Quadros competitivos – uma realidade duvidosa! - por António Pereira

Os jogos das diversas competições amadoras em Portugal deste fim de semana foram cancelados, sendo afetados, igualmente, os de basquetebol. De relembrar que as provas sob a égide da Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB) são consideradas amadoras, embora os principais patamares competitivos (masculino e feminino) sejam denominados de “Liga”.

Aliás, esta não é a primeira vez que, na corrente época, os jogos das diferentes competições de basquetebol foram adiados. A temporada começou com o adiamento dos jogos dos play-off de acesso à Liga Placard, de outras competições de acesso a quadros competitivos superiores, bem como da final four da Taça de Portugal, confirmando os piores receios. O que leva a concluir que a planificação da época de 2020/2021 foi elaborada demasiado cedo e de forma irrealista.

A FPB anunciou o quadro competitivo aos clubes a dois (2) de julho, sendo que nesta altura havia um abrandamento da pandemia, porém as opiniões de credíveis especialistas apontavam, logo aí, para um inverno problemático. Recordava-se, por exemplo, que a segunda vaga da pandemia de 1918 tinha sido pior que a primeira e a terceira.

Assim sendo, não se consegue perceber como é que a Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB), através do seu gabinete de competições, bem como o diretor técnico, equacionou que era possível realizar uma competição “exatamente igual ao que estava a ser disputado em 2019/20”, conforme foto que ilustra este texto.

 


Na minha opinião, quando se desenha um quadro competitivo, deve-se ter em conta a necessidade de reunir as condições para que ele comece e… acabe!

Desenvolver planos B e C admitindo a possibilidade de o campeonato não terminar ou se houver necessidade de serem realizados só um determinado número de jogos, para mim, não faz sentido. Repito. Um quadro competitivo deve ser desenhado tendo em conta as circunstâncias que o condicionam e tudo deve ser ponderado, para cumprir com o objetivo do quadro competitivo: o desenrolar da competição até ao seu fim.

Foi isso mesmo que fez a NBA. Criou um modelo que permitiu recomeçar e terminar a época com sucesso e sem infetados.

A FPB é a organização que gere o basquetebol em Portugal, com todas as responsabilidades que isso implica.

Neste caso, tal como no passado – quando os pavilhões foram dotados de desfibrilhadores – por terem surgido casos de morte súbita - a FPB deveria ter tomado a iniciativa de sujeitar todos os membros das equipas que participam no primeiro nível de competição feminino e masculino a fazerem testes de rastreio a Covid-19. E deveria ser a própria FPB a pagar esses mesmo testes, especialmente por forma a evitar de colocar em risco todos os intervenientes do jogo e pela defesa da imagem do basquetebol.

Essa deve ser a Responsabilidade Social da FPB perante todos os seus stakeholders.

Recordo e sublinho: é pela via dos clubes que entra a maior fatia do orçamento da FPB, proveniente das apostas do Placard. Só este ano (2020), a FPB tinha um orçamento previsto de 7,9 milhões de euros, recebido em grande parte por essa origem, e sem desenvolver qualquer esforço! Aquilo que se diz na gíria popular “caído do céu”.

Entendo, pois, que o desconto anunciado pela FPB de cerca de 25%, referente a custos de inscrições e outras despesas é insuficiente, perante o contexto em que nos encontramos.

Existe igualmente uma responsabilidade perante treinadores, jogadores, dirigentes, fisioterapeutas, juízes e outros intervenientes no processo do dia de jogo, porque são estes quem desenvolve a atividade que a FPB dirige e regula. Mas também há uma responsabilidade perante os patrocinadores que investem no naming da competição ou em equipas e que não havendo jogos não são capazes de rentabilizar o seu investimento.

Neste grupo de interessados não devo deixar de fora a televisão, apesar de as transmissões serem pagas. A importância dos jogos na televisão, na promoção do basquetebol, dos clubes, dos artistas, dos patrocinadores e de permitirem captar a atenção dos apostadores pode ser demasiado penalizante para as competições.

Investir em testes ao Covid-19 por parte da FPB não é só uma responsabilidade social, mas sim uma obrigação da FPB, na defesa da imagem do basquetebol e da saúde de todos os intervenientes do jogo, sem os colocar em risco, até porque os custos não são assim tão grandes e as perdas podem ser muito maiores.

Investir uma parcela do dinheiro que vem das apostas é de bom senso e recomenda-se. Sem prestar um serviço como é que queremos receber algo em troca?

Espero que a FPB venha a assumir a sua responsabilidade dando mais uma vez o exemplo de que o basquetebol é uma modalidade de referência no mundo, assim o basquetebol português queira fazer parte dessa referência.

 

António Pereira






31.10.2020


António Pereira, é um ex-jogador e ex-treinador de basquetebol, tendo desenvolvido a função de scouting durante vários anos. É licenciado em Comunicação Organizacional com as especialidades de Comunicação de Marketing e Comunicação de Relações Públicas, Mestre em Marketing e Comunicação e escreve sobre Gestão do Desporto, Marketing e Comunicação do Desporto no blog https://apbasketball.blogspot.com/, no jornal A Bola on-line, entre outros.

 

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