“A criatividade é a inteligência a divertir-se.”
Albert Einstein.
Um jogador criativo é o que
tem autorização para fazer as coisas de forma diferente. Possui um “mapa“ da situação real de jogo, fruto das experiências anteriores,
tem incorporado a bola, o campo, a relação com os companheiros e os adversários,
o que lhe permite decidir em conformidade. Faz coisas em jogo que não consegue explicar
e, inclusive, por vezes, não as conseguem repetir.
A criatividade permite-lhe tomar boas decisões.
Ao contrário do que se pensava, a
criatividade pode ser
educada e desenvolvida, não é genética. Todos os jogadores
têm potencial criativo.
Mas atenção! Não fossem as experiências anteriores, jamais teríamos
atletas tão criativos. Sem o conhecimento do jogo é impossível algum jogador
ser criativo.
Logo... a
criatividade... treina-se sim!
Na NBA jogadores
criativos não faltam. Jogadores com talento como: Jokic, Doncic e Ricky Rubio encantam tudo e todos, porque criam respostas originais e
surpreendentes aos problemas do jogo.
O papel dos treinadores
Os treinadores passam
a vida a dizer que gostam de jogadores
criativos, mas só isso é curto.
Os jogadores não passam a criativos, porque o treinador gosta.
O objetivo do treinador criativo é que os seus jogadores
forneçam respostas originais e eficazes aos problemas do jogo. Mas só vai
conseguir incentivar essa mesma criatividade, quando
perceber que "são os jogadores que jogam e não os treinadores", como sempre disse o Prof. Jorge Araújo, a
quem mais uma vez recorri para este escrito.
Quanto ao debate entre repetição ou variação: o que queremos referir, quando nos falamos de repetição? Estamos a falar
"daquela" repetição descontextualizada, que está refletida no que escreveu o
Prof. Jorge Araújo:” fui um especialista
do lançamento de gancho, mas nunca marquei um cesto de gancho. Era um
malabarista... eu, a bola e o cesto..., mas faltava-me nesta aprendizagem
repetitiva toda a variação introduzida pela situação real de jogo”.
O mesmo autor referia frequentemente nos cursos
treinadores, que treinava o contra-ataque, mas a sua equipa em jogo não o fazia:
“Lembra-me de ter percebido (por fim!) que não
melhorava a eficácia do contra-ataque com todos aqueles nossos exercícios
habituais, mas sim treinando a variação contida na reacção temporal necessária
para, estando a defender, quando havia lançamento, bloquear e ir ao ressalto
defensivo, recuperar a posse da bola e reagir através do primeiro passe e da
ocupação dos espaços do campo! Ou seja, só melhorei introduzindo no treino a variação
contida no jogo quando a defender, recuperamos a posse da bola e reagimos
para executar o contra-ataque!”.
Isto é, antes de treinar a
variação, que lhe permitia reagir antes que o adversário...treinava
simplesmente... atletismo com bola...
Está hoje bem claro,
que os jogadores não aprendem só através daquilo que o treinador lhe propõe,
mas sim daquilo que a realidade do jogo
lhe coloca e das respostas que vai encontrando e experimentando a jogar.
Criando cenários
de aprendizagem e com uma boa intervenção didáctica, o treinador potencia a
capacidade criativa dos jogadores.
O treinador acompanha e observa o que fazem aos jogadores a treinar e a jogar. Faz perguntas aos jogadores, acerca do que observou, procurando assim uma melhoria contínua. Está lá para acrescentar valor ao que os jogadores tentam e fazem no treino e no jogo e não propriamente para "lhes ditar" como fazer!
Para formar
jogadores criativos, temos de formar treinadores criativos. Os treinadores também têm de treinar a criatividade e
não podem ser um elemento perturbador, intervindo constantemente, enquanto decorrem as execuções
dos jogadores, já que assim, trazem racionalidade para algo
que exige simplesmente o automatismo motor.
O
papel do treinador não é o de gritar com os jogadores (passa! dribla! lança!),
quando estes estão a jogar ou a treinar. Não adianta mesmo nada e na maioria
das vezes não só não o ouvem, como ainda por cima o que diz só atrapalha. Assim,
o treinador tem de deixar de ser diretivo e passar a
ser um “orientador”, um guia da aprendizagem,
mantendo atitude aberta e ativa, procurando dar feedbacks positivos, quando tomam de decisões corretas e, sobretudo,
valorizando mais o processo que o resultado. Não deve cortar a
iniciativa ao jogador, mesmo que o resultado final não seja o melhor, utilizando o erro como um meio de aprendizagem.
