A 11 de março de 2020, a NBA suspendeu a competição devido a um jogador ter acusado um teste positivo a Covid-19. O impacto no mundo do basquetebol mundial e noutras modalidades foi imediato e quase todas as competições foram suspensas.
De lá
para cá, aprendemos que o vírus veio para ficar e que teremos de
aprender a lidar com ele respeitando três regras básicas: distanciamento
social, uso de máscara e higienização das mãos.
Com estas
regras, coloca-se a questão de como se pode realizar a prática de desportos
coletivos, principalmente quando o estatuto de várias competições é amador,
como é o caso da Liga Placard.
Por
outro lado, a possibilidade de uma réplica ou de uma segunda vaga do
Covid-19 é assumida, claramente, pelos políticos portugueses e mundiais,
responsáveis da DGS (Direção Geral de Saúde) e da OMS (Organização Mundial de
Saúde).
Recentemente,
o Diretor Geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, até afirmou: “O pior ainda está para
vir".
Coloca-se
assim a questão: que tipo de quadros competitivos podemos vir a ter, para a
concretização da prova com sucesso, ainda que possa surgir a hipótese de a
interromper temporariamente ou, no limite, cancelá-la?
A
hipótese de levar a efeito uma competição regular alargada no tempo coloca
desafios aos quais ninguém pode responder com absoluta certeza.
Analisando
os exemplos de quem, nesta fase, retomou as competições profissionais,
somos alertados para a necessidade de proceder a testes de rastreio de
Covid-19 – às vezes, mais do que um por semana – aos profissionais (técnicos,
atletas e restante staff das equipas, bem como a juízes) e consciencializar
este grupo e quem lhe está mais próximo a assumir muitos cuidados no contacto
social.
Neste
cenário, colocam-se diversas questões à volta da realização da Liga Placard, Liga
Feminina, Taça de Portugal, Taça da Liga e restantes competições, nomeadamente
as que envolvem os jovens.
Dois
temas a desenvolver:
1 -
Saúde:
Para
haver um controlo adequado sobre a saúde dos membros do plantel, num total de
vinte (20) pessoas – dirigentes, treinadores, atletas, fisioterapeuta, outros
elementos –, no mínimo deveriam ser considerados levar a efeito dois (2)
testes por mês.
Assim,
colocam-se as seguintes perguntas:
- Quantos
testes a Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB) prevê realizar
durante a época desportiva?
- Quem
será o responsável pelo pagamento dos testes?
- Os
testes devem contemplar todos os juízes e oficiais de mesa, sendo neste
caso necessário escolher um grupo restrito e em número suficiente para o
desenrolar dos jogos e da competição.
- Se
algum elemento acusar positivo, qual a decisão a tomar? Isolamento do infetado?
Isolamento de todo o grupo? Equipas com quem esteve em contacto? O que acontece
à equipa do ponto de vista desportivo?
- Que
tipos de responsabilidade assume a FPB e os clubes, atendendo a que se
desconhecem na totalidade os efeitos diretos e indiretos do Covid-19?
2 - Quadro
competitivo:
- Se o
objetivo for começar e terminar uma competição, e esse deve ser o
espírito que deve levar à decisão sobre a escolha do modelo competitivo,
não nos parece ser possível promover quadros competitivos
ou alguma das suas fases extensas no tempo.
Assim
propomos:
-
Realização de quadros competitivos situados num curto espaço de tempo;
- A
época desportiva poderá ser composta por diversas competições independentes umas das
outras, por forma a permitir começar e terminar cada competição em disputa, sem
prejudicar a competição seguinte;
- Para
que tal possa ser possível, para além das regras de saúde já definidas, o
quadro competitivo só pode começar quando o valor de R for inferior a um.
Quanto a isto, as equipas devem chegar a acordo com a FPB e DGS. Enquanto o R
não estiver abaixo do valor definido nenhuma competição deve ser levada a
efeito.
