Como se pode saber se uma organização está a crescer, evoluir e/ou desenvolver?
No "Basquetebol à sua Medida" (Oliveira,
2020) poderá haver quem valorize a
"medida" da formação e quem valorize a da "competição" ou
quem valorize a "medida" de jogar, enquanto outros “a” de treinar. A
ideia de destacar diferentes “medidas” pode e será de certeza uma necessidade
para melhorarmos e sermos mais competentes.
Neste enquadramento, crescimento, evolução e
desenvolvimento também poderão ser diferentes "medidas" e, portanto, requisitos para melhorarmos e sermos mais competentes.
Para isso, necessitamos de identificar as semelhanças
entre crescer, evoluir e desenvolver; as suas
diferentes; e depois de integrar estes 3 conceitos reconhecer as suas aplicações
práticas.
Nas próximas linhas, vamos responder a 4
questões:
1.
Quais
são as semelhanças entre crescimento, evolução e desenvolvimento?
2.
Quais
são as diferenças entre crescimento, evolução e desenvolvimento?
3.
Como
integrar esta informação e suas aplicações práticas?
4.
Como
se pode saber se uma organização está a crescer, evoluir e/ou desenvolver?
Figura 1 - Crescimento, evolução e desenvolvimento
Quais são as semelhanças entre
crescimento, evolução e desenvolvimento?
Todas estas palavras – crescimento,
evolução e desenvolvimento – referem-se a processos de mudança. Ou seja,
quando nos referimos ao crescimento, à evolução e ao desenvolvimento de algo, estamos
a destacar uma mudança nesse "algo".
Por isso e regularmente, gestores e
líderes utilizam estas palavras, nos seus objetivos e relatórios. Contudo, utilizá-las
indistintamente poderá ter consequências muito negativas.
Certa vez, um líder desejava a melhoria da sua empresa e confundi-a - à melhoria - com o crescimento. Passou toda uma vida a fazer crescer a sua empresa, pensando que a estaria a melhorar na “medida” que desejava. Todavia, depois de se reformar e ao fazer o balanço da sua vida, veio a perceber que a empresa tinha mudado, mas não no que desejava, pois tinha melhorado a quantidade, mas não a qualidade desejada. Quando olhava para trás, arrependia-se de todo o seu esforço e compromisso terem sido em vão e mais frustrado ficou quando percebeu que tudo tinha acontecido por confundir crescimento, evolução e desenvolvimento. “Como toda a minha vida e o que alcancei teria sido muito mais perto do que realmente desejava se mão tivesse confundido crescimento, evolução e desenvolvimento?” – pensava este gestor. Não ter uma visão clara do que queria melhorar comprometeu o seu legado.
Quais são as diferenças entre
crescimento, evolução e desenvolvimento?
Crescimento refere-se ao processo de mudança da
quantidade, do tamanho, número, volume ou intensidade. Por exemplo, desde
que nascemos até à idade adulta crescemos em altura (figura 2). Aplicando esta
"medida" ao Basquetebol, podemos querer aumentar o número de
jogadores, equipas, adeptos, patrocinadores (...). Nesta perspetiva, a mudança
é relativa à quantidade.
A quantidade é necessária e desejável,
mas será só através da quantidade de jogadores, treinadores, (...), que
poderemos melhorar ainda mais o Basquetebol?
Se compararmos a população portuguesa
com a americana muito dificilmente (estou a ser otimista), teremos mais
população do que os Estados Unidos. Ao nível da altura, sabendo que ajuda, não
é o único fator a considerar, longe disso. Contudo, podemos perguntar se ao
nível da altura, poderemos ambicionar a sermos tão altos como os mais altos.
Para sabermos se uma organização está a CRESCER,
podemos colocar duas perguntas:
1.
Que
crescimento (quantidade) será desejável?
2.
O
que queremos aumentar?
O da base de praticantes, adeptos e
patrocinadores?
Ao nível da base, entre outros, há um número
que poderá ser mágico 100 Minis (Oliveira,
2021a). Pense-se em como a modalidade podia
crescer, em número de praticantes, em número de futuros adeptos e futuros
patrocinadores, se houvesse um movimento para os Clubes terem 100 Minis.
A evolução também se refere a uma
mudança, mas não é igual à mudança do crescimento. Charles Darwin e a sua
Teoria da Evolução refere-se às mudanças provocadas pelas condições do meio
ambiente e à adaptação para a sobrevivência. Isto é, as populações e
espécies de organismos mudam ao longo do tempo, gerações (descendência de
gerações – figura 3), através do mecanismo de seleção natural.
Nesta perspetiva, quem sobrevive?
Não necessariamente o mais forte, mas o
que melhor se adapta às condições do ambiente em que vive.
Esta perspetiva de sobreviver quem
melhor se adapta poderá encerrar alguns desafios, que se poderão tornar em
problemas.
Comecemos pela seleção natural. Para a melhoria
do Basquetebol, será que o desejável deixar a melhoria à mercê da seleção
natural? Temos assim tantos jogadores para deixar a melhoria alicerçada neste
mecanismo e respetiva seleção?
Continuando, esta seleção natural dá-se através da
luta pela sobrevivência. Por um lado, todos procuramos a sobrevivência,
desenvolvimento e transformação (Agazarian
& Gantt, 2000), mas por outro lado, a sobrevivência
compromete a aprendizagem, a inovação, a criatividade e o desenvolvimento (Olson,
2014).
Prosseguindo e quem sobrevive? Quem melhor se adapta
às condições do ambiente em que vive.
Ao nível dos jogadores e das equipas, que
evolução (adaptação) estaremos a “convidar” se destacarmos os pontos marcados
pelos jogadores? Jogadores egoístas ou altruístas? “Equipas” com “prima donas”
ou “sistemas complementares e cooperantes”?
