Recorrentemente, abordamos a
questão de quantas equipas deverão fazer parte de uma competição? Ao longo dos
anos, assistimos a um vaivém entre 12 ou 14 equipas, isto é, a um movimento
alternado de um ponto (12 equipas) para o outro (14 equipas)? Não existe
consenso sobre o número ideal de equipas, que deverão fazer parte da
competição?
Se esta questão fosse fácil de
responder, já teria deixado de ser uma questão, há muito tempo. Os defensores
de uma ou outra posição acreditam que a sua posição é a melhor. A discussão
desta questão mostra a vontade de alguns manterem o estado atual e de outros de
o mudar.
Contudo, por vezes, a questão não
está totalmente na decisão a tomar, mas não pergunta a colocar ou sobre o que é
que devemos decidir. Será que a “verdadeira” questão a colocar é se devemos ter
12 ou 14 equipas, na competição?
Se não for esta a questão, então
qual poderá ser “verdadeira” questão a colocar e por que razão foi esta a
questão colocada?
Comecemos por abordar a segunda
parte: POR QUE RAZÃO FOI ESTA A QUESTÃO COLOCADA?
Poderá haver pessoas e organizações
(Clubes) com experiência em ambas as soluções e para uns 12 equipas é melhor do
que 14 equipas e para outros o inverso, 14 equipas é melhor do que 12 equipas.
Os defensores das 12 equipas
poderão apoiar-se num maior equilíbrio, ao que se deverá questionar se essa
posição se baseia no que lhes parece ou se baseiam a sua posição em algum
estudo concreto, em factos. Por exemplo, sobre a questão A diferença de
pontos está associada ao número de assistentes ao jogo?, Pereira
(2019)
estudou a associação entre a diferença pontual e o número de assistente ao jogo,
em 80 jogos, da LPB, e NÃO encontrou uma correlação entre ambas (r=-0.089,
n=80).
Os defensores das 14 equipas
poderão sustentar que “aquela” segunda fase, nomeadamente para os 6 últimos,
não tinha qualquer interesse. Por outro lado, poderão dizer que o equilíbrio na
competição é uma falsa questão, pois até na NBA há resultados desequilibrados.
Por outro lado, ao colocar-se
esta questão, isto é, 12 ou 14 equipas, e haver interessados que defendem as 12
equipas e interessados em haver as 14 equipas, poderá levar-nos a deduzir que
respetivamente uns desejam mudar e outros manter.
Quanto à primeira parte da
questão colocada: QUAL PODERÁ SER “VERDADEIRA” QUESTÃO?
Antes de abordar esta questão e
para a contextualizar, poderá interessar recordar que nos são oferecidas soluções
conjunturais, a todo o momento. Isto é, perante uma situação a resolver, existem
soluções “fáceis”, que nos permitem ter a sensação de que fizemos algo para
resolver o problema, mas que podem não passar de “balões de oxigénio”, que
poderão ter tanto de fútil como de inúteis, levando meramente ao eterno adiar
dos problemas. Isto é, colocar-se a questão 12 ou 14 equipas poderá permitir
assegurar artificialmente a continuidade do status quo e a, na prática,
nada verdadeiramente mudar.
O que é a experiência do vaivém
entre as 12 e 14 equipas nos mostrou relativamente à mudança. Verificou-se a
mudança desejada?
Então, há uma mudança pretendida,
a da situação atual para a situação desejada, mas se a decisão a tomar for
entre 12 ou 14 equipas, muito provavelmente, estaremos a procurar soluções
conjunturais, “balões de oxigénio” e a, paradoxalmente, a sermos a causa de
continuarmos na situação atual, a não mudarmos. Que ironia ou talvez não. Que
ironia, se as pessoas desejarem efetivamente mudar e continuarem a insistir em
repetir as soluções que já experimentaram e nada mudaram. Talvez não, se as
pessoas explicitamente disserem que querem mudar da situação atual para a
situação desejada, mas implicitamente não o desejarem, verdadeiramente.
