Basquetebol: Que quadros competitivos são possíveis? - por António Pereira

A 11 de março de 2020, a NBA suspendeu a competição devido a um jogador ter acusado um teste positivo a Covid-19. O impacto no mundo do basquetebol mundial e noutras modalidades foi imediato e quase todas as competições foram suspensas.

De lá para cá, aprendemos que o vírus veio para ficar e que teremos de aprender a lidar com ele respeitando três regras básicas: distanciamento social, uso de máscara e higienização das mãos.

Com estas regras, coloca-se a questão de como se pode realizar a prática de desportos coletivos, principalmente quando o estatuto de várias competições é amador, como é o caso da Liga Placard.

Por outro lado, a possibilidade de uma réplica ou de uma segunda vaga do Covid-19 é assumida, claramente, pelos políticos portugueses e mundiais, responsáveis da DGS (Direção Geral de Saúde) e da OMS (Organização Mundial de Saúde).

Recentemente, o Diretor Geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, até afirmou: “O pior ainda está para vir".

Coloca-se assim a questão: que tipo de quadros competitivos podemos vir a ter, para a concretização da prova com sucesso, ainda que possa surgir a hipótese de a interromper temporariamente ou, no limite, cancelá-la?

A hipótese de levar a efeito uma competição regular alargada no tempo coloca desafios aos quais ninguém pode responder com absoluta certeza.

Analisando os exemplos de quem, nesta fase, retomou as competições profissionais, somos alertados para a necessidade de proceder a testes de rastreio de Covid-19 – às vezes, mais do que um por semana – aos profissionais (técnicos, atletas e restante staff das equipas, bem como a juízes) e consciencializar este grupo e quem lhe está mais próximo a assumir muitos cuidados no contacto social.

Neste cenário, colocam-se diversas questões à volta da realização da Liga Placard, Liga Feminina, Taça de Portugal, Taça da Liga e restantes competições, nomeadamente as que envolvem os jovens.

Dois temas a desenvolver:

1 - Saúde:

Para haver um controlo adequado sobre a saúde dos membros do plantel, num total de vinte (20) pessoas – dirigentes, treinadores, atletas, fisioterapeuta, outros elementos –, no mínimo deveriam ser considerados levar a efeito dois (2) testes por mês.

Assim, colocam-se as seguintes perguntas:

- Quantos testes a Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB) prevê realizar durante a época desportiva?

- Quem será o responsável pelo pagamento dos testes?

- Os testes devem contemplar todos os juízes e oficiais de mesa, sendo neste caso necessário escolher um grupo restrito e em número suficiente para o desenrolar dos jogos e da competição.

- Se algum elemento acusar positivo, qual a decisão a tomar? Isolamento do infetado? Isolamento de todo o grupo? Equipas com quem esteve em contacto? O que acontece à equipa do ponto de vista desportivo?

- Que tipos de responsabilidade assume a FPB e os clubes, atendendo a que se desconhecem na totalidade os efeitos diretos e indiretos do Covid-19?

 

2 - Quadro competitivo:

- Se o objetivo for começar e terminar uma competição, e esse deve ser o espírito que deve levar à decisão sobre a escolha do modelo competitivo, não nos parece ser possível promover quadros competitivos ou alguma das suas fases extensas no tempo.

Assim propomos:

- Realização de quadros competitivos situados num curto espaço de tempo;

- A época desportiva poderá ser composta por diversas competições independentes umas das outras, por forma a permitir começar e terminar cada competição em disputa, sem prejudicar a competição seguinte;

- Para que tal possa ser possível, para além das regras de saúde já definidas, o quadro competitivo só pode começar quando o valor de R for inferior a um. Quanto a isto, as equipas devem chegar a acordo com a FPB e DGS. Enquanto o R não estiver abaixo do valor definido nenhuma competição deve ser levada a efeito.

