Os jogos das diversas competições amadoras em Portugal deste fim de semana foram cancelados, sendo afetados, igualmente, os de basquetebol. De relembrar que as provas sob a égide da Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB) são consideradas amadoras, embora os principais patamares competitivos (masculino e feminino) sejam denominados de “Liga”.
Aliás, esta não é a primeira vez
que, na corrente época, os jogos das diferentes competições de basquetebol
foram adiados. A temporada começou com o adiamento dos jogos dos play-off de
acesso à Liga Placard, de outras competições de acesso a quadros competitivos
superiores, bem como da final four da Taça de Portugal, confirmando os piores
receios. O que leva a concluir que a planificação da época de 2020/2021 foi elaborada
demasiado cedo e de forma irrealista.
A FPB anunciou o quadro
competitivo aos clubes a dois (2) de julho, sendo que nesta altura havia um
abrandamento da pandemia, porém as opiniões de credíveis especialistas
apontavam, logo aí, para um inverno problemático. Recordava-se, por exemplo,
que a segunda vaga da pandemia de 1918 tinha sido pior que a primeira e a
terceira.
Assim sendo, não se consegue
perceber como é que a Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB), através do seu
gabinete de competições, bem como o diretor técnico, equacionou que era
possível realizar uma competição “exatamente igual ao que estava a ser
disputado em 2019/20”, conforme
foto que ilustra este texto.
Na minha opinião, quando se desenha um quadro competitivo, deve-se ter em conta a necessidade de reunir as condições para que ele comece e… acabe!
Desenvolver planos B e C
admitindo a possibilidade de o campeonato não terminar ou se houver necessidade
de serem realizados só um determinado número de jogos, para mim, não faz sentido.
Repito. Um quadro competitivo deve ser desenhado tendo em conta as
circunstâncias que o condicionam e tudo deve ser ponderado, para cumprir com o
objetivo do quadro competitivo: o desenrolar da competição até ao seu fim.
Foi isso mesmo que fez a NBA. Criou
um modelo que permitiu recomeçar e terminar a época com sucesso e sem
infetados.
A FPB é a organização que gere o
basquetebol em Portugal, com todas as responsabilidades que isso implica.
Neste caso, tal como no passado –
quando os pavilhões foram dotados de desfibrilhadores – por terem surgido casos
de morte súbita - a FPB deveria ter tomado a iniciativa de sujeitar todos os
membros das equipas que participam no primeiro nível de competição feminino e
masculino a fazerem testes de rastreio a Covid-19. E deveria ser a própria FPB
a pagar esses mesmo testes, especialmente por forma a evitar de colocar em
risco todos os intervenientes do jogo e pela defesa da imagem do basquetebol.
Essa deve ser a Responsabilidade
Social da FPB perante todos os seus stakeholders.
Recordo e sublinho: é pela via
dos clubes que entra a maior fatia do orçamento da FPB, proveniente das apostas
do Placard. Só este ano (2020), a FPB tinha um orçamento previsto de 7,9
milhões de euros, recebido em grande parte por essa origem, e sem desenvolver
qualquer esforço! Aquilo que se diz na gíria popular “caído do céu”.
Entendo, pois, que o desconto
anunciado pela FPB de cerca de 25%, referente a custos de inscrições e outras
despesas é insuficiente, perante o contexto em que nos encontramos.
Existe igualmente uma
responsabilidade perante treinadores, jogadores, dirigentes, fisioterapeutas,
juízes e outros intervenientes no processo do dia de jogo, porque são estes
quem desenvolve a atividade que a FPB dirige e regula. Mas também há uma responsabilidade
perante os patrocinadores que investem no naming da competição ou em
equipas e que não havendo jogos não são capazes de rentabilizar o seu
investimento.
Neste grupo de interessados não
devo deixar de fora a televisão, apesar de as transmissões serem pagas. A
importância dos jogos na televisão, na promoção do basquetebol, dos clubes, dos
artistas, dos patrocinadores e de permitirem captar a atenção dos apostadores
pode ser demasiado penalizante para as competições.
Investir em testes ao Covid-19
por parte da FPB não é só uma responsabilidade social, mas sim uma obrigação da
FPB, na defesa da imagem do basquetebol e da saúde de todos os intervenientes
do jogo, sem os colocar em risco, até porque os custos não são assim tão
grandes e as perdas podem ser muito maiores.
Investir uma parcela do dinheiro
que vem das apostas é de bom senso e recomenda-se. Sem prestar um serviço como
é que queremos receber algo em troca?
Espero que a FPB venha a assumir
a sua responsabilidade dando mais uma vez o exemplo de que o basquetebol é uma
modalidade de referência no mundo, assim o basquetebol português queira fazer
parte dessa referência.
António Pereira
31.10.2020
António Pereira, é um ex-jogador e ex-treinador de basquetebol, tendo desenvolvido a função de scouting durante vários anos. É licenciado em Comunicação Organizacional com as especialidades de Comunicação de Marketing e Comunicação de Relações Públicas, Mestre em Marketing e Comunicação e escreve sobre Gestão do Desporto, Marketing e Comunicação do Desporto no blog https://apbasketball.blogspot.com/, no jornal A Bola on-line, entre outros.
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