Que evolução (adaptação) teremos se o ambiente
for de compadrio, bajulação do "líder", não levantar problemas? Que
adaptação estamos a convidar? Quem é que irá sobreviver?
Portanto, nesta perspetiva, haverá
sempre evolução e, por isso, a questão não é se haverá evolução, mas que
evolução teremos. Por isso, a criação do contexto ou das condições do ambiente é
muito importante para o presente, mas determinante para o futuro, de qualquer
organização.
A terminar, a evolução foca-se nas mudanças entre
gerações como resultado da adaptação ao ambiente. Isto é, este tipo de mudanças
requer tempo, muito tempo.
O que fazer ao nível da evolução?
Deixá-la ao acaso ou intervir deliberadamente? A propósito de progresso e evolução,
Thiel (2015, p.
78) refere que "progresso sem
planeamento é o que se chama «evolução»". Planear a evolução através da
criação de contextos que induzam as adaptações desejadas no futuro é o que
permite deixar a “impressão digital” ou o legado, numa organização, numa
sociedade.
Que enorme oportunidade a evolução nos
oferece de termos o futuro que desejamos.
Para sabermos se uma organização está a EVOLUIR,
podemos colocar duas perguntas:
1.
Que
futuro desejámos?
2.
Que
contexto ou condições ambientais, podemos criar no presente, para que a próxima
geração seja ainda melhor, o que desejámos?
Por fim, temos o desenvolvimento,
que também tem por foco a mudança, mas diferente. Neste caso, a mudança
não é relativa à quantidade (crescimento) de algo, nem tão pouco à adaptação
(evolução), mas relativa ao aperfeiçoamento, à melhoria, a mudar para melhor
(figura 4).
Todos os animais podem crescer e evoluir, mas os seres humanos têm a capacidade de fazer melhor com menos (Thiel, 2015).
Por exemplo, quando nascemos, não
andávamos, não falávamos, não conduzíamos. Se há uma herança genética e
intergeracional (evolução) e um aumento do tamanho (crescimento) com impacto na
forma como nos adaptamos e na quantidade do que fazemos, não é menos “verdade”
que a qualidade do andar, do falar (até podemos passar a falar várias
línguas), do conduzir (que com o tempo até se tornar automático) pode mudar
ao longo do tempo, fruto da aprendizagem e inovação.
Portanto, quando falamos de
desenvolvimento, estamos a focar nas mudanças qualitativas das pessoas
ao nível físico e económico, mas também mental ou cognitivo, socioemocional e
motivacional e nas mudanças das organizações ao nível estratégico,
estrutural, equipa e ético.
Há ou não uma diferença entre duas
pessoas com capacidades físicas, mentais, relacionamento e motivacionais
diferentes? Será que organizações com diferentes níveis de foco, compromisso,
colaboração e significado no que fazem são idênticas?
Em cada uma destas dimensões, das
pessoas e das organizações, temos a possibilidade de fazer "melhor com
menos", de nos aperfeiçoarmos, de melhorarmos a qualidade do que fazemos.
Para sabermos se há DESENVOLVIMENTO,
podemos colocar duas perguntas:
1. Como
é que as pessoas podem fazer melhor com menos (melhorar
qualitativamente)?
2. Como
é que as organizações podem fazer melhor com menos (melhorar
qualitativamente)?
Como integrar esta informação e suas
aplicações práticas?
Crescimento, evolução e desenvolvimento são semelhantes na medida em que todos se focam na mudança e diferentes considerando a perspetiva da mudança. O crescimento foca-se na perspetiva da quantidade, a evolução na adaptação e o desenvolvimento na qualidade (tabela 1).
Tabela 1 - Diferenças entre crescimento, evolução e
desenvolvimento.
Todas estas perspetivas são importantes
em qualquer organização e têm impacto quer no presente, quer no futuro.
Que aplicações práticas podemos fazer?
Ao nível do crescimento, identificarmos
o que e quanto queremos crescer será determinante. A minha cruzada com mais de 30
anos pelo Programa 100 Minis, responde ao que me parece ser decisivo, a este
nível.
Ao nível da evolução, a criação de
contextos com uma cultura de exigência, esforço, exigência, equipa e excelência
poderá induzir adaptações decisivas.
Ao nível do desenvolvimento, se uma das características
que distingue os seres os humanos é a do desenvolvimento, a capacidade de melhorarmos,
de fazer melhor com menos, e este requer planeamento deliberado, então uma
aplicação prática é planearmos em vez de improvisarmos a todos os níveis, começando
pela visão, missão, propósito e valores.
Quando abordámos o “Basquetebol 5
Estrelas” (Oliveira,
2021a) em que perspetiva de mudança se enquadravam
as 5 propostas (“Estrelas”)? - Tabela 2.
Tabela 2 - Integração do Basquetebol 5 Estrelas
Relativamente à mudança na perspetiva da
evolução, temos “semeado” vários contributos (e.g.
Oliveira, 2021e, 2021c, 2021b, 2021d, 2021f, 2021h, 2021g).
Qual é a sua “medida”? Que
"medida(s)" queremos explorar? A "medida" da quantidade
(crescimento), a da adaptação (evolução) e/ou a da qualidade (desenvolvimento)?
Que crescimento, que evolução e que desenvolvimento
reconhecemos na nossa organização (por exemplo, no Basquetebol)? É o que queremos?
Bibliografia
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Thiel, P. (2015). Zero to one: notes on startups, or how
to build the future. London, England: Virgin Books.
por João Carlos Oliveira
22-08-2021
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