O Paradoxo da Crença - por João Oliveira


“Não acredito que as coisas mudem”. Já ouvimos alguém dizer isto?

Algumas vezes e perante coisas muito importantes, há pessoas que desejam muito a melhoria da situação, a sua mudança, mas não acreditam ou já não acreditam que as coisas possam mudar.


ONDE ESTÁ O PARADOXO?


Antes de explorar a resposta, irei fazer uma breve reflexão, baseada na resposta a uma questão, que poderá ajudar a contextualizar resposta.


COMO SURGEM AS CRENÇAS?

As pessoas têm necessidades e a experiência vai "mostrando" como essas necessidades podem ser ou não satisfeitas.

Quando essas necessidades são satisfeitas por algo, as pessoas vão "depositando" consciente ou inconscientemente (mais vezes a segunda do que a primeira) crenças, aquilo que acreditam ser verdade para satisfazer essas necessidades, e essas verdades irão ser aplicadas no seu futuro. Ou seja, consciente ou inconscientemente, estamos sempre a responder à seguinte questão: o que é que a experiência me mostrou que é verdade para satisfazer as minhas necessidades?

Concretizando, se um jogador quer jogar e treinador apenas convoca os jogadores que fazem todos os treinos e se esforçam, então o jogador "deposita" a crença da assiduidade e do esforço.

Se um treinador quer ganhar e consegue-o através do jogo em equipa, então o treinador vai "depositar" a crença do trabalho em equipa.

Se um dirigente desejar que o seu clube, associação ou federação vá longe e consegue-o através de uma estratégia deliberada, de uma estrutura coerente libertadora, de uma equipa comprometida e cooperante e de uma ação eticamente sensata, esse dirigente vai acreditar na estratégia, na estrutura, na equipa e na ética.

Estas crenças (deste jogador, treinador e dirigente) passarão a orientar a ação de todos eles, no futuro. Por isso, as pessoas poderão acabar por tornarem-se no que acreditam, o jogador sendo assíduo e esforçado, o treinador apoiando-se na equipa e o dirigente concretizando com estratégia, estrutura, equipa e ética.

Contudo, da mesma forma que um computador que funciona bem pode passar a dar problemas, quando são "depositados" vírus. Ou seja, este fenómeno pode ser inquinado e o mesmo pode acontecer com as pessoas (jogadores, treinadores, dirigentes, árbitros, ...), quando "depositam" crenças que não promovem o bem comum, que não funcionam bem, para todos, ao longo do tempo.

Isto é, imagine-se que o jogador quer jogar, mas o treinador só coloca a jogar os bajuladores em vez de quem é assíduo e esforçado ou que o treinador ganha através do desempenho de um “jogador estrela” em detrimento da equipa ou o dirigente consegue ir longe pelo lobby e não pela estratégia, estrutura, equipa e ética. Agora as crenças que cada um "deposita" serão diferentes e o seu comportamento também será diferente, no futuro.

Neste caso e embora cada um deles possa satisfazer as suas necessidades no imediato, muito dificilmente as poderá repetir e, pior ainda, não fará o melhor para todos, ao longo do tempo. Nestas situações, estas pessoas poderão estar a "depositar" vírus no seu sistema de crenças e, tal como um computador, poderão passar a funcionar abaixo do que desejam ou são capazes.

O problema poderá tornar-se ainda pior, se o jogador que depositou a bajulação passar a ser pai, diretor de um departamento, de uma escola, de um hospital, (...), e recompensar os bajuladores, no futuro. Nascerá a cultura de Bajulação.

Por tudo isto, pode-se compreender a importância pessoal e social do que estamos a tentar abordar e que "fechar os olhos" a estas questões é desaproveitar as enormes potencialidades humanas e sociais do desporto, no caso do Basquetebol, é sabotar os desejos, os objetivos, as ambições e aspirações das pessoas, as equipas e das organizações.

Há assim a necessidade de "depositar" crenças sensatas moral e eticamente (funcionais) e de impedir ou remover o "depósito" de crenças virais (disfuncionais) é relevante, pode fazer toda a diferença.

Voltando à questão em causa, a do PARADOXO DA CRENÇA.


ONDE ESTÁ O PARADOXO DA CRENÇA?

Se as pessoas "depositarem" a crença de que “as coisas não mudam”, que tudo vai ficar na mesma, como as crenças influenciam os nossos comportamentos, então ao não acreditamos que as coisas podem mudar, então elas não vão mudar e esse resultado irá reforça a crença.

Se confrontarmos estas pessoas e se ainda tiverem um resquício de esperança poderão responder "ver para crer". Ou seja, mostra-me que as coisas mudam, melhoram, depois e só depois eu acredito e só depois de acreditar é que farei algo.

Tudo se torna ainda mais comprometedor porque o “como fazer”, para chegar a algum objetivo, só ser revelado a quem acredita. Pelo que se não acredito ou só o faço depois de ver, nunca irei descobrir o “como fazer”, para lá chegar e consequentemente nunca lá chegarei, por repetir as soluções que não funcionaram, esperando resultados diferentes.

