Neemias Queta e o Draft da NBA 2021 - por António Pereira


Como tudo o que acontece na NBA, o draft tem um propósito bem definido, sendo encarado pelas equipas de diversas formas. Umas desejam a valorização do seu plantel, outras pretendem a possibilidade de obter jogadores através de trocas, por vezes têm de escolher o melhor jogador disponível independentemente da sua posição usando-o para futuras trocas e outras ainda ambicionam libertar jogadores dos seus atuais quadros, para obterem melhores posições de escolha num draft futuro.

Seja qual for o propósito de cada franchise, o draft é e sempre foi encarado como a possibilidade de melhorar a equipa, sendo necessário obter informação o mais credível e detalhada sobre cada jogador, num processo elaborado com grande rigor e profissionalismo.

Inicialmente, esta coleta de informação é feita pela observação direta dos atletas, posteriormente com a visualização por filme e, atualmente, junta-se a análise analítica da estatística, onde os jogadores são “escalpelizados” ao mínimo pormenor nas diversas fases do jogo e em múltiplas componentes deste.

Se o draft é importante para as equipas, não deixa de o ser para os muitos jogadores que nele se inscrevem. A primeira escolha do draft de 2021 garante um vencimento – previamente estipulado pelo acordo vigente com a associação de jogadores da NBA (NBPA) – na ordem dos 8.375.100 milhões de dólares, já a trigésima escolha (última da primeira ronda) terá um salário de 1.662.100 milhões de dólares. Os atletas escolhidos na segunda ronda não têm contrato garantido.

Nestas circunstâncias e do ponto de vista do interesse do atleta, o importante é que este seja escolha na melhor posição, garantindo assim as condições financeiras mais vantajosas, e que a equipa o ajude a desenvolver e a evoluir as características do seu basquetebol.

Neemias Queta é um jogador de nacionalidade portuguesa que pela segunda vez na sua carreira universitária se propôs ao draft da NBA. Da primeira vez, retirou o seu nome, depois de um ‘NBA Combine’ que não lhe correu bem, pelo que teve oportunidade de se manter na Universidade Utah State, para prosseguir os estudos e atividade desportiva. Desta vez, em 2021, a sua opção de se apresentar ao draft seguiu até ao fim.

Neemias Queta foi um jogador que quase passou despercebido na fase inicial da sua carreira, o que só o favoreceu, porque lhe abriu outras possibilidades, não rejeitando a possibilidade de viajar para os Estados Unidos da América (USA), onde pôde desenvolver as suas características como jogador.

Utah não é um daqueles estados que esteja na geografia da visita de muitos scouters (observadores de jogadores). Apesar de evolução tecnológica e com a pandemia presente, parece um contrassenso afirmar isto, mas a verdade é que a visualização de jogadores ao vivo continua a ser a mais importante forma de caracterizar um jogador em todo o seu contexto.

De Neemias pode-se dizer que: para além da sua estrutura física, ideal para um poste, a sua capacidade defensiva, a forma como ressalta defensivamente e protege o cesto, estando sempre disponível para ajudar os seus colegas quando são batidos através de desarmes de lançamento, bem como a sua capacidade de passar a bola são as principais características pela positiva. Pela negativa, a sua capacidade deslocamento lateral em zonas mais afastadas do cesto e o não ser considerado como um jogador eficaz em atirar ao cesto de longa distância são características encaradas pela negativa, o que pode ser uma consequência do modelo de jogo da sua equipa universitária.

De certa forma, pode-se dizer que Neemias é uma vítima do jogo moderno que se pratica na NBA, o chamado “small ball”, onde o jogo passou a ocupar todo o espaço do campo e os jogadores são capazes de desempenhar mais papéis do que aqueles que eram pedidos noutros tempos do basquetebol.

Esta é a razão do quanto importante é preciso desenvolver os jogadores para os atuais conceitos do jogo, na formação dos atletas, dando prioridade à técnica individual em detrimento dos movimentos táticos e perspetivando uma evolução do jogo. Os jogadores são avaliados pelo que fazem no contexto em que estão inseridos e isto é determinante para a progressão ou não da sua carreira.

Muitos jogadores e organizações desportivas jogam a sua vida/existência/futuro no draft e os americanos sabem disso muito bem, pelo que este momento de seleção de atletas não é encarado de ânimo leve.

Sendo uma pessoa conhecida por pessoas que trabalham na NBA, quer quando João “Betinho” Gomes se apresentou ao draft, quer na fase inicial do percurso universitário de Neemias, fui abordado por diversos intervenientes desse mundo, para dar a minha opinião sobre esses basquetebolistas. Noutras vezes, sou convidado a pronunciar-me sobre o quanto pode ser positivo ou negativo a vinda de um jogador para uma determinada equipa portuguesa, o que me enche de orgulho pelo reflexo do trajeto profissional que desenvolvi. Grato estou por me manter em contacto com centenas de jogadores que de alguma forma tiveram relações profissionais e pessoais comigo.

Estive presente no draft de 2004, com acesso a todo a área. É um espetáculo pela presença de “fans” que deliram com as escolhas, com as trocas entre equipas e pela ansiedade clara dos jogadores quererem ouvir o seu nome. A NBA já divulgou os vinte atletas que vão estar na zona do palco, zona privilegiada por natureza, onde só essa elite de promessas estará acompanhada pelos seus familiares e agentes. Infelizmente Neemias não faz parte desse grupo restrito de jogadores, mas poderá estar noutras zonas do teatro do Madison Square Garden.


Já vi muitos jogadores terminarem a sua carreira antes mesmo dela começar a nível profissional, pelas falsas expectativas criadas à sua volta, expectativas essas que se tornaram difíceis de gerir, especialmente a nível mental.

A Neemias desejo-lhe a melhor das sortes.

Fui acompanhando durante a época as suas performances e a sua posição do denominado “Mock Draft”. Após começar numa posição muito desfavorecida, foi melhorando e, nesta fase, situa-se entre a segunda metade da segunda ronda, isto é, entre a 41.ª e a 60.ª escolhas, mas perante as eventuais trocas de jogadores tudo pode ser alterado a qualquer momento.

Seja qual for a sua posição, a informação que tenho é que deverá ser chamado para fazer parte do plantel de uma equipa na Summer League de Las Vegas, onde marquei presença durante 15 anos consecutivos e recrutei alguns atletas para equipas portuguesas e angolanas. O que se afigura como mais provável é que ele possa assinar um contrato denominado “2 way-contract”, o mesmo é dizer que vai jogar na G-League, com opção em aberto de jogar na NBA, dentro das regaras estipuladas entre a NBA e a NBPA.

É fundamental que Neemias saiba escolher o seu percurso o melhor possível porque “há mais marés que marinheiros”, não esquecendo que o sonho americano é real e possível, mas o número de jogadores que todos os anos se afirmam nos plantéis na seleta NBA é reduzido e o caminho está cheio de espinhos.

Good luck Neemias Queta and do your job no matter where you are.

 

por António Pereira

29-07-2021






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