Basquetebol QUE CONTA – por João Oliveira


Numa passagem pelo Gerês, apercebi-me de uma IDEIA que poderá ser fundamental para o Basquetebol. Que ideia foi essa?

Começando pelo fim, estava de regresso do Gerês para casa e, a determinada altura, surge o seguinte, na estrada: QUILOMETROS QUE CONTAM. Logo no momento, fiquei com a sensação de que me estava a tornar consciente de algo importante. Ainda a conduzir, comecei a refletir sobre os quilómetros que tinha feito e respondi a mim mesmo – “estes quilómetros contaram”. Ao chegar a casa, fui pesquisar “quilómetros de contam” e li o seguinte: oferecemos aos condutores a experiência de uma viagem agradável para um destino estimulante, familiar ou até mesmo um destino que lhes mude a vida.” Ao recordar uma foto tirada na Praceta Honório de Lima, na Vila do Gerês (foto que se segue).

No escrito, podemos ler “…tudo se conjuga para que nada falte à sua grandeza e perfeição (…) Acumularam-se e harmonizaram-se forças e contrastes (…) que o resultado lembra-me sempre uma genialidade da natureza”.

A melhor resposta do que esta para sintetizar que os quilómetros que fiz CONTARAM.

Hoje e construindo a partir deste ponto, proponho abordar mais uma IDEIA importante de Ideias para o Basquetebol.

Antes de o fazer, recordo que Ideias para o Basquetebol cresceu em função de ideias estruturantes. No seu núcleo, propõe-se a abordar IDEIAS e não pessoas (Oliveira, 2021a), deseja valorizar as ideias de que JUNTOS VAMOS MAIS LONGE (Oliveira & Silva, 2021) e do BASQUETEBOL À SUA MEDIDA (Oliveira, 2020).


QUAL É A IDEIA FUNDAMENTAL QUE DESEJO PARTILHAR?

Construindo de Miguel Torga, a IDEIA de que há situações em que tudo se conjuga, acumulam-se e harmonizam-se forças e contrastes, que o resultado nos lembra uma genialidade do Basquetebol e que, por isso, a de um BASQUETEBOL QUE CONTA.


O QUE SIGNIFICA BASQUETEBOL QUE CONTA?

O Basquetebol que oferece experiências QUALITATIVAMENTE diferentes. Duas pessoas podem dirigir, treinar, jogar, arbitrar, assistir a Basquetebol e a qualidade da sua experiência ser diferente. A mesma pessoa em Clubes diferentes pode ter experiências qualitativamente diferentes. Ao longo da nossa história no Basquetebol e nas suas diferentes medidas. A propósito de medidas e por exemplo: Curado (2021) aborda a medida da formação de treinadores; Pereira (2021) desenvolve a medida da estratégia; Carmo (2021) realça a medida da técnica; e Silva (2021) destaca a medida da formação de jogadores podemos. A estas e outras tantas medidas as pessoas podem ter experiências qualitativamente diferentes.

Por isso, Ideias para o Basquetebol valoriza as “ideias”, o “juntos vamos mais longe”, o “basquetebol à sua medida”, mas também o “Basquetebol QUE CONTA”. 


O QUE É O “BASQUETEBOL QUE CONTA”?

O Basquetebol QUE CONTA representa uma experiência QUALITATIVAMENTE diferente, independentemente da “sua medida”.

Regressando a Miguel Torga, o que é isso de “tudo se conjuga” e “acumulam-se e harmonizam-se forças e contrastes” que resulta em genialidade, numa experiência qualitativamente diferente, que pode mudar a vida?



COMEÇANDO PELO “TUDO”, PARA CHEGAR AO “QUE CONTA” 

Recentemente, ao falar com um jovem, no início da sua carreira profissional, e confrontado com duas possibilidades de trabalho, disse-me que os salários eram diferentes e que iria optar por a que oferecia um salário inferior. Que razão o estava a levar a optar pela oportunidade com salário inferior? A razão era “simples”: essa possibilidade oferecia-lhe a oportunidade de aprender coisas novas, crescer e desenvolver-se. Neste enquadramento, uma das partes do “TUDO” é a satisfação das necessidades da nossa mente, a de aprender e desenvolver-se. Regressando ao Basquetebol e continuando com Miguel Torga em mente, para gerarmos a genialidade, necessitamos de oferecer oportunidades das pessoas (que jogam, que treinam, que arbitram, que dirigem, …) poderem aprender e desenvolver-se. Sem essas oportunidades, o “TUDO” fica comprometido e, logo, a genialidade, o Basquetebol “QUE CONTA”.