Paradoxalmente as pessoas querem que as coisas mudem, melhorem, mas ao terem "depositado" crenças virais, como ver para crer, ao não acreditarem que as coisas podem mudar, elas não vão descobrir o “como fazer” para mudar e, consequentemente, nada mudará.

Nestes casos, a mudança cai numa "armadilha paradoxal" e fica comprometida. Os sonhos acabam por ser sabotados.

Isto aplica-se a todos os setores da vida e, portanto, também ao Basquetebol.

Por isso, para todos os sistemas, as crenças das pessoas em lugares chave são de vital importância para se conseguir o que se deseja para o seu futuro.

Se um jogador não acreditar que consegue jogar, não irá jogar.

Se um treinador não acreditar na defesa, as suas equipas não irão defender bem. Esta poderá ser uma das razões por que as pessoas têm acesso a tanto conhecimento, mas por não acreditarem, não fazem o que aprenderam. Se for o caso, para além de ensinar técnicas e táticas, (…), há que verificar e atualizar as crenças dos Treinadores, se realmente desejarmos que os “comos” ensinados sejam realmente implementados. Será que estas são preocupações explícitas, nos diferentes níveis de formação de Treinadores?

Se um responsável por uma organização não acreditar que podemos "encher" os pavilhões, já sabe como estarão os pavilhões.

Se um selecionador que não acreditar que podemos chegar a uma fase final de um europeu, por esta altura, também já deve saber qual será o resultado.

Se um diretor técnico não acreditar nos pilares das organizações grandiosas, alguma vez essa organização será grandiosa?

Se um presidente não acreditar que podemos estar numa competição internacional de relevo, por exemplo, fases finais de europeus, quando é que isso irá acontecer?

Este conjunto de crenças funciona bem, para todos, ao longo do tempo?


HAVERÁ UMA CRENÇA ALTERNATIVA?

Vou procurar explorar o outro lado da "moeda" o das pessoas que acreditam que “as coisas podem mudar”.

O dia passa a noite e a noite dá lugar ao dia. Nascemos e não falamos, escrevemos, andamos, andamos, (...) e depois, em grande escala, mudamos e passamos a fazer tudo isso. Já com alguma idade, mudamos e passamos a conduzir. Tudo muda, até o posicionamento das cozinhas numa casa. Há uns anos as cozinhas das moradias ficavam para trás, agora passaram a ser instalada na frente.

Pode-se perguntar: o que é que permite a estas pessoas mudarem ou a facilitarem a mudança nas outras pessoas?

Acreditar antes de ver foi o que fez um jogador a quem lhe disseram que não iria longe e depois se tornou no melhor jogador do mundo ou o que fez uma pessoa conseguir a independência de um país pacificamente, através da estratégia da não violência ativa.

Estas pessoas "acreditaram antes de ver" e ao acreditarem e por acreditarem, elas foram descobrindo formas de como fazer e tornar a mudança desejada em realidade. Isto porque, o “como” fazer só é revelado a quem acreditar que consegue fazer. Estas pessoas sentem que para fazer acontecer algo, têm primeiro de acreditar que isso pode ser feito. Acreditar torna-se num primeiro passo e estas pessoas acabam por criar as coisas duas vezes, uma quando as imaginam (acreditar faz parte deste processo) e outra quando as concretizam. Isto não significa que basta acreditar para que as coisas aconteçam, mas que para acontecerem é preciso acreditar. Ou seja, acreditar é um requisito para fazer as coisas acontecerem.

Se as pessoas interessadas pelo Basquetebol acreditarem em VER PARA CRER, embora possam ter a melhor das intenções, não irão descobrir como tornar as ambições em realidade e paradoxalmente nunca irão ver acontecer o que desejam, por sabotagem a descoberta do "como fazer".

Contudo, se essas pessoas acreditarem antes de ver, então irão descobrir formas de como fazer para tornar os sonhos em realidade. Neste caso, o caminho não será fácil, mas já será possível por acreditar primeiro.

Portanto, se o que conseguimos fazer depende do que acreditamos que conseguimos fazer, então as crenças podem ser o termostato que regula aquilo que conseguimos na vida.

Por isso, mais do que mudar de pessoas, é vital verificar as suas crenças e se elas forem funcionais excelente. Se não forem, poderá ajudar saber se essas pessoas as querem mudar ou não. Por este motivo, mudar de pessoas só é uma necessidade quando não acreditam nem querem mudar as crenças limitadoras do bem comum.

Acreditar que podemos (a) formar melhores treinadores, jogadores, árbitros e dirigentes, (b) ter basquetebol que também pode ser um espetáculo que leve as pessoas a encher os pavilhões, (c) ter organizações que potenciem e libertem a capacidade das pessoas, e (d) atrair mais adeptos e patrocinadores é o melhor para todos, ao longo do tempo? Resulta no bem comum?

Cada um fará a sua escolha: ver para crer ou acreditar para ver.

Eu acredito para ver que o Basquetebol vai Melhorar ainda mais.

E Você também acredita para ver?


Esta é uma ideia chave na Melhoria do Basquetebol (e não só) a de acreditar para ver.


por João Oliveira
8-03-2020









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