FALAR DE BASQUETEBOL – 2 Grandes Oportunidades – por João Oliveira

Decorria uma das noites do ano de 1982, estavam centenas de pessoas, na então a Rotunda da Circunvalação, de pé e na berma da estrada, aguardando a passagem de Michele Mouton. Porquê?

Por vários motivos, entre outros, por aos 31 anos, Michele Mouton ter-se tornado na primeira mulher a vencer uma etapa do Campeonato do Mundo de Rali. Por essa altura, conduzia o famoso Audi Quatro.

Depois de nove anos sem vencer um Mundial de Ralis, a Audi estava numa situação difícil e, para a superar, fez uma série de experiências e apresentou uma nova abordagem.

O QUE É QUE A AUDI INOVOU E PERMITIU VENCER O MUNDIAL DE CONSTRUTORES?

Até então, depois da tração traseira, tinha surgido a tração à frente, nos automóveis. Contudo, nunca se tinha experimentado, com sucesso, um carro com tração a todas as 4 rodas, nos Ralis. Mas, esta foi precisamente a nova abordagem da Audi e assim “nasceu” o Audi Quatro, de tração “integral”. Não foi tudo pacífico, antes pelo contrário. O carro foi um pouco polémico, porque a tração 4x4 dava muitos problemas, mas progressivamente foi-se impondo.

A capacidade de imaginar um carro com tração integral, a iniciativa de torná-lo numa realidade e a persistência, perante os primeiros maus resultados, aliada a uma nova abordagem, resultou num Título Mundial de Construtores e em muitas enchentes, como a daquela noite de 82.

Quando imagino que cada uma das rodas do carro a representar algo nas pessoas e nas organizações, tenho uma imagem de duas grandes oportunidades. Se cada uma das rodas traseiras representar a dimensão “física e técnica” e a outra a “mental e tática” e se as rodas traseiras representarem as dimensões “sócio-emocional” e “motivacional”, nas pessoas; ou se, cada uma das rodas traseiras representar a “estrutura” e outra a “estratégia” e se cada uma das rodas dianteiras representar a dimensão “equipa” e a “ética”, nas organizações, então a abordagem que faço ao treino e à formação de jogadores, equipas e organizações pode mudar.

Isso pode significar que: na era dos carros com tração atrás, os jogadores jogavam utilizando apenas as qualidades física e mental e que organizações estavam limitadas a avançarem em função da estrutura e estratégia; na fase dos carros de tração à frente, apenas se utiliza a dimensão sócio-emocional e motivacional, no caso das pessoas e a equipa e a ética, no caso das organizações, para exercerem tração, isto é, para fazerem as coisas avançar.

Quando circulamos com os 4 pneus com ar o carro circula de maneira diferente de se com ar apenas em 3, 2 ou 1 pneus. Não faz sentido circular com um carro com ar em apenas 1 pneu. Contudo, e metaforicamente, se "enchermos" apenas o pneu "físico e técnico", nos jogadores ou o "pneu" estrutura, nas organizações, então é mesmo isso que acontece em termos de "circulação", limitámos a capacidade do "nosso carro" circular.

Assim, tal como a Audi compreendeu, inovou e implementou uma nova abordagem – tração integral - que catapultou os resultados, também os Treinadores (e não só) e as Organizações (equipas, clubes, associações e federação) podem fazer ainda melhor, se juntarem à persistência uma nova abordagem, que considera os jogadores como pessoas, que jogam com 4 QUALIDADES (“física e técnica”, “mental e tática”, “sócio-emocional” e “motivacional”) e as organizações como sistemas, assentes em 4 PILARES (estrutura, estratégia, equipa e ética) e insuflarem os 4 "pneus" dos jogadores ou das organizações.

Esta nova abordagem, ao nível dos Treinadores, requer a reformulação dos cursos e o reenquadramento dos clinics, de forma capacitá-los para resgatarem a pessoa total/integral e, ao nível das organizações, exige repensar a cultura, mentalidade e sistemas operacionais das organizações, de forma a resgatar-se a organização total. O que significa resgatar?


No ano passado, 12 jovens de uma equipa de Futebol, com idades entre os 11 e os 16 anos, e o seu Treinador ficaram presos numa gruta, na Tailândia. Recordo-me do resgate? Os dias a passar e todos preocupados com o estado dos jovens e do treinador. A quantidade de pessoas, organizações, países e meios envolvidas, os sacrifícios, as preces, as (…) e no final o “alívio” pelo resgate e o sentimento do dever cumprido.

QUAL É UMA DAS MENSAGENS IMPLÍCITAS AO RESGATE NA TAILÂNDIA”?

Conhecia pessoalmente algum dos jovens ou o seu treinador? Não. Mesmo assim, o assunto despertou-me interesse e preocupação, como a milhares de pessoas, em todo o mundo. Ficava triste quando as coisas pareciam piorar e esperançado sempre que havia progressos. Por que razão é que me preocupei, fiquei triste e alegre?



Qual é a ligação desta situação com o Basquetebol, e não só?

Antes de explorar a resposta, outra situação despertou aminha atenção.

Lembro-me de alguns filmes em que uma pessoa ou uma “task force” tinha por missão resgatar um ou mais soldados capturados e mantidos em cativeiro?

A indústria do cinema explorou este tema, com enormes resultados nas bilheteiras e os filmes sucederam-se. Alguns tornaram-se em sequelas, como o Rambo. Nessas histórias, uma pessoa ou um pequeno grupo de pessoas entrava no território inimigo, para resgatar um ou mais soldados, que tinham “ficado para trás”. A missão era clara – resgatar um compatriota, por que "não deixamos ninguém para trás".

