A transição das crianças de
"brincar com a bola" para "jogar Minibasquete"
depende de um ambiente de treino envolvente e desafiador, no qual o treinador
desempenha um papel fundamental. Ele deve criar condições que despertem o
interesse e a motivação das crianças, promovendo uma aprendizagem significativa,
que vá além da repetição de movimentos. É essencial integrar intensidade e
propósito no treino, além de cultivar valores como a disciplina, a responsabilidade
e a capacidade de aprender com os erros, garantindo assim o desenvolvimento
pleno dos jovens atletas.
Na iniciação ao basquetebol, o lúdico é
fundamental, mas muitos treinadores impõem cenários excessivamente regulados e
estáticos, limitando o verdadeiro jogo. Jogar à bola não é o mesmo que jogar
Minibasquete, que exige compreensão do jogo coletivo e comprometimento.
Com treinos repetitivos e pouco
desafiadores, desconectados do jogo e da intensidade da competição, a formação
dos jovens estagna. Treinadores passivos focam-se na eficácia imediata,
negligenciando a aprendizagem da competição e a adaptação ao erro.
Disciplina, responsabilidade e criação de hábitos são essenciais para o desenvolvimento dos jovens, que devem jogar de forma livre, instintiva e com regras que promovam seu crescimento.
O treinador Valentin Plaza "Moni"
clarificou, no Clinic, os dois conceitos fundamentais:
"O jogo
da bola é universal e não tem limite de idade. A iniciação desportiva deve
começar com o jogo da bola e não diretamente com o basquetebol, para que as
crianças desenvolvam um gosto natural pelo desporto. Já jogar Minibasquete
exige um compromisso total; quem não está disposto a dedicar-se completamente
deveria buscar outra atividade. A verdadeira democratização do desporto ocorre
quando todos têm a oportunidade, mas a motivação intrínseca de ser melhor, como
os grandes jogadores, é o que faz a diferença. Aqueles que realmente desejam
melhorar dedicam-se a treinar mais, passando horas praticando e provando a sua
capacidade." (Plaza, 2024).
Plaza observou que muitos jovens jogam a bola
apenas para se divertir, sem interesse em aprender. A derrota não lhes importa
e os pais só querem que joguem, sem maiores expetativas. Se têm uma viagem ou
uma festa com amigos ou família, não vão ao jogo ou faltam aos treinos. Em
contraste, quem busca crescimento verdadeiro joga basquetebol com seriedade,
encontrando espaço para se divertir e socializar, mas sempre com um propósito
competitivo em mente. Jovens motivados pelo Minibasquete ouvem atentamente o
treinador e os companheiros, aprendendo a competir de verdade.
O compromisso é uma parte essencial de jogar
Minibasquete; quem está realmente comprometido quer jogar e ganhar,
integrando-se num grupo com regras e compromisso.
Plaza enfatiza:
“que é fundamental encontrar uma
"tribo" (clube/equipa) que compartilhe as mesmas expectativas e
comprometimento”.
Se alguém não está disposto a dedicar-se
completamente, provavelmente deveria procurar outra atividade, pois o Minibasquete
exige compromisso — sem desculpas ou ausências. A ideia de tratar todos de
forma "democrática" nem sempre funciona; todos os jovens devem ter as
mesmas oportunidades, mas nem todos merecem o mesmo, pois nem todos se esforçam
igualmente. Quem não aceita o compromisso ou as regras pode acabar apenas divertindo-se
com a bola, sem levar o Minibasquete a sério, e é provável que abandone o
desporto.
Plaza também destacou:
“que o
compromisso com o Minibasquete exige motivação para treinar, seguir regras e
superar desafios, como roubar uma bola na defesa. Ele alertou que, nos tempos
atuais, a influência negativa dos pais pode desvalorizar o trabalho do clube, e
a falta de respeito e cumprimento das regras pode resultar na exclusão. No
passado, os clubes não envolviam tanto os pais, mas hoje é um desafio
equilibrar essa presença sem que prejudique o ambiente desportivo”.
Como aprendem a jogar Minibasquete?
Na
correspondência, o tema do Minibasquete, da aprendizagem e do treino são
recorrentes.
Citando
um dos últimos e-mails, de 26 de agosto de 2024:
“Como é que qualquer um de nós aprende e
treina? Sentindo, percebendo, imaginando, pensando, agindo com base num gradual
'saber do corpo' adquirido através da repetição frequente, que conduz à
aquisição dos hábitos pretendidos. Isso significa que aprendemos e treinamos
enquanto temos experiências diversas, aprendendo a fazer, fazendo. No desporto,
e particularmente no Minibasquete, esse 'saber do corpo' refere-se à aquisição
de habilidades motoras e cognitivas por meio da repetição constante. Quando as crianças
repetem ações como driblar, passar e lançar, essas ações tornam-se hábitos.
Este processo, chamado de 'incorporação', é como o corpo 'aprende' e automatiza
movimentos, permitindo que, com o tempo, essas ações sejam realizadas de forma
mais fluida e eficiente. Mas não é só isso! Se não estivermos altamente
mobilizados pelo objetivo de alcançar resultados significativos, dificilmente
teremos sucesso. Está hoje bem demonstrado que apenas iniciamos o caminho do
sucesso quando ultrapassamos a fase de querer apenas nos divertir com uma
prática e entramos na fase de nos apaixonarmos por essa atividade. Isso
significa que, enquanto as crianças 'andam por ali' sem um propósito definido
além de se divertirem, nunca evoluirão como pretendido. Cabe, então, aos treinadores
a responsabilidade de criar um contexto nas diferentes modalidades que envolva
e crie entusiasmo nas crianças. Em essência, é preciso provocar nessas crianças
um forte desejo de se tornarem atletas de alto rendimento, um desejo que as
motive a participar na prática desportiva de forma responsável e focada no
propósito de serem futuramente atletas reconhecidos ao mais alto nível. Ou,
alternativamente, torne evidente que para algumas dessas crianças será
reservado um futuro em outras áreas, seja acadêmico ou artístico, mas não
desportivo.” (Araújo,
2024).
