa atividade.
Isso significa que, enquanto as crianças "andam por ali" sem um
propósito definido além de se divertir, elas nunca evoluirão como se espera.
Portanto, cabe aos treinadores criar um contexto no Minibasquete que envolva e
entusiasme as crianças participantes. O objetivo é provocar nelas um desejo
intenso de se tornarem atletas de alto rendimento, levando-as a participar da
prática desportiva de maneira mais responsável e comprometida com o objetivo de
se tornarem atletas reconhecidos e distinguidos ao mais alto nível.
Alternativamente, é importante deixar claro que algumas dessas crianças podem
ter um futuro mais promissor em áreas acadêmicas ou artísticas, mas nunca desportivas.”
Bibliografía
VINCE,
J. L. (2020). Viva el caos:
Baloncesto en estado puro desde los 11 a los 16 años
(Spanish Edition). Autor.
HERRERO, J. A. (2024). El desarrollo de la responsabilidad en el entrenamiento del jugador. In: VII JORNADAS DE FORMACIÓN C.B.G..
ARAUJO, J. Sugestões para o treino de basquetebol. Mensagem enviada para Mário Silva, 26 ago.
2024.
por Mário Silva
07-09-2024
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