 

Liga Placard

Opção A

- Quadro competitivo curto;

- Todas as equipas jogam contra as outras, sendo que cada equipa deverá fazer dois jogos por semana (ou fim de semana) em dias intervalados (dia 1 e 3 e outro conjunto de equipas nos dias 2 e 4 por exemplo);

- Teríamos assim catorze equipas (14), vinte e seis jogos (26) por equipa, o que leva a competição a realizar-se em 13 semanas, numa primeira fase;

Na minha opinião, 13 semanas é um tempo que considero demasiado extenso para o desenvolvimento da fase correspondente a uma época regular, mas tendo em conta o estatuto de competição amador e o número de equipas, parece-me difícil encurtar no tempo, a não ser que se possa aproveitar dias de feriados, para realizar jornadas nessas datas;

- Depois da 1ª fase, deve-se avançar de imediato para os play-offs, podendo ser aconselhável que estes sejam disputados pelas primeiras quatro (4) equipas, em vez de oito (8), como era habitual;

Num modelo a quatro equipas, pode-se vir a considerar que esta fase seja disputada em local a designar e em isolamento.

 

Opção B

- O sistema de competição seria igual ao de um campeonato do Mundo, permitindo assim realizar uma unidade de competição num curto espaço de tempo;

- As equipas apuradas para disputar a Liga Placard seriam divididas em dois (2) grupos de sete (7);

- As séries seriam constituídas por 1,3,5,7,9,11 e 13 e 2,4,6,8,10,12 e 14, consoante o ranking/classificação alcançada da época de 2019/2020;

- A equipa que subiu da Proliga será designada por 13 e a que subir por via da liguilha será a 14;

- Neste formato competitivo, o tempo de duração será mais curto do que a opção A;

- As jornadas seriam duplas, sendo que cada equipa faria dois (2) jogos por semana em dias intervalados (dia 1 e 3 e outro conjunto de equipas nos dias 2 e 4 por exemplo);

 

Opção C

Constituição de dois (2) grupos de sete (7) equipas.

- 1ª Fase – Todas as equipas jogariam contra todos, em casa e fora – total 12 jogos;

- 2º Fase – Todas as equipas jogariam contra todas as outras 1 vez – total sete (7) jogos. O critério de jogar fora ou em casa dependeria de um sorteio;

- Fina Four com vencedores de cada grupo e as duas (2) equipas que tiverem melhor % de vitórias e derrotas;

Notas:

- A 1ª Fase pode ser realizada num único pavilhão em quatro (4) fins de semana;

-  A 2ª Fase pode ser realizada da mesma forma como opção ou em sistema como descrito;

No caso de a competição se realizar em diversos fins de semana, de forma concentrada, todas as equipas deveriam organizar um fim de semana no seu recinto;

 

Taça de Portugal

Deve-se realizar de início da época, sem paragem, devido aos constrangimentos já referidos, podendo e devendo ser no início da época para possibilitar as equipas ganharem ritmo competitivo.

 

Taça da Liga

A Taça da Liga pode e deve ser jogada depois da Liga Placard, podendo neste caso os plantéis das equipas serem compostos quase na íntegra por jogadores portugueses, levando a uma menor presença e impacto de jogadores estrangeiros por equipa.

Os jogadores nacionais usufruiriam de minutos, experiência competitiva e seria possível avaliá-los em situações reais de jogo.

Disputa da competição através de séries, apurando o primeiro de cada grupo para uma final a quatro (4) ou uma final a dois (2), dependente do número que disputarem a competição.

 

Liga Feminina e outras competições

Seguindo os mesmos princípios quer em relação às questões de saúde e desportiva, devem-se ajustar os quadros competitivos por forma a começarem e acabar.

