Crescimento, Evolução e Desenvolvimento - por João Oliveira

Como se pode saber se uma organização está a crescer, evoluir e/ou desenvolver?

 

No "Basquetebol à sua Medida" (Oliveira, 2020) poderá haver quem valorize a "medida" da formação e quem valorize a da "competição" ou quem valorize a "medida" de jogar, enquanto outros “a” de treinar. A ideia de destacar diferentes “medidas” pode e será de certeza uma necessidade para melhorarmos e sermos mais competentes.

Neste enquadramento, crescimento, evolução e desenvolvimento também poderão ser diferentes "medidas" e, portanto, requisitos para melhorarmos e sermos mais competentes.

Para isso, necessitamos de identificar as semelhanças entre crescer, evoluir e desenvolver; as suas diferentes; e depois de integrar estes 3 conceitos reconhecer as suas aplicações práticas.

 

Nas próximas linhas, vamos responder a 4 questões:

1.     Quais são as semelhanças entre crescimento, evolução e desenvolvimento?

2.     Quais são as diferenças entre crescimento, evolução e desenvolvimento?

3.     Como integrar esta informação e suas aplicações práticas?

4.     Como se pode saber se uma organização está a crescer, evoluir e/ou desenvolver?

 

Figura 1 - Crescimento, evolução e desenvolvimento

 

Quais são as semelhanças entre crescimento, evolução e desenvolvimento?

 

Todas estas palavras – crescimento, evolução e desenvolvimento – referem-se a processos de mudança. Ou seja, quando nos referimos ao crescimento, à evolução e ao desenvolvimento de algo, estamos a destacar uma mudança nesse "algo".

Por isso e regularmente, gestores e líderes utilizam estas palavras, nos seus objetivos e relatórios. Contudo, utilizá-las indistintamente poderá ter consequências muito negativas.

Certa vez, um líder desejava a melhoria da sua empresa e confundi-a - à melhoria - com o crescimento. Passou toda uma vida a fazer crescer a sua empresa, pensando que a estaria a melhorar na “medida” que desejava. Todavia, depois de se reformar e ao fazer o balanço da sua vida, veio a perceber que a empresa tinha mudado, mas não no que desejava, pois tinha melhorado a quantidade, mas não a qualidade desejada. Quando olhava para trás, arrependia-se de todo o seu esforço e compromisso terem sido em vão e mais frustrado ficou quando percebeu que tudo tinha acontecido por confundir crescimento, evolução e desenvolvimento. “Como toda a minha vida e o que alcancei teria sido muito mais perto do que realmente desejava se mão tivesse confundido crescimento, evolução e desenvolvimento?” – pensava este gestor. Não ter uma visão clara do que queria melhorar comprometeu o seu legado.

 

Quais são as diferenças entre crescimento, evolução e desenvolvimento?

 

Crescimento refere-se ao processo de mudança da quantidade, do tamanho, número, volume ou intensidade. Por exemplo, desde que nascemos até à idade adulta crescemos em altura (figura 2). Aplicando esta "medida" ao Basquetebol, podemos querer aumentar o número de jogadores, equipas, adeptos, patrocinadores (...). Nesta perspetiva, a mudança é relativa à quantidade.

Figura 2 - Crescimento


A quantidade é necessária e desejável, mas será só através da quantidade de jogadores, treinadores, (...), que poderemos melhorar ainda mais o Basquetebol?

 

Se compararmos a população portuguesa com a americana muito dificilmente (estou a ser otimista), teremos mais população do que os Estados Unidos. Ao nível da altura, sabendo que ajuda, não é o único fator a considerar, longe disso. Contudo, podemos perguntar se ao nível da altura, poderemos ambicionar a sermos tão altos como os mais altos.

Para sabermos se uma organização está a CRESCER, podemos colocar duas perguntas:

1.     Que crescimento (quantidade) será desejável?

2.     O que queremos aumentar?

 

O da base de praticantes, adeptos e patrocinadores?


Ao nível da base, entre outros, há um número que poderá ser mágico 100 Minis (Oliveira, 2021a). Pense-se em como a modalidade podia crescer, em número de praticantes, em número de futuros adeptos e futuros patrocinadores, se houvesse um movimento para os Clubes terem 100 Minis.

 

A evolução também se refere a uma mudança, mas não é igual à mudança do crescimento. Charles Darwin e a sua Teoria da Evolução refere-se às mudanças provocadas pelas condições do meio ambiente e à adaptação para a sobrevivência. Isto é, as populações e espécies de organismos mudam ao longo do tempo, gerações (descendência de gerações – figura 3), através do mecanismo de seleção natural.

Figura 3 - Evolução


Nesta perspetiva, quem sobrevive?


Não necessariamente o mais forte, mas o que melhor se adapta às condições do ambiente em que vive.