O
veterano espanhol Pepe Laso também tem opinião sobre o tema.
No
Clinic da Agrupación Baloncesto Villaviciosa de Odón, Laso destacou:
“A
importância dos primeiros passos na vida desportiva dos jovens.
O
treinador tem o papel crucial de ensinar a gostar do jogo e a jogá-lo. Qualquer
planeamento técnico excessivo é contraproducente, pois o jogo deve estar ligado
à diversão.
As
crianças precisam se divertir no treino, e a bola é a ferramenta central para
isso.
Não
se deve afastar a bola das crianças, pois isso prejudica a aprendizagem. Para
os Minis, longos discursos, sessões de alongamento ou aquecimentos elaborados
não são necessários.” (Laso, 2018).
Os
treinadores devem criar um contexto no Minibasquete que envolva e entusiasme as
crianças, dando-lhes um propósito claro e motivador. Esse "querer
muito" ser jogador de basquetebol é essencial, para que elas se
dediquem de forma responsável e comprometida, evoluindo de uma interação casual
com a bola para uma prática focada no desenvolvimento das habilidades
necessárias para se tornarem grandes jogadores.
O papel do treinador
Regressando aos e-mails do Professor Jorge
Araújo, podemos clarificar melhor a função de ser treinador:
“É
responsabilidade do treinador criar um ambiente de treino que vá além da
simples diversão.
O treinador
deve ser capaz de envolver as crianças emocional e mentalmente, criando um
propósito claro para o treino. Esse propósito é o desejo de se tornar um bom
jogador de basquetebol. Quando as crianças estão motivadas por esse desejo,
elas participam de maneira mais responsável e comprometida. Isso não significa
apenas seguir as instruções, mas ter a vontade interna de melhorar, aprender e
se dedicar ao desporto.
A prática precisa ter intensidade para que as
experiências de treino se tornem significativas e, eventualmente, automáticas.
Essa intensidade pode vir do nível de desafio, da competitividade ou do
envolvimento emocional das crianças.
A aprendizagem,
especialmente no contexto do Minibasquete, é um processo que envolve não apenas
a mente, mas também o corpo, através da repetição e incorporação de habilidades
motoras e cognitivas.
A essência
desse processo reside na transição de 'jogar a bola' para 'jogar basquetebol',
destacando a importância de uma aprendizagem significativa e intencional. Para
que essa aprendizagem seja eficaz, é fundamental que os treinadores compreendam
como ocorre o desenvolvimento das habilidades desde a infância.
O jovem atleta
começa com a perceção sensorial, a imaginação e o pensamento, progredindo para
ações repetidas que levam à incorporação de hábitos. Esta incorporação é o que
permite que as habilidades se tornem automáticas e realizadas de forma fluida e
eficiente.
No
Minibasquete, especificamente, é necessário que os treinadores criem um
ambiente que vá além do simples ato de brincar com a bola. Eles precisam
instigar nas crianças um propósito claro e uma motivação forte para se tornarem
jogadores de basquetebol. Esse 'propósito' é crucial para que as crianças se
envolvam de maneira significativa e desenvolvam o compromisso necessário para
progredir no desporto.” (Araújo, 2024)
O Prof. J. Araújo, ao envolver conceitos
neurocientíficos e filosóficos, sugere que uma experiência só se torna
consciente e se transforma em hábito quando atinge um certo nível de
intensidade. Ou seja, para que a aprendizagem seja duradoura e significativa, é
necessário que as crianças estejam profundamente com prometidas e motivadas.
Esse comprometimento é o que permite a transição
de atividades lúdicas para um treino focado no desenvolvimento de habilidades
específicas do basquetebol.
Conclusão
Jogar à bola é
diferente de jogar Minibasquete. Ambos envolvem direitos e
responsabilidades, mas apenas o Minibasquete exige compromisso e desejo de
competir.
Os treinadores desempenham um
papel crucial na criação de um ambiente que não apenas ensine as habilidades
necessárias, mas também motive e inspire as crianças a tornarem-se grandes
jogadores de basquetebol.
O sucesso desse processo
depende da capacidade do treinador proporcionar uma experiência de aprendizagem
que seja envolvente e direcionada para objetivos claros.
Para transformar o Minibasquete e melhorar a
qualidade do basquetebol, é necessário implementar alterações radicais na base
da prática do jogo, tanto na escola quanto no clube.
Isso inclui modificar a
atitude dos professores e treinadores em relação ao ensino e ao treino.
Sem essas mudanças, será difícil alcançar os
resultados desejados.
Bibliografia:
ARAÚJO, Jorge.
E-mail enviado em 26 de agosto de 2024.
LASO, P. Clínic da Agrupación Baloncesto
Villaviciosa de Odón. 2018.
VII JORNADAS DE FORMAÇÃO C.B.Q.
Clínic conduzido por Valentin Plaza, 2024.
por Mário Silva
14-09-2024
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