COMUNICAR DE FORMA EMOCIONALMENTE CONVINCENTE - por Jorge Araújo


Vivemos através da nossa experiência constante na relação com os outros e com a realidade que nos rodeia, numa convivência estreita que nos permite adquirir uma verdadeira sabedoria comportamental.

Não é o mundo que vem até aos sentidos, são os sentidos que mergulham no mundo…A perceção não interpreta simplesmente as mensagens sensoriais, ela é constrangida pela ação.[1]

O que reforça a nossa tese do aprender a fazer, fazendo, através da experiência corporal, do movimento, importando acima de tudo o que emocionalmente nos fazem sentir. E também o que designámos entretanto como o treinar como se joga integrado na nossa tese metodológica de treino comportamental “Pensar e Intervir como um Treinador”.

Tudo o que diz respeito ao corpo tem assim um significado existencial e, tudo o que diz respeito à nossa existência, tem uma manifestação corpórea.[2] E é através de um corpo experiencial e uma consciência incorporada que criamos condições para a nossa própria existência. Um corpo que percebe e se faz perceber e que não é só um espaço expressivo, pois evidencia uma constante capacidade de adaptação em profunda convivência com o mundo exterior e aqueles com quem se relaciona.

Este plano mais arqueológico da vivência corpórea do mundo indicia, segundo Merleau Ponty, uma familiaridade tácita que, em relação às coisas, lugares e corpos do mundo, parece ser desde sempre desenrolada pela motricidade corporal.[3]

Movimentamo-nos e relacionamo-nos assim num diálogo comunicacional continuado, interagindo e mantendo um contacto constante com as coisas e os outros. E nas nossas diversas ações, expressamo-nos através da nossa motricidade corporal.


Ao movimentar-nos, fazemo-lo sempre integrados em experiências, culturas, emoções, [4] sentimentos e intenções que não só correspondem à complexidade do ser humano, como o respetivo estudo exige que os seus conteúdos sejam definidos com base na realidade social, cultural, política e económica da sociedade em que nos integramos.

Ciência e filosofia têm por isso aprofundado ultimamente a expressão e a comunicação humanas enquanto fenómenos fundamentais, considerando que não há solução para o homem que se movimenta quase sempre sem saber para onde vai, apesar de pretender ser sempre preciso e estar no controlo de todos os seus movimentos. [5] E acrescentando que expressar o que existe é uma tarefa interminável. [6] e que, a expressão é como um passo dado no nevoeiro, ninguém consegue dizer onde nos leva, se é que nos leva a algum lado. [7]

Possuímos um corpo sensível que se torna humano através da palavra e utiliza a linguagem como meio fundamental de perceção dos outros. Uma perceção que tem sempre na sua origem uma experiência pré-objetiva, anónima, pré-pessoal que incorpora o mundo através de uma via intersubjetiva. Uma comunicação através das palavras que proferimos, reforçadas pelo tom de voz que utilizamos, os gestos que fazemos e a fisionomia que apresentamos a cada momento. Uma linguagem que constitui uma forma de cantarmos o mundo, enquanto verdadeira operação vital muito para além de um simples ato intelectual. Sendo esta a razão por que, ao falarmos com os outros, revelamos não só os nossos pensamentos, mas também a respetiva fonte desses pensamentos e a nossa maneira de ser fundamental.

Entretanto e de modo complementar, "carregamos" ao comunicar, todo o nosso passado de experiências, crenças, inseguranças, etc.

Concluindo, através da nossa perceção, adquirimos o sentido estrutural das nossas vivências no mundo e ao comunicarmos com os outros, percecionamos os seus gestos, movimentos e o próprio corpo, tal como eles procedem exatamente da mesma forma. Pura experiência vivida através de uma perceção mútua que nos permite comunicar corporalmente no mundo através da nossa corporeidade e motricidade. Não só por via de um corpo que é a dimensão que permite vivenciar os fenómenos da realidade, mas também da linguagem e dos nossos afetos, onde o papel expressivo do corpo tem uma enorme importância, compreendendo esse mundo porque nele estamos envolvidos. Acrescendo ainda a importância cada vez maior da nossa comunicação intersubjetiva, pré-reflexiva, automática e na maioria das vezes inconsciente, onde o fenómeno das designadas “primeiras impressões” é um exemplo que nos deve fazer refletir.




[1] Bernard Andrieu, Le corps dans l’acte de son cerveau, Presses Universitaire de Nancy, 2010, Página 201

[2] Lionel Naccache, L’Introspection de la perception visuelle,mythe et realité, Le corps en Acte, Presses Universitaires de Nancy, 2010, página 29, O cérebro é capaz de antecipar e corrigir todo um conjunto de parâmetros sensoriais, tendo como base determinadas expectativas probabilísticas do sistema de simulação interna da ação.
[3] Luis Umbelino, Filosofia do corpo e inventário da dor, Revista Filosófica de Coimbra, nº 52, Separata, página 296
[4] Segundo Alain Berthoz, no seu artigo intitulado La conscience du corp, publicado em Le Corps en Acte quando da celebração dos 100 anos do nascimento de Merleau Ponty, pela Presses Universitaire de Nancy, página 21, A emoção não é somente uma reação, nem só como propõe Damásio uma forma de homeostasia, é também uma forma de antecipação que permite ao organismo preparar-se para a ação futura.
[5] Merleau Ponty, Sense and Non Sense, Northwestern University Press, 1964, página 4
[6] Merleau Ponty, Sense and Non Sense, Northwestern University Press, 1964, página 15
[7] Merleau Ponty, Sense and Non Sense, Northwestern University Press, 1964, página 3


por Jorge Araújo


Presidente da Team Work Consultores












18-07-2019

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