Baralhar ou Sistematizar e Sectorizar as Análises - por Aniceto do Carmo

Sempre que existe alguma tentativa e proposta para compreender o tema basquetebol devemos participar.

Não são virgens as tentativas de discussão de assuntos importantes para a modalidade.
Mas também não são virgens as tentativas de compressão de factos e ocorrências na nossa sociedade por vezes estéreis, vejamos ao mais alto nível as comissões parlamentares de inquérito.
Não faltam as intermináveis e inconclusivas discussões sobre temas bem mais dramáticos, por exemplo os refugiados, as tragédias dos incêndios, e agora também os destinos e usos dos apoios, sempre com a bem intencionada busca da sua compreensão, explicação, e encontrar eventuais soluções futuras, com ou sem apuramento de responsabilidades.

As tentativas de explicação de qualquer acontecimento, tem sempre vários ângulos de apreciação, de acordo com os perfis individuais, educacionais, profissionais, sociais e até políticos, que forçosamente divergem nas abordagens, na atribuição das causas, invocando-se para uns as mais remotas, outros as mais recentes, condicionando assim as propostas de solução, umas de longo prazo mais estruturais e mais difíceis, outras de curto prazo ou conjuntura mais imediatas e superficiais, (como a substituição do treinador) ou seja, temos abordagens para todos os gostos, estruturais e/ou conjunturais, as colectivas e/ou individuais, as orgânicas e/ou de contexto, etc., etc.

O problema poderá estar na necessidade de sistematizar e sectorizar as análises e saber onde as colocar, não baralhar tudo, para se poder reflectir de forma consequente, para se poder aspirar a planos de acção eficazes, acções essas articuladas e que cruzem as medidas possíveis e de imediata implementação com as de longo prazo, não comprometendo assim o futuro. (como se pode pensar assim no desporto se na sociedade o exemplo que temos é o da dividida pública contraída para 50 anos).


Para isso é necessário dar importância e resolver o que de facto tem que ser resolvido, porque um dos problemas do treino é que muitos treinadores dão de facto treinos, os jogadores têm horas de treino, mas será que estão a treinar o que de facto os jogadores precisam. Será que reflectimos sobre o que de facto interessa?

Infelizmente nas reflexões, mistura-se tudo, e no nosso caso ouvimos e vemos misturar o que é de política desportiva, com o que é técnico e táctico do jogo, e ainda o que é mesquinhamente pessoal, sem que se consiga sequer reflectir sectorialmente e construtivamente, com cada área no seu momento e com os argumentos próprios, para que a eficácia da reflexão produza eficácia a esperada e ambicionada acção.

Respondendo ao que se propõe, todas as personalidades com ligação á modalidade fazem falta desde que seja para resolver, mas não deve haver nem endeusamento nem discriminação de individualidades, todos são necessários, todos os saberes, pois não acredito em soluções sebastiânicas ou assentes exclusivamente em individualidades. O basquetebol é um jogo de equipa.

Exemplos de sistematização sobre reflexões possíveis em diferentes níveis, que embora se interliguem não tenhamos ilusões que para aspectos complexos é necessário “partir”, “reduzir” analisar, para de pois de se melhor compreender, sintetizar.  

1. Reflexão sobre o contexto,
As características da nossa sociedade, e em que medida ela contribui para o perfil (ou ausência dele) no jogador de basquetebol, desporto de elevada e diversificada exigência.

1.1. A educação familiar, a educação escolar e no que condiciona o perfil necessário para ser jogador(a) de basquetebol
1.2. A reflexão sobre os problemas da eventual profissão enquanto futuro, do seu valor económico, do seu enquadramento da prática desportiva em geral, e o basquetebol em particular na vida futura (será que pode aspirar a ser profissional, problema colocado finais dos anos 70)
1.3. Reflexão sobre a qualidade da cidadania, da democracia e dos exemplos de comportamento tais como a corrupção na sociedade e no desporto, os processos eleitorais, o poder de grupos de conveniência, e o perigo da cristalização e da fixação no poder através da mordomia e do tráfico de influência (qual a relação com a fachada de democracia em geral e a sua falência, e a correspondente tipo de eleições para os órgãos desportivos em particular)

2. Reflexão sobre a estrutura orgânica da modalidade

2.1. Constituição e Funcionamento dos órgãos institucionais de acordo com as mudanças de paradigma social. FPB, Associações e clubes.
2.2. Interpretação da história recente e dos seus resultados enquadrado nas políticas, centros de treino, operação altura, jogadores estrangeiros, etc.,
2.3 E como compreender os inúmeros êxitos e sucessos individuais, que não se vislumbram nem tem a devida correspondência ao nível do (in)sucesso colectivo. Condecorações e reconhecimentos individuais e uma dificuldade de compreender a devida correspondência a nível do colectivo. Imaginem uma equipa onde todos estão satisfeitos com o seu desempenho individual mas a equipa perde! Incompreensível!...
2.4. O clube de desporto federado, e a sua relação com o desporto escolar e a problemática dos horários escolares
2.5. Organização das Competições
2.6. Marketing e comunicação? Sim mas de que produto? Para que serve o marketing de produtos fracos? Quem quer comprar produtos que não lhe servem?
2.7. Com a diminuição da natalidade e a forte concorrência de outras alternativas desportivas nomeadamente o futebol e a explosão do futsal, não será de esperar um aumento futuro do número de praticantes, exigindo estratégias de mobilização que respondam aos anseios da vidas dos jovens e respectivas famílias.
2.8.Sustentabilidade, rentabilidade de recursos, financeiros, humanos, dirigentes e treinadores, jogadores estrangeiros e custo/benefício

3. Reflexão de aspectos técnicos/tácticos

3.1. O que é que a cidadania a liberdade e a responsabilidade têm que ver com a forma com se ensina e joga o jogo.
3.2. Reflexão sobre os problemas técnicos e tácticos de abordagem do ensino do jogo. Quais os processos que melhor respondem a esta necessidade formativa de autonomia e responsabilidade. O pensar e o decidir e/ou decorar?
3.3 Em que medida a forma mais comum de sistemas tácticos decorados, e impostos, são a solução e/ou simultaneamente a fonte de problemas.
3.4 Será que existem formas de treinar e jogar onde o fulcro do ensino do jogo é a leitura e a decisão adequada, e onde se cruza e trata o individual e o colectivo.
3.5. Reflexão sobre os problemas da concepção técnica e tácticas adaptadas à morfologia e ao perfil da generalidade da população portuguesa e particularmente do jogador português
3.6. Reflexão sobre a quantidade e sistemáticas formações, cursos e palestras e o seu impacto na melhoria da qualidade da intervenção no ensino do jogo. Qual a eficácia?
3.7. Exercício de avaliação e desempenho comparado da evolução do basquetebol masculino e feminino

E outros temas se podem e devem acrescentar, e/ou organizar de forma diferente, mas por certo temos consciência que os argumentos e o alcance de cada tema são diferentes, que uns são do âmbito da modalidade e outros não, mas sem uma visão global e de conjunto os esforços de compreensão deste basquetebol nunca será consequente.

por Aniceto do Carmo
29-04-2019















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