Como
tudo o que acontece na NBA, o draft tem um propósito bem definido, sendo
encarado pelas equipas de diversas formas. Umas desejam a valorização do seu
plantel, outras pretendem a possibilidade de obter jogadores através de trocas,
por vezes têm de escolher o melhor jogador disponível independentemente da sua
posição usando-o para futuras trocas e outras ainda ambicionam libertar
jogadores dos seus atuais quadros, para obterem melhores posições de escolha
num draft futuro.
Seja
qual for o propósito de cada franchise, o draft é e sempre foi
encarado como a possibilidade de melhorar a equipa, sendo necessário obter
informação o mais credível e detalhada sobre cada jogador, num processo
elaborado com grande rigor e profissionalismo.
Inicialmente,
esta coleta de informação é feita pela observação direta dos atletas,
posteriormente com a visualização por filme e, atualmente, junta-se a análise
analítica da estatística, onde os jogadores são “escalpelizados” ao mínimo
pormenor nas diversas fases do jogo e em múltiplas componentes deste.
Se o draft
é importante para as equipas, não deixa de o ser para os muitos jogadores que
nele se inscrevem. A primeira escolha do draft de 2021 garante um
vencimento – previamente estipulado pelo acordo vigente com a associação de
jogadores da NBA (NBPA) – na ordem dos 8.375.100 milhões de dólares, já a
trigésima escolha (última da primeira ronda) terá um salário de 1.662.100
milhões de dólares. Os atletas escolhidos na segunda ronda não têm contrato
garantido.
Nestas
circunstâncias e do ponto de vista do interesse do atleta, o importante é que este
seja escolha na melhor posição, garantindo assim as condições financeiras mais
vantajosas, e que a equipa o ajude a desenvolver e a evoluir as características
do seu basquetebol.
Neemias
Queta é um jogador de nacionalidade portuguesa que pela segunda vez na sua
carreira universitária se propôs ao draft da NBA. Da primeira vez,
retirou o seu nome, depois de um ‘NBA Combine’ que não lhe correu bem, pelo que
teve oportunidade de se manter na Universidade Utah State, para prosseguir os
estudos e atividade desportiva. Desta vez, em 2021, a sua opção de se
apresentar ao draft seguiu até ao fim.
Neemias
Queta foi um jogador que quase passou despercebido na fase inicial da sua
carreira, o que só o favoreceu, porque lhe abriu outras possibilidades, não
rejeitando a possibilidade de viajar para os Estados Unidos da América (USA),
onde pôde desenvolver as suas características como jogador.
Utah
não é um daqueles estados que esteja na geografia da visita de muitos scouters
(observadores de jogadores). Apesar de evolução tecnológica e com a pandemia presente,
parece um contrassenso afirmar isto, mas a verdade é que a visualização de
jogadores ao vivo continua a ser a mais importante forma de caracterizar um
jogador em todo o seu contexto.
De
Neemias pode-se dizer que: para além da sua estrutura física, ideal para um
poste, a sua capacidade defensiva, a forma como ressalta defensivamente e
protege o cesto, estando sempre disponível para ajudar os seus colegas quando
são batidos através de desarmes de lançamento, bem como a sua capacidade de
passar a bola são as principais características pela positiva. Pela negativa, a
sua capacidade deslocamento lateral em zonas mais afastadas do cesto e o não
ser considerado como um jogador eficaz em atirar ao cesto de longa distância
são características encaradas pela negativa, o que pode ser uma consequência do
modelo de jogo da sua equipa universitária.
De certa
forma, pode-se dizer que Neemias é uma vítima do jogo moderno que se pratica na
NBA, o chamado “small ball”, onde o jogo passou a ocupar todo o espaço
do campo e os jogadores são capazes de desempenhar mais papéis do que aqueles
que eram pedidos noutros tempos do basquetebol.
Esta é
a razão do quanto importante é preciso desenvolver os jogadores para os atuais
conceitos do jogo, na formação dos atletas, dando prioridade à técnica
individual em detrimento dos movimentos táticos e perspetivando uma evolução do
jogo. Os jogadores são avaliados pelo que fazem no contexto em que estão
inseridos e isto é determinante para a progressão ou não da sua carreira.
Muitos
jogadores e organizações desportivas jogam a sua vida/existência/futuro no draft
e os americanos sabem disso muito bem, pelo que este momento de seleção de
atletas não é encarado de ânimo leve.
Sendo
uma pessoa conhecida por pessoas que trabalham na NBA, quer quando João
“Betinho” Gomes se apresentou ao draft, quer na fase inicial do percurso
universitário de Neemias, fui abordado por diversos intervenientes desse mundo,
para dar a minha opinião sobre esses basquetebolistas. Noutras vezes, sou
convidado a pronunciar-me sobre o quanto pode ser positivo ou negativo a vinda
de um jogador para uma determinada equipa portuguesa, o que me enche de orgulho
pelo reflexo do trajeto profissional que desenvolvi. Grato estou por me manter
em contacto com centenas de jogadores que de alguma forma tiveram relações
profissionais e pessoais comigo.
Estive
presente no draft de 2004, com acesso a todo a área. É um espetáculo
pela presença de “fans” que deliram com as escolhas, com as trocas entre
equipas e pela ansiedade clara dos jogadores quererem ouvir o seu nome. A NBA
já divulgou os vinte atletas que vão estar na zona do palco, zona privilegiada
por natureza, onde só essa elite de promessas estará acompanhada pelos seus
familiares e agentes. Infelizmente Neemias não faz parte desse grupo restrito
de jogadores, mas poderá estar noutras zonas do teatro do Madison Square Garden.
A
Neemias desejo-lhe a melhor das sortes.
Fui
acompanhando durante a época as suas performances e a sua posição do denominado
“Mock Draft”. Após começar numa posição muito desfavorecida, foi
melhorando e, nesta fase, situa-se entre a segunda metade da segunda ronda,
isto é, entre a 41.ª e a 60.ª escolhas, mas perante as eventuais trocas de
jogadores tudo pode ser alterado a qualquer momento.
Seja
qual for a sua posição, a informação que tenho é que deverá ser chamado para
fazer parte do plantel de uma equipa na Summer League de Las Vegas, onde
marquei presença durante 15 anos consecutivos e recrutei alguns atletas para
equipas portuguesas e angolanas. O que se afigura como mais provável é que ele
possa assinar um contrato denominado “2 way-contract”, o mesmo é dizer
que vai jogar na G-League, com opção em aberto de jogar na NBA, dentro das
regaras estipuladas entre a NBA e a NBPA.
É
fundamental que Neemias saiba escolher o seu percurso o melhor possível porque “há
mais marés que marinheiros”, não esquecendo que o sonho americano é real e
possível, mas o número de jogadores que todos os anos se afirmam nos plantéis
na seleta NBA é reduzido e o caminho está cheio de espinhos.
Good luck
Neemias Queta and do your job no matter where you are.
por António
Pereira
29-07-2021
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