ESTAR VIGILANTE, O VERDADEIRO SENTIDO DA FILOSOFIA - por Jorge Araújo


A investigação e a elaboração da tese de doutoramento que ainda este ano apresentarei na Faculdade de Letras de Coimbra, (tema, “Motricidade e Corpo Expressivo”), permitiu-me perceber quanto o desporto de alto rendimento, (tal como as artes!), contribuíram ao longo dos tempos para o enriquecimento da experiência humana.

Em especial, quando me vi forçado a desenvolver um esforço continuado no sentido da compreensão da respetiva realidade, como exemplos elucidativos da experiência de corpos expressivos no mundo.

Através de muitos anos de treino intenso e rigoroso, o corpo e a motricidade dos atletas são modelados até atingirem a excelência de corpos expressivos. Como também hoje no mundo empresarial aumentou exponencialmente a importância atribuída ao treino de excelência na área comportamental, nomeadamente no que respeita à comunicação emocionalmente convincente, ao tom de voz, à linguagem utilizada, à empatia, etc.

E, em ambos os casos, pressente-se um mesmo objetivo a alcançar.

Conseguir corpos vividos que incorporem o espaço e o tempo adequados e lhes permitam sentir que o seu corpo e a sua motricidade se expressam tal como um pincel na mão de um pintor, um poeta ao escrever um poema, um maestro a dirigir uma orquestra, etc. Um todo integral, onde a posição de cada uma das suas partes através do respetivo esquema corporal e espacialidade do corpo, é entendida a partir do todo para as partes.


Profissionalmente, estou agora em muito melhores condições para cumprir aquilo a que a filosofia me vai obrigar. Refiro-me ao que Renaud Barbaras define como o “sentido de filosofar”. O sentido de filosofar encontra-se hoje profundamente transformado: mais do que saber ou conhecimento, é vigilância. [1]

Assim farei. Estarei vigilante para que o treino na área comportamental e os seus treinadores saibam estar à altura da filosofia de Merleau Ponty.

Nomeadamente, porque a filosofia de Merleau Ponty não é uma conversão ao inteligível mas uma reconquista do sensível. Se entendemos por perceção o que nos relaciona com qualquer coisa, o que nos entrega uma realidade transcendente, a filosofia de Merleau Ponty é seguramente uma filosofia da perceção.[2]

O que significa que, tal como à filosofia, ao treino comportamental de atletas e quadros de empresas deva ser exigida a responsabilidade de reaprender a ver o mundo.

Nomeadamente, assumindo que atletas ou quadros de empresas, enquanto seres de comportamento incorporado e verdadeiras potências fenomenológicas com um corpo que percebe, se relacionam e reconhecem mutuamente na transcendência da sua relação com o mundo. Cujos comportamentos, não só são motivados por um significado interior e subjetivo que nasce da própria visão interior que a pessoa tem do mundo[3]como também obedecem a um propósito humano, a uma subjetividade incorporada.[4]






[1] Renaud Barbaras, Merleau Ponty, Philo-Philosophes, Ellipses, edition marketing S.A. 1997, pagina 11

[2] Renaud Barbaras, Merleau Ponty, Philo-Philosophes, Ellipses, edition marketing S.A. 1997, pagina 5
[3] Eric Matthews, Compreender Merleau Ponty, Comportamento, página 86, Editora Vozes, Petropolis, Brasil, 2010
[4] Eric Matthews, Compreender Merleau Ponty, Comportamento, página 97, Editora Vozes, Petropolis, Brasil, 2010


por Jorge Araújo


Presidente da Team Work Consultores












9-07-2019

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