Liga
Placard
Opção
A
- Quadro
competitivo curto;
- Todas
as equipas jogam contra as outras, sendo que cada equipa deverá fazer dois
jogos por semana (ou fim de semana) em dias intervalados (dia 1 e 3 e outro
conjunto de equipas nos dias 2 e 4 por exemplo);
-
Teríamos assim catorze equipas (14), vinte e seis jogos (26) por equipa, o que
leva a competição a realizar-se em 13 semanas, numa primeira fase;
Na
minha opinião, 13 semanas é um tempo que considero demasiado extenso para o
desenvolvimento da fase correspondente a uma época regular, mas tendo em conta
o estatuto de competição amador e o número de equipas, parece-me difícil
encurtar no tempo, a não ser que se possa aproveitar dias de feriados, para
realizar jornadas nessas datas;
-
Depois da 1ª fase, deve-se avançar de imediato para os play-offs, podendo ser
aconselhável que estes sejam disputados pelas primeiras quatro (4) equipas, em
vez de oito (8), como era habitual;
Num
modelo a quatro equipas, pode-se vir a considerar que esta fase seja disputada
em local a designar e em isolamento.
Opção
B
- O sistema
de competição seria igual ao de um campeonato do Mundo, permitindo assim realizar
uma unidade de competição num curto espaço de tempo;
- As
equipas apuradas para disputar a Liga Placard seriam divididas em dois (2)
grupos de sete (7);
- As
séries seriam constituídas por 1,3,5,7,9,11 e 13 e 2,4,6,8,10,12 e 14, consoante
o ranking/classificação alcançada da época de 2019/2020;
- A
equipa que subiu da Proliga será designada por 13 e a que subir por via da
liguilha será a 14;
- Neste
formato competitivo, o tempo de duração será mais curto do que a opção A;
- As
jornadas seriam duplas, sendo que cada equipa faria dois (2) jogos por semana em
dias intervalados (dia 1 e 3 e outro conjunto de equipas nos dias 2 e 4 por
exemplo);
Opção
C
Constituição
de dois (2) grupos de sete (7) equipas.
- 1ª
Fase – Todas as equipas jogariam contra todos, em casa e fora – total 12 jogos;
- 2º
Fase – Todas as equipas jogariam contra todas as outras 1 vez – total sete (7)
jogos. O critério de jogar fora ou em casa dependeria de um sorteio;
- Fina
Four com vencedores de cada grupo e as duas (2) equipas que tiverem melhor % de
vitórias e derrotas;
Notas:
- A 1ª
Fase pode ser realizada num único pavilhão em quatro (4) fins de semana;
- A 2ª Fase pode ser realizada da mesma forma
como opção ou em sistema como descrito;
No
caso de a competição se realizar em diversos fins de semana, de forma
concentrada, todas as equipas deveriam organizar um fim de semana no seu recinto;
Taça
de Portugal
Deve-se
realizar de início da época, sem paragem, devido aos constrangimentos já
referidos, podendo e devendo ser no início da época para possibilitar as
equipas ganharem ritmo competitivo.
Taça
da Liga
A Taça
da Liga pode e deve ser jogada depois da Liga Placard, podendo neste caso os plantéis
das equipas serem compostos quase na íntegra por jogadores portugueses, levando
a uma menor presença e impacto de jogadores estrangeiros por equipa.
Os
jogadores nacionais usufruiriam de minutos, experiência competitiva e seria
possível avaliá-los em situações reais de jogo.
Disputa
da competição através de séries, apurando o primeiro de cada grupo para uma
final a quatro (4) ou uma final a dois (2), dependente do número que disputarem
a competição.
Liga
Feminina e outras competições
Seguindo
os mesmos princípios quer em relação às questões de saúde e desportiva,
devem-se ajustar os quadros competitivos por forma a começarem e acabar.
