O jogador com bola poderá passar,
driblar ou lançar – quando fazer cada uma dessas possibilidades?
A abordagem que vamos realizar integra um conjunto de componentes e segue vários pressupostos, vejamos:
A abordagem que vamos realizar integra um conjunto de componentes e segue vários pressupostos, vejamos:
1.
Se pretendemos estabelecer princípios leis ou regras,
então temos de generalizar, ser abrangentes e universais, tal como em física a mãe
de todas as ciências, em que basta uma regra não se verificar e apenas uma vez,
para deixar de ser lei.
1.1.
Exemplo: A gravidade é uma lei porque se aplica
a todos os corpos.
2.
Na forma como reflito sobre este tema, não é
suficiente pensar em decidir passar ou driblar, sem saber para quê, qual o
motivo.
2.1.
Devemos então conseguir enquadrar os motivos e a
oportunidade de implementar um, ou outro gesto, e qual a razão ou o motivo da
sua necessidade? Então precisamos de mais um ingrediente que é o lançamento.
2.2.
Os fundamentos do jogo são lançar, passar e
driblar e digo por esta ordem e não outra, porque penso que logo aqui definimos
muito da importância da ORDEM, da sequência, e que ela não é inocente na
compreensão do tema.
2.3.
Estes gestos lançar, passar ou driblar e sua
prioridade são processos que só fazem sentido se contribuírem para conseguir o
objetivo do jogo que é marcar pontos, isto é, lançar e talvez meter
(determinismo e probabilidade).
3.
Se pretendermos caracterizar o momento de
decidir lançar, passar ou driblar, talvez a pergunta pertinente seja; QUER,
PODE OU DEVE LANÇAR? Resposta; Não quer, não pode ou não deve lançar. Então
depois, e só depois a pergunta se é mais adequado passar ou driblar.
3.1.
Nesta perspetiva usando o advérbio de lugar – ONDE
- é pertinente saber onde estamos no campo (referências), e esta é a primeira
pergunta para a qual é preciso uma resposta.
3.2.
Não é por acaso que, no início, os jovens
atletas dos minis se perdem no campo de jogo e as referências espaciais são uma
das preocupações iniciais no ensino do jogo.
4.
Neste caso mais uma vez, o conceito de ordem
assume um papel disciplinador no processo de raciocínio e na decisão e sabemos
que ela, a ordem, é intrínseca ao encadeamento dos processamentos mentais utilizados
para as decisões.
4.1.
Através desta regra da ordem, o advérbio de lugar,
ONDE; o adverbio de tempo, QUANDO; o advérbio de modo, COMO, e insisto nesta ordem,
como resposta eficaz ao processo de decisões, principalmente quando estão em
jogo propostas de processos e métodos em que pretendemos que seja o jogador,
ou os jogadores a decidirem, e nesse caso, temos de patrocinar critérios comuns
e universais de decisão.
4.2.
Antes da pergunta do COMO executar o passar ou
driblar, está a pergunta do QUANDO o fazer. Esta resposta depende do resultado
da perceção e da consciência de ONDE se está, tornando-se esta na base de todas
as decisões.
5.
Reconhecido o local onde estamos, as respostas
sequentes não estão pré-determinadas, são antes aleatórias, de livre arbítrio,
imprevisíveis, residindo aqui muito da beleza do desporto.
6.
MAS NÃO CHEGA APENAS saber onde, quando e como,
é preciso cruzar a técnica com os valores, e introduzir outros conceitos
necessários e condicionantes de uma boa decisão.
6.1.
Aliás deve ser assim na sociedade. Por exemplo,
se pensarmos no perigo de sociedades ou grupos dominarem a ciência da energia
atómica e não terem uma boa base de valores para a sua utilização, temos
seguramente o caos, uma tragédia.
6.2.
Decidir implica riscos e assumir responsabilidade,
tanto mais necessária num clima de total LIBERDADE na escolha, mas também de IGUALDADE,
pois as regras são iguais para todos, já que estamos a falar de valores.
6.3.
É preciso para a sustentabilidade do próprio
sistema (diria, neste caso, para a estabilidade e vida do grupo, da equipa)
introduzir outro conceito prático, o de ÁREA DE LANÇAMENTO, através da introdução
da noção de probabilidade, em oposição ou contradição ao determinismo do
sistema decorado, pois o basquetebol é um jogo de taxas de sucesso, vulgarmente
traduzidas e interpretadas na estatística e na percentagem.
