Há uns dias,
a falar com um amigo, a propósito da participação de uma equipa jovem, num
Torneio Internacional, perguntei-lhe em que é que os jogadores tinham sido
bons.
Tivemos
dificuldade em iniciar o ataque com o passe ao extremo, mudar o lado da bola e
lidar com uma pressão a que não estávamos habituados. Para não tornar o
texto muito extenso, abordarei apenas a primeira dificuldade:
·
DIFICULDADE
EM INICIAR O ATAQUE
Recordei-me,
imediatamente, de duas situações.
A de uma
equipa sénior que treinei, no início deste processo, em que queria começar o
ataque com passe ao extremo, mas os adversários criavam tal pressão, que
fazíamos muitos turn-overs, começávamos a dizer a nós próprios que era difícil
começar o ataque, sentíamo-nos irritados com colegas e com os jogadores e não
só perdíamos o equilíbrio emocional, mas também contaminávamos a relação na
equipa, não era a melhor, e os resultados.
A segunda
situação que recordo ocorreu num Campeonato do Mundo entre o Team USA e uma Seleção
Africana. Esta última tentava iniciar o ataque com passe ao extremo, mas A
Seleção dos EUA colocava tamanha pressão na bola e nas linhas de passe ao
extremo, que os roubos de bola e contra-ataque com "afundanços" se
sucediam.
Ou seja,
embora este problema possa ser mais frequente na iniciação, atrevo-me a dizer
que é comum em jogos entre equipas desequilibradas, quando pelo menos uma delas
assume a defesa como identitária ou quando os ataques são previsíveis.
Mas e se
estivermos a treinar uma equipa com “limitações” ainda por superar e que vai
jogar contra outra “mais” forte e que defenda. O que fazer para não perdermos
sucessivamente a bola, para dizermos a nós mesmos que conseguimos, mantermos o equilíbrio
emocional e obtermos o resultado desejado?
O QUE FAZER
PARA INICIAR O ATAQUE SEM PERDER A BOLA?
Recordo
situações em que as equipas alinhavam como nas figuras 1 e 2 e os extremos
cortavam nas costas à sobremarcação.
Uma solução
habitual, que hoje só vista pontualmente, envolvia a subida do poste à linha de
lance livre, com corte nas costas do extremo sobremarcado, em que habitualmente
se exploravam duas situações, a do passe direto para o corte nas costas ou “à
tabela” utilizando o passe ao poste alto e deste, vezes sem conta, picado e de
costas com a mão exterior. Esta era uma daquelas ações que, independentemente
do pavilhão ou equipa, arrancava um forte aplauso do público e comentários
elogiosos dos comentadores televisivos.
Outra
solução utilizada envolvia o drible e aclaramento. Isto é, com o base a driblar
na direção do extremo e este a cortar para o cesto podendo continuar o movimento
com corte para o lado contrário, ficar a poste baixo (neste caso o poste
poderia subir) ou repondo a posição do base (figura 4).
Entretanto,
foram surgindo novas soluções para resolver este problema. Durante uns anos,
foi frequente assistir a equipas que começavam o ataque com os extremos dentro da
área restritiva, saindo sobre bloqueios dos jogadores “grandes” (figura 5).
Com o tempo,
identificámos e usámos uma outra solução, a do drible bola à mão. O base
driblava para o extremo sobremarcado e este podia cortar nas costas, receber a
bola à mão e o base podia entregar a bola à mão e bloquear o defensor que
sobremarcava ou penetrar para o cesto, quando a defesa já esperava que entregasse
a bola ao extremo (figura 6 e 7)
Ao recordar
o que muitos dos meus treinadores me diziam, quando jogava (a base), houve
outra solução que me ocorreu e que utilizei com bons resultados. Provavelmente,
não se ouve muitas vezes nos pavilhões, mas as pessoas que tenho treinado recordarão
o que vou partilhar, porque é algo que estou sempre a dizer nos treinos. “Dividir
antes de passar”, isto é, o jogador com bola tem de atacar o cesto com o drible
antes de passar e com este comportamento o defensor que está a sobremarcar
passa a ter duas preocupações em vez de uma. A de sobremarcar e a de ajudar
sobre a penetração, ficando dividido por duas coisas e não concentrado numa
delas. Consequentemente, se ajuda a linha de passe fica aberta e o passe
acontece ou se continua a sobremarcar, então o base deve “castigar” a defesa
continuando a penetração para marcar ou assistir (figura 8).
Hoje em dia,
é frequente assistir-se à colocação dos extremos nos cantos e os grandes fora
da área restritiva, em diferentes alinhamentos. Num deles, os extremos
sobremarcados vão para os cantos e os “grandes” saem da área restritiva.
Recordo de uma equipa sénior que treinei, no tempo da A1 e A2, que tinha este
problema e que na altura esta solução se revelou essencial para começar o
ataque, sem perder a bola. Por essa altura, muitas equipas, quando viam os “grandes”
fora da área restritiva “davam-nos de borla” e por isso o base tinha linha de
passe para começar o ataque (figura 9). Por vezes, depois de passar até ia
buscar a bola à mão.