 

Formação

Campeonatos Distritais, Regionais e Nacionais:

Constituição de grupos de quatro (4) equipas, consoante o ranking das equipas

 

Nota 1:

a)       O ranking de sub-14 reflete apenas a classificação dos sub-14 da época anterior;

b)       O ranking sub-16 reflete classificações de sub-14 e sub-16 do ano anterior; o mesmo ocorreria nos escalões superiores, refletindo as classificações do próprio escalão e apenas do imediatamente anterior;

c)       O Grupo A seria constituído, assim, pelos quatro melhor classificados do ranking e assim sucessivamente;

d)       Nas provas nacionais, o ranking será definido pelo ranking das Associações de há dois anos, atendendo à interrupção dos campeonatos nacionais na última temporada;

1ª Fase – Todas as equipas jogam contra todos, a uma só volta, sendo o fator casa definido pela classificação do ranking – total três jogos – com promoção do 1.º classificado e despromoção do 4.º classificado ao grupo imediatamente superior ou inferior, respetivamente.

Realização do número de fases possíveis face aos constrangimentos do Covid-19 e até atingir o momento de Final Four de apuramento para os nacionais e Final Four de apuramento para as restantes competições do calendário.

Final Four Distrital, Regional – Sistema de todos contra todos, num fim de semana, em pavilhão neutro.

Final Four Nacional – Sistema de todos contra todos, num fim de semana, em pavilhão neutro, com os dois primeiros classificados de Norte e Sul. A(s) equipa(s) de Açores e Madeira teriam de disputar jogo prévio à fase final, no dia imediatamente anterior ao início da competição, frente a segundo(s) classificados de Norte e/ou Sul.

Nota 2:

Este modelo competitivo permitirá, ao fim de três ou quatro fases, uma muito maior aproximação da realidade do valor desportivo das equipas.

Este modelo competitivo já é praticado na AB Lisboa.

 

Conclusão

Em tempos de incerteza, temos, contudo, uma certeza: queremos começar uma competição e terminar a mesma competição.

Queremos que a época se possa prolongar no tempo, tal como em épocas anteriores, mas salvaguardando a situação de que em caso de uma paragem necessária no quadro competitivo em disputa, esta paragem não comprometa as competições seguintes.

Esperando que não se concretize uma réplica ou uma segunda vaga, contudo, deve o basquetebol português preparar-se para o efeito de uma forma realista, escolhendo quadros competitivos inovadores e que permitam o normal desenvolvimento das competições.

Dentro dos atuais condicionalismos, podemos não vir a ter campeonato ou começar mais tarde, mas devemos optar por quadros competitivos que possibilitem terminar o que se começou.

Não é por acaso que o Ministério da Educação tem o plano A, B e C no que se refere ao modelo de como as aulas vão administradas.

Não podemos defraudar as expetativas dos clubes, dos atletas, treinadores, juízes, patrocinadores, parceiros e adeptos. O basquetebol não se pode ausentar do mundo desportivo.

A nossa obrigação é para com todos os stakeholders do jogo e esse compromisso é algo que nunca pode estar em causa.

Começar uma competição e ela ter de acabar devido a haver intervenientes infetados com o Covid-19 seria demasiado negativo, para a imagem do basquetebol e do desporto.

Do ponto de vista de marketing e comunicação do desporto, devemos comunicar quem somos, porque o fazemos e o que esperamos alcançar com a disputa das diversas competições, nestas circunstâncias adversas.

Nada é mais frustrante do que não se concluir o que se começou e os desportistas como pessoas habituadas a competir, a atingir objetivos, desejam e anseiam que todas as competições se concluam.

Cabe à FPB e clubes/organizações desportivas aplicarem o conceito do bom senso, escolhendo os quadros competitivos que possibilitem, competições interessantes, credíveis e possam ser levadas à prática.

 





4.07.2020

António Pereira


António Pereira, é um ex-jogador e ex-treinador de basquetebol, tendo desenvolvido a função de scouting durante vários anos. É licenciado em Comunicação Organizacional com as especialidades de Comunicação de Marketing e Comunicação de Relações Públicas, Mestre em Marketing e Comunicação e escreve sobre Gestão do Desporto, Marketing e Comunicação do Desporto no blog https://apbasketball.blogspot.com/, no jornal A Bola on-line, entre outros.

 

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