Os treinadores também devem estimular
a participação dos atletas, criando um ambiente de comunicação, que
permita que os jovens se sintam acolhidos, estimulados, de forma que expressem as suas opiniões e
sentimentos e que se sintam como parte do processo de aprendizagem. Os jogadores
devem sentir-se livres para perguntar.
Resumindo: os jogadores aprendem a jogar,
jogando, identificando no jogo as diferentes variações que, depois,
aprendidos e identificados os gestos motores necessários para defender e
atacar, possam repeti-los, nunca o contrário.
Se o jogador não se consegue situar no contexto do jogo e aprender a variação
gestual que o jogo exige, a repetição analítica não faz sentido.
A discussão entre a variação e o analítico não
faz muito sentido, quando se coloca "uma coisa contra a outra".
O jogador primeiro incorpora o campo, o cesto,
a bola, os companheiros e os adversários. Depois, uma vez incorporado tudo
aquilo que o jogo te exige, a abordagem analítica ajuda a reforçar a
incorporação anteriormente acontecida, logo são complementares …
O jogador é o protagonista
Para que o jogador
seja protagonista, passando a dar outras respostas ao jogo, com tomadas de decisão cada vez mais corretas, tem de participar no treino de forma cognitiva,
deixando assim de ser um elemento passivo na aprendizagem que repete sempre o mesmo.
A criatividade mantém o jogador motivado, com maior
atenção para perceber o que se está a passar, de forma e estar continuamente a
tomar decisões dentro da tarefa.
O treinador não pode estar constantemente a dar as
soluções dos problemas propostos, de forma que o jogador escolha a que lhe parece a
melhor. Se trabalha uma série de soluções
propostas pelo treinador o processo criativo não existe.
É sabido que os
jogadores só podem ser criativos se tiverem liberdade, mas por outro lado, criatividade
não é só liberdade, se for liberdade
total, o jogador poderia ter liberdade para fazer sempre o mesmo...
As tarefas/exercícios
Ao criarem exercícios, o objetivo
dos treinadores é claro: querem que os jogadores pensem, decidam, analisem, experimentem,
descubram. Para isso, devem desenhar tarefas variadas nos treinos, fora da
rotina e onde os jogadores tenham de pensar
exigindo que dêem respostas
variadas ante diferentes estímulos, o que facilita o processo criativo.
Os treinadores
devem abandonar os exercícios repetitivos, monótonos e descontextualizados do
jogo porque:
- Diminuem a motivação
- Treino analítico está fora da realidade de jogo.
- A atividade cognitiva está ausente.
Repetimos muito, mas não criamos nada. “Gancho …contra-ataque …”
Face aos problemas propostos, o jogador tenta encontrar a
solução ajudado pelo treinador (resolução
de problemas e descoberta guiada) sem uma
ordem direta.
Os exercícios propostos devem conter um certo
nível de incerteza, com os jogadores a terem de atender
a diferentes estímulos, mudando
o foco de atenção e com uma
resposta imediata.
Do mesmo modo, o treinador deve modificar a
complexidade dos exercícios (no início, no decurso ou no final dos mesmos), reduzindo
o tempo disponível da execução, modificando o espaço de acção, etc.
Na criação dos exercícios, o treinador leva em conta o mecanismo da percepção / decisão / e execução, com uma aplicação no jogo real.
Tipos de
exercícios para treinar a criatividade:
- TÉCNICAINDIVIDUAL SEM OPOSIÇÃO 1x0
- LEITURA no 1x1
- JOGO DE ESPAÇOS
- JOGO REDUZIDO
A regra do “Passo Zero” e a criatividade…
Em
2017 com a alteração das regras, nomeadamente no artigo nº 25 (avanço ilegal),
a FIBA procurou, mais uma vez, uniformizar os critérios com a NBA.
O jogo
é agora mais fácil para os jogadores, mais
dinâmico, espetacular e criativo.
A nova
forma de usar os apoios permite um sem número de soluções, que tornam o jogo
imprevisível e permitem maior criatividade.
Ao receberem a bola em movimento, com um
pé no solo, os jogadores usam os apoios 01 para iniciarem o drible em corrida, na transição ofensiva ou no ataque
a meio-campo, largando a bola antes de começar o segundo passo. Não têm
assim de abrandar, como no passado, para não fazerem passos. Assim, realizam
movimentos com maior qualidade, imprevisíveis e sem perderem velocidade, o que
lhes permite ganhar vantagens.
A
finalização clássica em “lay up” em drible ou após recepção em movimento pode
ser bem mais criativa. Os jogadores escolhem o apoio (0) e optam por lançar no (0), (1), (11), (2) ou (22) com
direções variadas. Do mesmo modo, lançam com a mão de dentro ou de fora, variando o uso hemisfério da bola.