Formação
Campeonatos
Distritais, Regionais e Nacionais:
Constituição
de grupos de quatro (4) equipas, consoante o ranking das equipas
Nota
1:
a) O ranking de sub-14 reflete apenas a
classificação dos sub-14 da época anterior;
b) O ranking sub-16 reflete classificações
de sub-14 e sub-16 do ano anterior; o mesmo ocorreria nos escalões superiores,
refletindo as classificações do próprio escalão e apenas do imediatamente
anterior;
c) O Grupo A seria constituído, assim, pelos
quatro melhor classificados do ranking e assim sucessivamente;
d) Nas provas nacionais, o ranking será
definido pelo ranking das Associações de há dois anos, atendendo à interrupção
dos campeonatos nacionais na última temporada;
1ª
Fase – Todas as equipas jogam contra todos, a uma só volta, sendo o fator casa
definido pela classificação do ranking – total três jogos – com promoção do 1.º
classificado e despromoção do 4.º classificado ao grupo imediatamente superior
ou inferior, respetivamente.
Realização
do número de fases possíveis face aos constrangimentos do Covid-19 e até
atingir o momento de Final Four de apuramento para os nacionais e Final Four de
apuramento para as restantes competições do calendário.
Final
Four Distrital, Regional – Sistema de todos contra todos, num fim de semana, em
pavilhão neutro.
Final
Four Nacional – Sistema de todos contra todos, num fim de semana, em pavilhão
neutro, com os dois primeiros classificados de Norte e Sul. A(s) equipa(s) de
Açores e Madeira teriam de disputar jogo prévio à fase final, no dia
imediatamente anterior ao início da competição, frente a segundo(s)
classificados de Norte e/ou Sul.
Nota
2:
Este
modelo competitivo permitirá, ao fim de três ou quatro fases, uma muito maior
aproximação da realidade do valor desportivo das equipas.
Este
modelo competitivo já é praticado na AB Lisboa.
Conclusão
Em tempos
de incerteza, temos, contudo, uma certeza: queremos começar uma competição e
terminar a mesma competição.
Queremos
que a época se possa prolongar no tempo, tal como em épocas anteriores,
mas salvaguardando a situação de que em caso de uma paragem necessária no
quadro competitivo em disputa, esta paragem não comprometa as competições
seguintes.
Esperando
que não se concretize uma réplica ou uma segunda vaga, contudo, deve o
basquetebol português preparar-se para o efeito de uma forma realista, escolhendo
quadros competitivos inovadores e que permitam o normal desenvolvimento das
competições.
Dentro
dos atuais condicionalismos, podemos não vir a ter campeonato ou começar mais
tarde, mas devemos optar por quadros competitivos que possibilitem terminar o
que se começou.
Não é
por acaso que o Ministério da Educação tem o plano A, B e C no que se
refere ao modelo de como as aulas vão administradas.
Não
podemos defraudar as expetativas dos clubes, dos atletas, treinadores, juízes, patrocinadores,
parceiros e adeptos. O basquetebol não se pode ausentar do mundo
desportivo.
A
nossa obrigação é para com todos os stakeholders do jogo e esse
compromisso é algo que nunca pode estar em causa.
Começar
uma competição e ela ter de acabar devido a haver intervenientes infetados com
o Covid-19 seria demasiado negativo, para a imagem do basquetebol e do desporto.
Do ponto
de vista de marketing e comunicação do desporto, devemos
comunicar quem somos, porque o fazemos e o que esperamos alcançar com a disputa
das diversas competições, nestas circunstâncias adversas.
Nada é
mais frustrante do que não se concluir o que se começou e os desportistas como
pessoas habituadas a competir, a atingir objetivos, desejam e anseiam que todas
as competições se concluam.
Cabe à
FPB e clubes/organizações desportivas aplicarem o conceito do bom
senso, escolhendo os quadros competitivos que possibilitem,
competições interessantes, credíveis e possam ser levadas à prática.
4.07.2020
António Pereira
António
Pereira, é um ex-jogador e ex-treinador de basquetebol, tendo desenvolvido a
função de scouting durante vários anos.
É licenciado em Comunicação Organizacional com as especialidades de Comunicação
de Marketing e Comunicação de Relações Públicas, Mestre em Marketing e
Comunicação e escreve sobre Gestão do Desporto, Marketing e Comunicação do
Desporto no blog https://apbasketball.blogspot.com/,
no jornal A Bola on-line, entre outros.
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