Na situação real, que aconteceu na Tailândia, tal como os muitos filmes de Hollywood simularam, embora as pessoas não conheçam pessoalmente as pessoas aprisionadas, mesmo assim, estão dispostas a correr o risco de perder a própria vida, na tentativa de as salvar e as organizações e países juntam esforços, para lhes resgatar a liberdade de viver.

A mensagem parece-me simples, mas poderosa: Todas as pessoas são importantes e, mesmo não as conhecendo pessoalmente, a humanidade está disposta a todos os sacrifícios, para salvar uma só pessoa, se estiver em risco.

Há uns anos, comprei um portátil com caraterísticas topo, memória, RAM e disco, placa gráfica, (...). Tudo funcionou bem, durante bastante tempo. Estava muito satisfeito com o desempenho do computador e, ao longo dos anos, fui fazendo atualizações ao software - os "updates". Quando olho para trás e recordo o primeiro computador de "disket" e o que hoje utilizo, consigo aperceber-me da diferença gigantesca, quer ao nível do "hardware", quer ao nível do "software". Será que esse progresso só se deu na informática? Não. Todas as áreas foram progredindo e as pessoas e organizações foram-se, muitas, atualizando ou melhor, foram atualizando o "software". A mensagem é igualmente clara: todos, as pessoas e as organizações, necessitamos de atualizar o nosso "software", como por exemplo a forma como as organizações planeiam, executam e avaliam. 

Estas situações apresentam-me mais duas enormes oportunidades, para o Basquetebol Português.

Há várias formas de estarmos presos, umas mais evidentes do que outras. É fácil perceber que alguém está preso, quando está em cativeiro, numa gruta, num poço, (…) e que necessita de ser resgatada. Contudo, há outras formas mais subtis de estarmos aprisionados e necessitarmos de ser resgatados.

Será que quando um jogador só joga com o “corpo” e não o deixo pensar, decidir, ligar-se aos outros ou ao que está correto fazer, isto é, quando não "permito que o carro circule com os outros 3 pneus também com ar", isto é, com o seu “cérebro”, “coração” e “consciência”, não estará esse jogador aprisionado?

Quando as organizações se apoiam num "software" que utiliza a estrutura e negligencia a estratégia, a equipa e a ética, não estarão a "circular com ar em apenas 1 pneu", não estarão aprisionadas, não estarão desatualizadas?

Se for o caso, fará ou não sentido resgatar quer as qualidades aprisionadas das pessoas, quer os pilares negligenciados pelas organizações? Fará sentido insuflar todos os 4 "pneus" - leia-se qualidades nas pessoas e pilares nas organizações - de forma a esses "veículos circularem melhor"? Será oportuno atualizar o "software" das pessoas e das organizações?

Esta(s) história(s) forneceram-me uma razão para preferir fazer alguma coisa, em vez de ficar apenas, a assistir ...

  • Todas as Pessoas são Importantes e por isso Não deixamos Ninguém para Trás 
  • Quando aliamos as novas abordagens à iniciativa e persistência, em vez de teimosamente persistir ao que está desatualizado ou não funciona
... logo resgatar a pessoa integral que joga ou "software" das organizações totais é a razão para fazer algo, em vez de ficar à espera.

Mas será possível concretizar essas missões:
  • Resgatar, capacitar e libertar as 4 Qualidades (“física”, “mental”, “emocional” e “espiritual”) dos Atletas e 
  • Atualizar o “software” das organizações e reinventar Equipas, Clubes, Associações e Federação, por incorporar os 4 Pilares que tornam as Organizações Grandiosas: Estrutura, Estratégia, Equipa e Ética? 
É possível os jogadores jogarem e as organizações funcionarem "com tração às 4 rodas" ou com "ar nos 4 pneus"?

Sim, é possível. Do mesmo modo que há pessoas especializadas em salvamentos em grutas ou resgates no terreno inimigo, também há muitas pessoas capazes de resgatarem a pessoa total / integral (corpo, cérebro, coração e consciência) que joga, treina, dirige e atualizar o "software" das organizações totais (estrutura, estratégia, equipa e ética), em Portugal.

O futuro de progresso é promissor e com ele, a esperança em resultados ainda melhores aumenta. Quanto? Basta visualizar a diferença entre um carro que circula "com ar em apenas 1 pneu" e outro "com ar nos 4 pneus" ou entre o nosso primeiro telemóvel e o de hoje, para saber quanto.

“BUZZER BEATER”
  • O sucesso depende de muitas coisas. Entre elas, a nossa capacidade de imaginar, a nossa iniciativa e nossa persistência, mas também de fazer novas abordagens perante os desafios que não estão, ainda, a ser superados;
  • Uma pessoa livre e um jogador, treinador, árbitro, dirigente, (…) livres, são-no quando o fazem com o “corpo”, mas também com o “cérebro”, o “coração” e a “consciência”;
  • Uma organização grandiosa (equipa, clube, associação e federação) é-o quando liberta, potencia e capacita o potencial humano, por se edificar na estrutura, mas também na estratégia, no trabalho em equipa e na ética.
As aplicações destas oportunidades / missões - resgatar a pessoa total e as organizações totais - são transversais à formação de jogadores, treinadores, árbitros, dirigentes, (…), mas também às organizações e poderão ter um impacto transformador.

O que me disse a consciência para fazer?

Disse-me para fazer alguma coisa para resgatar a pessoa total e a organização total, em vez de nada fazer nada.

O que lhe diz a sua?


por João Oliveira
20-06-2019


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