6.3.1.Exemplo por mais seguro e
de elevada probabilidade de sucesso exista num lançamento, existem lançamentos
falhados, e por mais improváveis e inconcebíveis sejam alguns lançamentos
entraram no cesto. A imprevisibilidade ao serviço da emoção e da paixão.
6.4.
Precisamos de entender a necessidade do
reconhecimento de área de lançamento, como uma zona de elevada probabilidade ou
de elevada percentagem de sucesso. E porquê?
6.5.
Porque existe essa liberdade, é necessário a
correspondente responsabilidade resultante e inerente à possibilidade de se
puder decidir lançar de qualquer ponto do campo e por qualquer jogador.
6.6.
Porque existe essa possibilidade e não a podemos
excluir por ser real, não a incluir tornaria a reflexão incompleta por exclusão
de possibilidades, impossibilitando o caráter universal de uma teoria por não
ser abrangente, por não cobrir todas as situações, ou todos os intervenientes.
6.7.
Não excluímos, portanto, as variáveis resultantes
das qualidades de cada interveniente, por admitir haver especialistas em lançamentos
“costa a costa”, que não sendo frequentes, são possíveis ou se quisermos
não são impossíveis porque já aconteceram.
6.8.
Quando se introduz o valor da taxa de sucesso e
o risco associado, o primeiro é inversamente proporcional à distância, isto é,
quanto mais longe do cesto menor probabilidade de sucesso, e o risco
diretamente proporcional, menor a distância menor o risco.
6.9.
Então fica claro que, por estas razões é útil e desejável
aumentar a probabilidade e diminuir o risco, aproximando a bola do cesto (ou procurar
alguém que tenha menor grau de oposição), porque assim aumentamos a
possibilidade de sucesso no lançamento.
7.
Deixemos a componente velocidade necessária para
evitar a oposição e facilitar o lançamento, para não divagarmos do tema.
8.
APROXIMAR ou DESCOBRIR SIM, MAS COMO? Então decidir
se passar ou driblar fazem sentido?
9.
Estas noções ainda tem a sua pertinência e
oportunidade com a maturidade, com a idade, no fundo com o escalão.
10.
Mas as capacidades ou qualidades de cada escalão
e de cada atleta variam no tempo. Por isso, estes conceitos têm ainda mais uma
variável, a COMPONENTE TEMPORAL.
10.1.
Dai a necessidade de uma estratégia, um modo de abordagem
e ensino para as suas aquisições de acordo com a realidade concreta, de forma progressiva,
como desejável em todos os processos de ensino aprendizagem ou de aquisição de
conceitos e procedimentos EM TEMPO ÚTIL.
10.2.
Nestes processos de aquisição com distribuição
temporal e de progressão, também existe a necessidade de uma ordem, a que
potencia o conhecimento adquirido, pois as capacidades intelectuais para
percecionar e receber estas variáveis e conceitos sendo diferentes, potenciam-se
e exponenciam-se.
11.
É o momento de realizarmos a IMPORTÂNCIA DO
ESPAÇO, DA DISTÂNCIA, DO LUGAR NO CAMPO E DO TEMPO COMO REFERÊNCIA, nem que
seja pela simples razão que através da ordem e estabelecer um critério, ganhamos
consciência que as causas antecedem sempre os seus efeitos.
11.1.
Pensamos ser desejável conseguir resolver com os
mesmos princípios e critérios independentemente do lugar em que nos encontramos
no campo, palco onde somos chamados permanentemente a tomar decisões tais como lançar
passar ou driblar, quer seja em transição ofensiva ou em ataque planeado ½
campo.
11.2.
Exemplo: se introduzirmos a variável tempo, e o
cronometro marca 1 ou 2 segundos de tempo de jogo, a decisão correta é lançar
independentemente de onde se esteja.
12.
Regressemos ao tema em que precisamos de sentir e
definir se queremos, se pudemos ou se devemos lançar, no fundo identificar se estamos
ou não em área de lançamento e da probabilidade de sucesso, (enquadramento, equilíbrio,
grau de oposição, etc.), ou se por imposição da variável tempo não há
alternativa senão lançar.
