FORMAÇÃO DE TREINADORES … E NÃO SÓ
PROCESSO(S) EM CONSTANTE EVOLUÇÃO
Um País, uma federação desportiva, que
queira construir uma prática desportiva de FUTURO e COM
FUTURO terá de trabalhar profundamente sobre, entre outros, os
seguintes aspetos:
A - De acordo com dados de
investigação bastante recentes é possível identificar as seguintes funções
primárias a desenvolver pelos treinadores (entendendo-se por funções primárias
as que englobam tudo aquilo que os treinadores têm de fazer no seu dia a dia):
- Estabelecer
a visão e definir a estratégia;
- Moldar
o ambiente;
- Construir
relações;
- Conduzir
o processo de treino e preparar e gerir as competições;
- Ler e
reagir ao que se passa no terreno;
- Refletir
e aprender.
A capacidade para se envolverem em cada
uma destas funções exige aos treinadores a aplicação de um vasto conjunto de
conhecimento, habilidades e competências profissionais, as quais, por sua vez,
dependem dos contextos específicos e das exigências aí colocadas (não é a mesma
coisa treinar num clube de uma pequena localidade do interior ou noutro de um
grande centro do litoral).
Basta um olhar atento sobre que se passa
no mundo das práticas atuais para nos darmos conta de que, com honrosas
exceções, a maioria dos programas de formação de treinadores em execução
colocam o acento quase só sobre conteúdos da 4. Há, portanto, um enorme
défice de conteúdos na atual formação de treinadores que urge preencher através
de significativo upgrade da atual oferta formativa;
B - As carências de formação apontadas em A têm como um dos resultados vermos a maioria dos treinadores serem muito maus comunicadores, não dominando as competências de comunicação mais básicas. A comunicação de má qualidade leva à diminuição da autoestima das crianças e jovens, com tudo o que de muito negativo daí decorre, sendo que o abandono do Desporto nem será das consequências mais graves;
B - As carências de formação apontadas em A têm como um dos resultados vermos a maioria dos treinadores serem muito maus comunicadores, não dominando as competências de comunicação mais básicas. A comunicação de má qualidade leva à diminuição da autoestima das crianças e jovens, com tudo o que de muito negativo daí decorre, sendo que o abandono do Desporto nem será das consequências mais graves;
C - Do mesmo modo, os treinadores
continuam, em geral, a usar um estilo de liderança top-down (de cima para
baixo, como na hierarquia militar). Em sociedades democráticas até mesmo as crianças
aceitarão cada vez menos esta forma de estar. As crianças e jovens do futuro
não aceitarão treinadores com pensamento e atitudes do passado;
D - “As crianças não são adultos em
miniatura” – quantas e quantas vezes não lemos ou ouvimos isto? Quantas vezes
isto mesmo não foi já repetido em milhentas aulas de Pedagogia? Mas, então e
apesar disso, por onde andam abordagens a um processo de treino
verdadeiramente CENTRADO NA CRIANÇA?
Este problema, o do processo de treino das
crianças e jovens e também o das raparigas e mulheres ser normalmente réplica
do dos adultos masculinos, é apenas um dos muitos que afetam a prática
desportiva tanto a nível nacional como internacionalmente.
O jogo prazenteiro, a pura diversão, têm
de preceder o treino puro e duro. Esta é uma constatação imposta pelo mais
elementar bom senso, sendo certo que, para além disso, ela é suportada por
investigação séria. Os jovens têm de adorar a modalidade que praticam para
estarem disponíveis para as agruras que o processo de treino visando resultados
elevados implica;
E – Esta questão remete de imediato
para a necessidade de se repensarem os quadros competitivos disponibilizados
para a prática desportiva das crianças e jovens. Estes também são, no geral,
cópias dos regulamentados para os adultos, embora às vezes disfarçados de
“outras coisas”. Mas há outros caminhos. Seria bom refletirmos sobre o que se
decidiu a Federação de Futebol da Bélgica a qual, já há uns anos, eliminou
todos os quadros competitivos formais e todos os rankings até ao escalão de sub
14, tanto para rapazes como para raparigas. E os resultados são:
- O
número de jovens de ambos os sexos a entrarem para o futebol não para de
aumentar;
- Aparecem
cada vez mais jovens belgas que encaixam naquilo que tradicional e
genericamente se designam por talentos;
- E, qual
cereja no topo do bolo, a Bélgica lidera o ranking da FIFA! A Bélgica, um
pequeníssimo País, imagine-se …
Há mais exemplos de sucesso a provarem que
o que necessitamos é de GRANDES IDEIAS e de CORAGEM para
as implementar. A História das grandes ideias mostra que, no início, são
consideradas “estupidas” e/ou inúteis. Depois passam à categoria de
controversas, para, finalmente, entrarem no nosso quotidiano sem grandes
reservas;
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F - O ATLETA É O CENTRO DO PROCESSO DE
TREINO, O TREINADOR LIDERA ESTE E A ORGANIZAÇÃO (clube, associação, federação
…) APOIA.
A consequência disto é que tem de ser o
atleta o centro do processo de tomada de decisão em tudo o que respeita ao
desenvolvimento da atividade. Será isso que está a acontecer, ou continuamos a
discutir principalmente os problemas das organizações em vez dos problemas dos
atletas?
G - Outra das consequências do tópico
anterior é que é preciso ultrapassar rapidamente a existência de formação
apenas para os treinadores e árbitros, sendo que os gestores das organizações
terão de ter muito melhores qualificações do que as que (não) têm atualmente;
H – É absolutamente
indispensável garantir um PACTO DE CONTINUIDADE na formação
dos jovens. É urgente criar uma mentalidade de desenvolvimento a longo
prazo. Talvez não seja a solução para tudo mas arriscamos pensar que o
domínio da construção de planos plurianuais ajudaria muito. E estamos a pensar
nisto ao nível do clube, do pequeno clube. Os respetivos treinadores terão de
desenvolver muito bem as competências que isto requer, salvaguardando assim a
defesa dos interesses dos praticantes. Estes TÊM DIREITO ao
seu plano de desenvolvimento e não ao de que cada treinador que lhe calha em
sorte se lembra de aplicar;
I – E, para terminar, vou
voltar aos treinadores com a sugestão da criação de um plano para a VALORIZAÇÃO
DO PAPEL DOS TREINADORES DE JOVENS E DO SEU IMPORTANTE CONTRIBUTO SOCIAL. É
indispensável que estes tenham reais oportunidades de se centrarem sobre o
desenvolvimento holístico dos jovens praticantes em vez de sobre os
“resultados” tal como estes são geralmente entendidos. Como é sabido, estes
são, infelizmente, quase a única “tábua de salvação” na procura de uma eventual
carreira (profissional?). E isto está a revelar-se dramático.
Arrisco enquadrar todos os conteúdos deste
pequeno documento debaixo da seguinte palavra-passe – CRIAR UMA
MENTALIDADE DE MUDANÇA. E, já agora, quem não acredita na MUDANÇA não
pode fazer parte da organização.
2019.09.02