Por muitas equipas
começarem o ataque com este passe, para os “grandes” fora da área restritiva,
muitas das equipas “mais fortes”, para conseguirem exercer o seu domínio, na
defesa, começaram a pressionar estes “grandes”, os que saem fora da área
restritiva e o jogo apresentou-nos mais duas oportunidades.
A destes
jogadores fazerem bloqueios diretos inversos aos bases (figura 10) para
começarem o ataque (esta situação é frequente) e, nos últimos anos, fruto da
cada vez maior pressão sobre estes jogadores, a dos jogadores “grandes” se bloquearem
entre si antes de abrirem linhas de passe (figura 11).
Agora, os
extremos estão sobremarcados, mas nos cantos, na maior parte das posses de bola
das melhores equipas, os “grandes” estão igualmente sobremarcados, fora da área
restritiva, pelo que a oportunidade de as equipas “mais fortes” poderem
recuperar a bola se concentra na pressão do jogador com bola. O que fazer,
nestas circunstâncias?
Nestas
circunstâncias, Željko Obradović, numa formação, disse que a solução
passava por “esquecer” o ataque, abrir o jogo e fazer de imediato bloqueio
direto ao base, onde quer que estivesse a ser pressionado (figura 12).
ATAQUE - QUE
INÍCIO? HÁ ALGUM INÍCIO MELHOR?
Deixamos
aqui 12 formas de começar o ataque (há mais), em resultado da sobremarcação dos extremos.
Numa
perspetiva tradicional do jogo, poderá haver duas tendências. Uma, de “dar uma
jogada” para resolver o problema. Contudo, embora essa jogada possa resolver o problema
contra as equipas equivalentes ou “mais fracas”, dificilmente serve esse
propósito contras as equipas “mais fortes”, por se tornar previsível.
Agora,
note-se, se acredita na perspetiva tradicional de ensino do jogo, então irá “arranjar”
jogadas para todos os problemas. Provavelmente, terá muitas “jogadas”, enquanto
os jogadores pouca autonomia, liberdade e possibilidade de escolha e de
determinarem o que irão fazer. Para além disso, poderá ter que passar muitas
horas de treino a fazer 5x0, para os jogadores “memorizarem” essas jogadas.
Contudo,
vejam-se as ironias:
- Acredita que os treinadores devem ter jogadas, para resolver os problemas que os adversários lhes coloquem, mas ao se tornarem previsíveis e não deixarem grande margem de adaptação aos jogadores, embora resolva o problema contra os “mais acessíveis”, essas jogadas poderão comprometer tudo, contra as equipas “mais fortes”;
- Para os jogadores executarem todas aquelas jogadas, alguns treinadores passam grande parte do treino, uma boa parte da época, a “jogar” 5x0, mas depois, chegados ao jogo, contra os “mais fortes”, nem sequer conseguem começar o ataque e todo aquele tempo de 5x0 e jogadas nem sequer foi necessário, quanto mais utilizado, porque nem conseguiram começar as jogadas;
- A memorização será facilitada pelos marcadores somáticos associados à experiência e a utilização do que memorizamos será facilitada ou prejudicada pela qualidade desses marcadores. Quanto a experiência nos dá a possibilidade de escolher, ligar a valores e propósitos importantes e demonstrar competência o marcador somático não só facilitará a memorização, como potenciará a sua utilização. Contudo, quando comprometemos as possibilidades de os jogadores terem a iniciativa de jogarem (naturalmente segundo um quadro de conceitos, não de anarquia), quando limitámos a possibilidade de nos ligarmos a valores e propósitos importantes e quando, em consequência, não demonstramos competência, como a começar o ataque, os jogadores terão alguma dificuldades em memorizarem, mas pior, dificilmente utilizarão a preceito as jogadas treinadas. No caso do problema hoje abordado, nem sequer as irão realizar, porque nem sequer conseguiram começar o ataque.
QUAL É A
MELHOR FORMA DE COMEÇAR O ATAQUE, CONTRA EQUIPAS MAIS FORTES?
As
circunstâncias, por exemplo de treinarmos ou jogarmos em equipas que ainda não
atingiram todo o seu potencial, poderá determinar os resultados. Assim poderá
ser, se pensarmos dessa forma e tivermos essas crenças.
Contudo, o
facto de uma equipa “mais forte” sobremarcar não determina obrigatoriamente, que
não possamos ser bem-sucedidos.
Apresentadas algumas possibilidades – 12 – para contribuir para a resolução desse problema. Deixo ao livre arbítrio do leitor a melhor escolha.
Apresentadas algumas possibilidades – 12 – para contribuir para a resolução desse problema. Deixo ao livre arbítrio do leitor a melhor escolha.
João
Oliveira
20-10-2019
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