Continuando a desvendar o “TUDO”. A determinada altura, estava a treinar uma equipa que me levava a fazer 100 kms, para cada treino. No início, não tínhamos grandes recursos e necessitava de encontrar um motivo suficientemente forte para que ir sempre com o entusiasmo necessário, para ajudar a fazer as coisas acontecerem. Inspirado em alguns acontecimentos culturais memoráveis, pareceu-me importante criar e viver momentos fantásticos, nesse clube. Partilhei esta ideia com a equipa, que o que me faziam treinar era criar e viver momentos fantásticos, através do Basquetebol. 

Que momentos eram esses? Regressando a eventos culturais, de Filipe Lá Féria e uma atuação de Gospel, apercebi-me que essas experiências tinham sido fantásticas. Porquê? Por que tinham sido momento extremamente agradáveis e memoráveis criando uma sensação de prazer e vontade de partilhar e repetir. 

Por isso, a minha questão passou a ser, como criar momentos agradáveis e memoráveis (os tais fantásticos)? 

Quanto à primeira parte, descobri que uma das razões de terem sido agradáveis resultava dos intérpretes se estarem a divertir, o que passava para o público, contagiava a plateia. 

Relativamente à segunda parte, a de serem memoráveis, encontrei em Damásio (2005), nomeadamente na hipótese dos marcadores somáticos, um importante contributo. Isto é, todas as experiências são acompanhadas de emoções e estas quando fortes e intensas tornam as nossas experiências memoráveis. Imagine uma pessoa a ler este texto e a sublinhar o que é importante e quer recordar, não se esquecer ou memorizar. Uma das formas de o fazer é sublinhar o que acha importante. Pois as emoções, na perspetiva abordada, funcionam “sublinhando” as nossas experiências, tornando-as memoráveis. 

Juntando a primeira e a segunda parte, parece-nos que outra parte do “TUDO” são as emoções intensas, fortes e agradáveis. Sem este tipo de emoções condicionamos a genialidade e, no caso, o Basquetebol “QUE CONTA”.

Prosseguindo a “levantar o véu” do “TUDO”. Num Clube histórico e com algumas limitações de infraestruturas e orçamentais, uma outra experiência no Basquetebol foi fantástica. Hoje, quando me cruzo que jogadores ou pais que viveram essa experiência, é transversal a ideia de que o tipo de ligação entre as pessoas foi determinante na qualidade da experiência. Isto é, a parte das relações, da interação ou social (em termos mais latos) é constantemente relembrada como essencial nas muitas reviravoltas, em tornar possível o que parecia impossível. Sem o tipo de relações sociais de aceitação, respeito e trabalho de equipa a genialidade fica comprometida e, no caso, o Basquetebol “QUE CONTA”.

Recentemente, escrevi um ensaio sobre o “valor” da ética (Oliveira, 2021b) que realça que sem ela – ÉTICA – as organizações e as pessoas “valem zero”. Isto é, uma parte do “TUDO” alicerça-se nas pessoas servirem em vez de se servirem, ajudarem e contribuírem em vez de destruírem, respeitarem em vez de desrespeitarem, serem equitativas em vez de parciais, serem integras em vez de mentirem a si próprias e serem honestas em vez de mentirem aos outros, contribuindo assim para a valorização das pessoas. Sem ética, condicionamos a genialidade e, no caso, o Basquetebol “QUE CONTA”.

 

CONTINUANDO COM O “SE CONJUGA” E COM O “ACUMULAM-SE E HARMONIZAM-SE FORÇAS E CONTRASTES”

Se desvendamos um pouco do “TUDO” e continuando a construir a partir de Miguel Torga, surge a ideia de necessitarmos que todas as “partes” do “tudo” se combinem, se liguem umas às outras e que, portanto, a genialidade também resulta da interdependência dessas “partes” e que, por isso, todas são necessárias. Sem esta combinação não há “TUDO SE CONJUGA” e limitamos as possibilidades de a genialidade acontecer e, no caso, o Basquetebol “QUE CONTA”.