12.1.
Sobre a decisão lançar nada mais há a dizer, (a
não ser ir ao ressalto e preparar a recuperação defensiva, sinonimo da imprevisibilidade)
12.2.
Se a decisão é não lançar então, passamos ou
driblamos? Estamos em pleno mecanismo de decisão. Nesta hipótese precisamos da decisão
seguinte;
12.2.1.
Passar, sim se for para lançamento, uma
assistência, ou seja, a opção seguinte é de PASSE PARA LANÇAMENTO, e em
alternativa, e só depois driblamos, e para quê driblar? Para lançar com melhor
probabilidade de sucesso porque progredimos para uma área de maior percentagem,
ou com menor grau de oposição.
12.2.2.
E se por qualquer imprevisibilidade própria do
jogo, não se puder finalizar (imprevisibilidade novamente) não puder lançar, então
passar para lançamento, novamente, a assistência, e não saímos dos mesmos
critérios.
12.3.
Estas regras com critérios sequenciais são para
o Michael Jordan, para o Steve Nash, para mim para e para um jogador sub qualquer
coisa, para qualquer personagem, em qualquer idade, lugar do campo, ou em
qualquer parte do mundo.
13.
Só assim se pode transformar uma teoria em princípio,
numa lei, numa regra, num axioma, num postulado ou no que se quiser, porque é
geral, e se pode aplicar em todas e quaisquer circunstâncias.
14.
O que se fornece ao decisor, ao jogador, ou aos
jogadores, são as REGRAS os CRITÉRIOS PARA DECIDIR não é a decisão, fornece-se regras
e critérios compreendidos e entendidos como necessários para o decisor e para
os restantes elementos do grupo, tornando-se num bem comum.
15.
Através das ordens de importância que decidimos
atribuir, estas ou outras mas em concordância com os objetivos, estabelecendo sequencias
temporais pela qual se formulam as respostas, de uma forma coerente, permanente
e sistemática porque aplicada em todas as situações, constitui-se um conjunto
de princípios aceites pelo grupo pela força da sua simplicidade e eficácia e
pela coesão que possibilitam.
16.
O treino é para apreender e integrar essas
regras, e a repetição melhora o tempo da decisão e a qualidade da execução
promovendo a interiorização progressiva de quem decide é o jogador.
17.
Desta forma, estabiliza-se o método de
raciocínio do decisor, base para uma boa decisão ancorada nos critérios e na sua
sequência, ingrediente que fornece segurança para as situações futuras, permite
autoconfiança, mas também confiança na decisão dos outros membros do grupo, e no
processo proposto.
18.
Neste caso as sequencias ou ordem de importância
no espaço/tempo são:
ONDE –
referências; QUANDO – o momento, timing; COMO – a técnica adquirida pelo
treino.
18.1.
Não temos tempo para a teoria da relatividade
nem para Einstein porque nem o espaço nem o tempo são absolutos, e talvez uma
das funções do treinador seja fazer com o espaço e tempo de cada jogador no seu
referencial se aproximem o mais possível, diria através do treino)
Resultado da
decisão são:
1.
ONDE estou no espaço e no tempo determina se lançar,
passar ou driblar é o mais indicado.
2.
QUANDO lançar, de acordo com a noção do sucesso
possível, ou é melhor passar seguramente se é para um lançamento de maior
probabilidade, e só depois o drible; e repete após o drible com o objetivo de lançar
com maior probabilidade, (mais perto ou com menos oposição), e caso não lance, novamente
passar para lançamento, assistindo.
3.
COMO lançar, passar e driblar. Gestos técnicos de
acordo com o lugar e as circunstâncias, escolher e forma mais eficiente e acima
de tudo mais eficaz para executar e isso diz respeito à técnica e ao estilo.
É apenas uma forma de abordar ou refletir, mas tem o
predicado de definir com clareza, o que fazer, com uma dose de coerência e uma validade,
com elevado grau de aceitação pelos jogadores da qual existe experiência de
implementação, fugindo a idealismos teóricos e pode ser utilizada desde os
minis até aos seniores, por isso a acho útil e poderosa,
Aniceto
do Carmo
23.12.2019
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