Como o COVID-19 pode contribuir para a melhoria do basquetebol português? - por António Pereira

O atual momento da atividade desportiva, condicionada pela pandemia por COVID-19, tem-me levado a refletir sobre a prática desportiva, especialmente no basquetebol, fazendo-me revisitar algumas memórias, sobre alguns temas. 

Lembro-me que um dos primeiros anuários americanos que consegui adquiri tinha o título “Basketball - The most skilled game”, o que traduzido poderia dizer “Basquetebol – O jogo mais técnico”, o que na altura me enchia de orgulho, por estar ligado a uma modalidade referenciada desta forma.

Uma das minhas outras referências da altura, o basquetebol italiano ou o “Spaghetti Circuit” que era a alcunha da competição, por essa altura, tentava ganhar espaço ao basquetebol americano, através da contratação de nomes sonantes da NBA e do melhor que havia da NCAA, juntando excelentes ações de comunicação e marketing. A revista Superbasket, todos os inícios da época, afirmava uma mensagem aos “tiffosi” - o basquetebol era um jogo de erros - contribuindo para a criação de uma cultura onde o erro ditava a sorte do jogo entre a vitória e a derrota. “Quem faz menos erros ganha” - dizia-se então por Portugal como dando razão aos transalpinos.

Na minha mente foi-se desenvolvendo a ideia da importância do desenvolvimento da técnica individual de um jogador, na componente ofensiva e defensiva, aliado ao conhecimento do jogo, capacidade física de cada atleta e uma série de fatores mentais tais como a motivação, resiliência, ambição, o que hoje nos poderia levar para a inteligência emocional e, a outro nível, para a neurociência, tudo na tentativa de evitar os erros, antecipar decisões, o que me ajudou a fundamentar uma frase que fui aceitando com o tempo como uma verdade, e que uso com alguma frequência: 

“As equipas podem melhorar através de dois tipos de decisão: a primeira, é pela melhoria individual de cada atleta; a segunda, é pela aquisição de jogadores considerados mais valiosos”.

Estou consciente de que esta frase não é da minha autoria, não sei se a ouvi ou se a li ou se foi simplesmente um adicionar de conceitos, vindos de conversas intermináveis sobre basquetebol, mas foi criando raízes, na forma como vejo a gestão de um clube, na sua componente formação e o impacto que pode e deve ter na equipa sénior de um clube.

Se pensarmos na NBA ou mesmo no futebol europeu, percebemos da validade da mesma.

Algumas equipas tentam melhorar o seu plantel através do recrutamento dos melhores “rookies”, jovens jogadores saídos indos da NCAA, no caso da NBA, ou jogadores vindos das escolas de formação do clube, no caso do futebol. Outros usam a possibilidade de trocar jogadores ou adquiri-los por um determinado valor, para atingir outro tipo de objetivos, porventura mais ambiciosos. 

Com o reconhecimento, por diversos agentes da modalidade do basquetebol, que um dos seus maiores problemas é uma menor técnica individual do/a jovem atleta do basquetebol português, em comparação com outros países que têm vindo a progredir, a oportunidade que a pandemia deu aos treinadores de formação, não pode ser desaproveitada, para a melhoria individual de cada praticante.

Aliás, é dessa forma, que os jogadores profissionais o fazem. Michael Jordan fê-lo. O documentário The Last Dance, assim nos mostrou. Cristiano Ronaldo, fá-lo, e partilha connosco o seu compromisso com a melhoria através do trabalho. O caminho não pode ser diferente para os jovens que desejam jogar o basquetebol ou outro qualquer desporto, de forma séria e ambiciosa, no sentido de quererem chegar ao escalão sénior.

Esta é a oportunidade que os treinadores não podem perder.

Esqueçam os X’s e os O’s.

O que muitos consideram o escasso tempo de treino diário ou semanal para trabalhar, no antigo normal, é agora dado de forma ingrata, por um vírus. Temos todo o tempo do mundo para melhorarmos os nossos jogadores, do ponto de vista individual, com a segurança possível e contribuir para o seu desenvolvimento.

Este é o tempo de melhorarem os vossos atletas, do ponto de vista individual. Quer na técnica individual, quer no conhecimento do jogo e na capacidade física.

Lembram-se da regra das 10 mil horas de treino? Esta é uma forma de ir diminuindo o fosso para atletas de outros mundos desportivos, mas não se esqueçam, mais do que treinar muito, o mais importante é treinar com significado.

A Federação Espanhola de Basquetebol bem como a Federação Francesa de Basquetebol, recentemente realizaram estágios com o foco no treino de técnica individual (fundamentos), para os jovens das suas seleções.

Por cá, a FPB e os treinadores das diversas seleções dos escalões jovens, podiam ter seguido o exemplo das Federações referidas, o que daria uma clara indicação da importância do desenvolvimento da técnica individual, aos diversos agentes do basquetebol, treinando em ambiente de segurança, mas infelizmente gorou-se a oportunidade de dar o exemplo, o que teria sido muito importante.

Trabalhar de forma competente os conteúdos de forma individualizada para o atleta, só pode levar a uma melhoria da vossa equipa.

Aproveitem o momento, porque este pode-vos conduzir ao sucesso como treinador da formação.

E já agora, peçam ajuda aos mais velhos, aos treinadores que ao longo das suas carreiras apresentaram trabalho. É assim que se faz nos USA e nos países onde o basquetebol está mais desenvolvido. Trabalhem em equipa, porque no fundo o basquetebol é o somatório das partes. Atletas de exceção treinados por treinadores de qualidade técnica e humana é o caminho para o sucesso na formação de jogadores com possibilidades de se afirmarem no basquetebol e para todos os restantes que pretendem somente praticar uma modalidade que contribua para o seu desenvolvimento pessoal em diversas áreas.



António Pereira
10.09.2020

António Pereira, é um ex-jogador e ex-treinador de basquetebol, tendo desenvolvido a função de scouting durante vários anos. É licenciado em Comunicação Organizacional com as especialidades de Comunicação de Marketing e Comunicação de Relações Públicas, Mestre em Marketing e Comunicação e escreve sobre Gestão do Desporto, Marketing e Comunicação do Desporto no blog https://apbasketball.blogspot.com/, no jornal A Bola on-line entre outros.

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