A segunda parte, de criação de momentos memoráveis poderá envolver mais 3 ideias. Primeiro a de “ACUMULAÇÃO”, isto é, da necessidade de as coisas não acontecerem uma vez, mas de repetirem sistematicamente, no tempo. A segunda, de HARMONIZAÇÃO. Isto é, destas ligações acontecerem na proporção certa, numa certa coerência. Será como combinar diferentes ingredientes, para fazer um bolo. Para ser bom, o bolo também exige que se ligue os diferentes ingredientes pela ordem, quantidade e forma certa. A terceira, a de FORÇAS e CONTRASTES. Neste particular, essas forças sugerem que exista “dinâmica” (Lewin, 2006), e os contrastes diferenças. Ironicamente, as diferenças são necessárias para a genialidade, mas, vezes sem conta, são fonte de conflito, por serem percebidas como problemas. Contudo, é desta diferença e concretamente da sua integração que surge a energia ou força necessária. Sem repetição sistemática, sem a proporção certa, sem valorizarmos as diferenças, podemos comprometer a genialidade e, no caso, o Basquetebol “QUE CONTA”.


Resumindo: independentemente da medida ou medidas do Basquetebol para cada um e para todos nós, há uma ideia de QUALIDADE transversal a todas elas. Seja estarmos a falar de baby basket, minibasquete, formação, competição, espetáculo, treinadores, veteranos, cadeira de rodas, diferentes divisões, (…) o Basquetebol “QUE CONTA” é o que …

a) Cria possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento (ligação mental / cognitiva).

b) Oferece momentos memoráveis agradáveis (ligação emocional).

c) Estabelece ligações fortes e construtivas entre as pessoas (ligação social).

d) Procura o melhor para todos, ao longo do tempo (ligação moral ou ética)

e) Reforça a combinação das ligações anteriores (interdependência).

f) Valoriza a persistência, a proporcionalidade e as diferenças.

Será mesmo assim?

Podemos fazer um pequeno exercício:

1.     Pensar nas experiências que tivemos no Basquetebol, como jogadores, treinadores, árbitros, dirigentes, simpatizantes, jornalistas, (…);

2.     Quais é “QUE CONTARAM”

3.     Verifique se as alíneas de a) a f) anteriores estavam presentes.

  

Referências 

Carmo, A. (2021). Passar ou driblar e o Terceiro Ingrediente. In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 121–128). Monee, IL, USA: Independently published.

Curado, J. (2021). Formação de Treinadores ... e Não Só. In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 53–56). Monee, IL, USA: Independently published.

Damásio, A. (2005). O Erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano (24a). Mem Martins: Publicações Europa-América, Lda.

Lewin, K. (2006). Field Theory and Learning. In D. Cartwright (Ed.), Resolving Social Conflicts & Field Theory in Social Science (Fourth, pp. 212–230). Washington, DC: American Psychological Association.

Oliveira, J. C. (2020). BASQUETEBOL À SUA MEDIDA. Retrieved March 1, 2020, from https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/2020/03/basquetebol-sua-medida-por-joao-oliveira.html

Oliveira, J. C. (2021a). Intenções de Base. In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 11–13). Monee, IL, USA: Independently published.

Oliveira, J. C. (2021b). O “valor” da ÉTICA. Retrieved April 18, 2021, from https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/2021/04/o-valor-da-etica-por-joao-oliveira.html

Oliveira, J. C., & Silva, M. (2021). Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe. (J. C. Oliveira & M. Silva, Eds.). Monee, IL, USA: Independently published.

Pereira, A. (2021). Planeamento Estratégico Porquê e Para Quê. In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 29–32). Monee, IL, USA: Independently published.

Silva, M. (2021). Como formar jogadores inteligentes? In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 61–70). Monee, IL, USA: Independently published.

 

por João Oliveira

23-05-2021






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