Estas múltiplas combinações dos apoios e
lançamentos com direções várias criam grandes problemas á defesa.
Por
outro lado, se não conseguem concretizar com a ideia inicial (gesto técnico), os
jogadores não param de jogar e optam por novo gesto (“contragesto”), de forma a ultrapassar o oponente.
O uso do drible inversão, do “Step back” e
dos lançamentos exteriores e interiores (finalizações) com a
nova regra criaram um jogo novo e imprevisível, onde os jogadores dispõem de um
grande leque de possibilidades nos movimentos. Se juntarmos a tudo isto o
conceito da bola viva, diríamos que hoje é muito mais fácil ser criativo, mas tudo isso obriga novas aprendizagens.
# “Step back “(012/011/0122):


Recebe passe de “ C” e faz novo “Step back”.
1x1. Finta
de arranque em drible para a direita. O pé esquerdo é o pé eixo.
Drible cruzado (Cross Push) , passo
cruzado (“Cross step”), bola viva.
“Step
Back “.
Criatividade
com as regras apoios (012/011/0122).
Finalizações
criativas 0-1-2-11-22?
Na “caixa“ jogam 1x1 (5 segundos). Atacante com bola ataca uma “porta” e o defesa vai em “comboio”.
1x1+ 1. O defesa X2 ajuda com os braços em
baixo…Atacante lança em “Floater”.
O defesa X2 ajuda com os braços em cima …Atacante
lança com “Eurostep”.
Criatividade nos passes…
1x0 finalizações sem drible /com drible.
Grupos de 3 jogadores. 1 e 2 com bola
driblam.2 passa a 3, corta e recebe de 1 para finalizar sem drible.1 depois de
passar corta e recebe de 3 para finalizar com drible.
Criatividade
no passe
Hoje os bases são cada dia mais criativos no
passe, certamente na sua formação não foram limitados nas suas acções.
Para trabalharmos a criatividade neste fundamento, podemos dar liberdade absoluta aos jogadores em situações de
2x0 e 3x0, pedindo apenas que não usem os passes clássicos ou guiando o mesmo
exercício e pedindo um determinado tipo de passe.
Para potenciar a criatividade, podemos usar o descobrimento guiado.
No trabalho entre postes, numa situação de 2x1, podemos pedir ao
jogador interior que realize passes não clássicos.
A criatividade no passe depende do nível técnico do jogador e da
sua leitura de jogo.
Outro detalhe considerado importante é o uso de fintas.
#Jogo da rabia
Grupos de 3 jogadores, dois atacantes e um defensor. Passes sem e
com drible.
Alguns jogadores conseguem passam sem olhar,
sobre o drible, de forma inesperada, com o companheiro
muitas vezes a não conseguir receber a bola. Leitura adiantada.
A execução criativa de um passe nasce com base na
necessidade de o usar.
A confiança
do treinador no jogador desenvolve a criatividade.
# 2X1...X2
Roda
comunicativa. 2x1…x2.
“Handicap”
defensivo. Atacante 1 penetra para o cesto. O defesa 2 sai na ajuda.
1
passa e 2 lança. Se marcam acaba o exercício, se não jogam 2x2 no outro cesto.
O treinador pode guiar o exercício pedindo um
determinado tipo de passe: 2 mãos / 1 mão no drible. Níveis diferentes.
Trabalho de todos os tipos de passe: 2 mãos …1 mão,
2 ½, com drible.
Não usam os passes clássicos (criatividade).
Ângulos, correcções
Trabalho
de dedos.
Correcções
tácticas (momento da recepção / força / lugar de recepção).
Passar
sem olhar.
Tomar
decisão sobre o tipo de passe.
Introdução
dos conceitos de pés com trabalho de criatividade.
Passar: com um pé solo / com dois pés
solo / a saltar.
# 3x2...x3
“Handicap
“ defensivo. 1 ataca o cesto em drible. pela linha. X3 o último defensor
(“Last”) sai a parar a penetração. X2 roda. 1 descobre a melhor linha de passe.
Extra passe e lançamento.
Um passe por trás costas pode ser criativo, pela novidade,
mas se não for eficaz e o mais rápido, já não é o melhor.
Os exercícios
devem criar situações extremas que se podem resolver com um passe criativo
inesperado. Se o jogador cria o passe é criatividade.
1
ataca o cesto em drible. pelo meio.
Concluindo,
todos os jogadores são mais ou menos criativos e podem treinar essa habilidade,
mas para tal devem contar com ajuda do treinador que tem de ter uma mentalidade
aberta que permita aos jogadores procurarem novas soluções sem medo da
penalização ao erro.
Jogadores
criativos necessitam de treinadores criativos.
por Mário Silva
31-10-2021
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