Perder, Sentir, Honrar: Uma Homenagem ao Professor José Francisco Costa - por João Oliveira

Pequenas perdas do dia a dia

Hoje mesmo, fui comprar alguns utensílios de bricolage, para fazer algo que desejava. Cheguei a casa, desfiz o saco, mas o objeto essencial não estava. A ausência era pequena, mas pesava. Procurei na sala onde estava e não encontrei. Comecei a pensar onde tinha estado, regressei a todos esses locais por onde tinha passado, mais do que uma vez, mas nada. Tinha acabado de perder algo que, sabia, não voltaria.


Perdas simbólicas

Comecei por perder um objeto. Pequeno. Sem volta. Mas naquele momento, sem saber, treinava o coração para perdas maiores. Estava a disputar uma final, um jogo muito importante, e perdemos. Aquele momento já não ia regressar. Recordando, são muitas as situações passadas em que perdi.

Tive um jogador que queria muito ganhar, acreditava que tinha de carregar a equipa às costas, jogava sozinho e, ao fazê-lo, comprometia o que desejava, ganhar. Para conseguir o que desejava, ajudava perder a crença de que, sozinho, ia mais rápido.

Por vezes, treinadores necessitam de criatividade para vencer. Porém, a ideia de controlo de tudo e todos, condiciona a iniciativa e criatividade dos jogadores. Para alcançarem o que desejam, necessitam de perder a ideia de controlo.

Olívia (figura representativa), uma profissional dirigida para a tarefa, impulsiva e que fervia em pouca água, lidava com a perda culpando os outros ou as circunstâncias. Para ela, perder era mau, inadmissível, acreditava que ganhar era tudo. Por isso, quando perdia algo, um objeto, uma crença, uma ideia ou uma pessoa, gritava, culpava as circunstâncias, apontava os dedos aos outros e, paradoxalmente, os resultados ficavam mais vezes aquém do esperado, perdia mais vezes. Quando pensava em “perder era mau” e em todos os problemas que criava na relação com os outros e na pouca competência que demonstrava a lidar com a perda, percebia que esta – perder era mau – não era uma boa crença.

James (figura representativa), um profissional que valorizava as pessoas, bom ambiente e boa relação. Por vezes, parecia passivo; lidava com a perda culpando-se a si mesmo. Para ele, perder era igualmente mau, acreditava que perder era sinal de incompetência. Por isso, sempre que perdia algo, fosse um objeto, uma crença, uma ideia ou uma pessoa, ficava triste consigo mesmo, culpabilizava-se. O que, além de um enorme desconforto, reforçava a repetição de fracos resultados. A sua autoestima andava frequentemente em baixo e, por isso, não era uma boa crença.

Quando a Olívia e o James olhavam em redor, apercebiam-se que não eram os únicos a lidar com a perda desta maneira, a primeira magoando os outros primeiro e o segundo magoando-se a si mesmo. Esta perceção facilitou a aceitação de não estarem a lidar bem com a perda.

Talvez sejamos todos um pouco Olívia ou James – até aprendermos a parar, sentir e honrar.

Como lidar bem com a perda?

 

A perda de alguém

Algumas vezes, lidamos com a perda com um impacto maior e mais profundo, o da perda física de uma pessoa. Infelizmente, já lidei mais do que uma vez com a perda irrecuperável maior, a perda física de pessoas. Esta semana, perdi um amigo. O PROFESSOR JOSÉ FRANCISCO COSTA.

Como lidar com esta perda?

 

Como lidar com o luto

Lidar com esta perda como a Olívia levaria a culpar algo ou alguém pela situação e, com isso, criar problemas aos outros, no imediato, e a mim, mais tarde. Lidar com esta perda como o James e culpabilizar-me por algo que poderia ter feito e não fiz, causaria problemas a mim mesmo.

Será que existe uma forma diferente e melhor de lidar com a perda e o luto?

Lidar com o luto é mais frequente do que se possa pensar. Quando saímos de algum trabalho, quando finalizamos a escola ou a faculdade, quando saímos da vida que tínhamos antes, quando mudamos de casa, cidade, país, quando finalizamos algum ciclo da vida, quando terminamos um relacionamento, o luto também aparece.

Como podemos lidar com o luto não criando problemas aos outros, não criando problemas a nós e fazendo o que é suposto fazer?

Cada emoção surge em resposta ao que se passa à nossa volta e em nós e dá-nos informação, inteligência e energia para lidarmos o melhor possível com o que se passa e o pesar e luto não são exceção. Contudo, para isso, necessitamos de parar, sentir, identificar, investigar e agir.

Por esta altura, já tinha parado, sentido e identificado o luto e o pesar. Estava pronto a investigar, inquirir ou interrogar essa emoção e, dessa forma, aceder ao seu brilhantismo.

Imagine-se a Olívia ou o James a pararem, sentirem, identificarem e investigarem a emoção, pesar e luto, quando perdem alguma coisa!

Investigar, inquirir ou interrogar o pesar e luto, como?

Colocando duas perguntas:

  • ·       O que temos a lamentar e libertar completamente?
  • ·       Como honro o que perdi?

Esta emoção, pesar e luto, tem uma mensagem, a de ser o tempo de lamentar e honrar, mas também presentes e habilidades. Desde logo, a capacidade de identificar, lamentar, aceitar e libertar as perdas, mas também a competência de honrarmos uma ideia, uma situação, uma pessoa ou uma posse perdida.

 

Homenagem ao professor

Perdi uma pessoa querida. O PROFESSOR FRANCISCO COSTA foi meu Professor na Faculdade, foi meu Mentor, foi meu Amigo e lamento profundamente a sua perda física.

Como posso honrar o PROFESSOR?

Vivendo-o. Era um estudioso, preparava-se profundamente, tinha uma capacidade de comunicação singular, quer captando a atenção e sendo escutado, quer escutando ativamente os outros, quer ainda sendo genuíno e espontâneo (das pessoas com quem poderíamos ficar horas a conversar), tinha uma capacidade de síntese notável (um dos trabalhos que nos pediu na faculdade foi reduzir um tema a 1 página, o que demonstrava a importância que dava à síntese), adorava o Basquetebol e as pessoas do Basket, para ele as pessoas e os valores eram importantes, tinha autoridade moral e adorava a profissão de professor e a partilha.

Tive o privilégio de lhe ligar centenas de vezes.

- Professor, vamos tomar um café?

A resposta era sempre positiva.

Hoje, tomei o café em silêncio. A sua cadeira estava vazia, mas a presença – essa – sentou-se comigo.

Obrigado, PROFESSOR JOSÉ FRANCISCO COSTA.

Descanse em paz.



por João Oliveira

18-04-2025








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