Resumindo, as soluções
conjunturais, os “balões de oxigénio”: deixam-nos desconfortáveis; levam uns a
desistir da modalidade e outros revoltarem-se; a nada “verdadeiramente” mudar,
perpetuando o estado das coisas; perdemos pessoas válidas e interessadas,
desviamos imensa energia de pessoas interessadas, não conseguimos o que
desejamos, nem procuramos o melhor para todos, ao longo do tempo.
SERÁ QUE EXISTE UMA ALTERNATIVA?
A alternativa passará por soluções
sistémicas em vez de conjunturais, e isso requer uma atualização do “software”
das organizações e reinventar Equipas, Clubes, Associações e Federação, por
incorporar os 4 Pilares que tornam as Organizações Grandiosas: Estratégia, Estrutura,
Equipa e Ética (Oliveira, 2021b).
Recordando uma passagem de Alice
no País das Maravilhas (Carrol, 2009, pp. 62–63), quando Alice perguntou ao
Gato de Cheshire:
“- Podes dizer-me, por favor,
como hei-de sair daqui?
- Isso depende muito do sítio
para onde queres ir – respondeu o Gato.
- Não me interessa muito para
onde ir … - disse Alice.
- Nesse caso, podes ir por um
lado qualquer – respondeu o Gato.”
Do mesmo modo que para saber o
caminho a tomar, Alice necessitava de saber para onde ir, o mesmo se coloca
nesta situação. Isto é, são apresentados dois caminhos 12 ou 14 equipas, a sua
escolha depende muito do sítio para onde ir. Para onde ir representa saber a
situação ou futuro desejado e isso reflete o destino ou a imagem do futuro
desejado, parte de uma visão, de qualquer organização, parte do pilar
estratégia e sobre o qual se edifica a estrutura das organizações, como por
exemplo, os seus processos, os seus regulamentos, ou também a forma de disputa
das competições e, consequentemente, o número de equipas que deve ter um
determinado nível competitivo.
Avançar para a questão de 12 ou
14 equipas, sem saber para onde se quer ir, poderá merecer uma resposta de “Gato”
- “nesse caso, podes ir por um lado qualquer”. Imagine se seria possível
construir a Torre Eiffel sem a projetar primeiro. Necessitamos de arquitetura
(leia-se estratégia) e depois subordinar a sua edificação (leia-se estrutura,
no caso concreto da questão em causa, formato de disputa de uma determinada
competição) a esse projeto. Caso contrário, dificilmente construiremos o que
desejamos. Várias pessoas têm reforçado esta necessidade (Oliveira, 2021a, 2021c; Pereira, 2021a, 2021b).
Por isso, qual será "verdadeiramente" a questão a colocar:
a) 12 ou 14 Equipas
b) Para onde queremos ir
O QUE DESEJA?
a) Soluções
conjunturais, “balões de oxigénio” ou
b) Soluções
sistémicas que considerem a estratégia, a estrutura, a equipa e a ética
por João Oliveira
13-03-2021
Referências Bibliográficas
Carrol, L. (2009). Alice
no País das Maravilhas. Afragide, Portugal: Leya, SA.
Oliveira, J. C. (2021a).
Diagnóstico da Visão do Basquetebol Português - Resultados. In J. C. Oliveira
(Ed.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 21–24).
Monee, IL, USA: Independently published.
Oliveira, J. C. (2021b).
Duas Grandes Oportunidades. In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias
para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 159–164). Monee, IL, USA:
Independently published.
Oliveira, J. C. (2021c).
Meta Visão do Basquetebol Português. In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias
para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 47–52). Monee, IL, USA:
Independently published.
Pereira, A. (2019).
Estudo sobre o número de espetadores nos jogos da LPB – 1a volta da época
de 2019/2020. Retrieved December 29, 2019, from
https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/2019/12/estudo-sobre-o-numero-de-espetadores.html
Pereira, A. (2021a). Visão
- que contributo pode dar para a marca basquetebol. In J. C. Oliveira & M.
Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 35–38).
Monee, IL, USA: Independently published.
Pereira, A. (2021b). Visão
com propósito - o ponto de partida. In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias
para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 25–27). Monee, IL, USA:
Independently published.
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