Esta perspetiva de sobreviver quem melhor se adapta poderá encerrar alguns desafios, que se poderão tornar em problemas.

Comecemos pela seleção natural. Para a melhoria do Basquetebol, será que o desejável deixar a melhoria à mercê da seleção natural? Temos assim tantos jogadores para deixar a melhoria alicerçada neste mecanismo e respetiva seleção?

Continuando, esta seleção natural dá-se através da luta pela sobrevivência. Por um lado, todos procuramos a sobrevivência, desenvolvimento e transformação (Agazarian & Gantt, 2000), mas por outro lado, a sobrevivência compromete a aprendizagem, a inovação, a criatividade e o desenvolvimento (Olson, 2014).

Prosseguindo e quem sobrevive? Quem melhor se adapta às condições do ambiente em que vive.

Ao nível dos jogadores e das equipas, que evolução (adaptação) estaremos a “convidar” se destacarmos os pontos marcados pelos jogadores? Jogadores egoístas ou altruístas? “Equipas” com “prima donas” ou “sistemas complementares e cooperantes”?

Que evolução (adaptação) teremos se o ambiente for de compadrio, bajulação do "líder", não levantar problemas? Que adaptação estamos a convidar? Quem é que irá sobreviver?

Portanto, nesta perspetiva, haverá sempre evolução e, por isso, a questão não é se haverá evolução, mas que evolução teremos. Por isso, a criação do contexto ou das condições do ambiente é muito importante para o presente, mas determinante para o futuro, de qualquer organização.

A terminar, a evolução foca-se nas mudanças entre gerações como resultado da adaptação ao ambiente. Isto é, este tipo de mudanças requer tempo, muito tempo.

O que fazer ao nível da evolução? Deixá-la ao acaso ou intervir deliberadamente? A propósito de progresso e evolução, Thiel (2015, p. 78) refere que "progresso sem planeamento é o que se chama «evolução»". Planear a evolução através da criação de contextos que induzam as adaptações desejadas no futuro é o que permite deixar a “impressão digital” ou o legado, numa organização, numa sociedade.

Que enorme oportunidade a evolução nos oferece de termos o futuro que desejamos.

Para sabermos se uma organização está a EVOLUIR, podemos colocar duas perguntas:

1.     Que futuro desejámos?

2.     Que contexto ou condições ambientais, podemos criar no presente, para que a próxima geração seja ainda melhor, o que desejámos?

 

 

Por fim, temos o desenvolvimento, que também tem por foco a mudança, mas diferente. Neste caso, a mudança não é relativa à quantidade (crescimento) de algo, nem tão pouco à adaptação (evolução), mas relativa ao aperfeiçoamento, à melhoria, a mudar para melhor (figura 4).

Figura 4 - Desenvolvimento.


Todos os animais podem crescer e evoluir, mas os seres humanos têm a capacidade de fazer melhor com menos (Thiel, 2015).

Por exemplo, quando nascemos, não andávamos, não falávamos, não conduzíamos. Se há uma herança genética e intergeracional (evolução) e um aumento do tamanho (crescimento) com impacto na forma como nos adaptamos e na quantidade do que fazemos, não é menos “verdade” que a qualidade do andar, do falar (até podemos passar a falar várias línguas), do conduzir (que com o tempo até se tornar automático) pode mudar ao longo do tempo, fruto da aprendizagem e inovação.

Portanto, quando falamos de desenvolvimento, estamos a focar nas mudanças qualitativas das pessoas ao nível físico e económico, mas também mental ou cognitivo, socioemocional e motivacional e nas mudanças das organizações ao nível estratégico, estrutural, equipa e ético.

Há ou não uma diferença entre duas pessoas com capacidades físicas, mentais, relacionamento e motivacionais diferentes? Será que organizações com diferentes níveis de foco, compromisso, colaboração e significado no que fazem são idênticas?

Em cada uma destas dimensões, das pessoas e das organizações, temos a possibilidade de fazer "melhor com menos", de nos aperfeiçoarmos, de melhorarmos a qualidade do que fazemos.

Para sabermos se há DESENVOLVIMENTO, podemos colocar duas perguntas:

1. Como é que as pessoas podem fazer melhor com menos (melhorar qualitativamente)?

2.  Como é que as organizações podem fazer melhor com menos (melhorar qualitativamente)?

 

 

Como integrar esta informação e suas aplicações práticas?

 

Crescimento, evolução e desenvolvimento são semelhantes na medida em que todos se focam na mudança e diferentes considerando a perspetiva da mudança. O crescimento foca-se na perspetiva da quantidade, a evolução na adaptação e o desenvolvimento na qualidade (tabela 1).

Tabela 1 - Diferenças entre crescimento, evolução e desenvolvimento.

Todas estas perspetivas são importantes em qualquer organização e têm impacto quer no presente, quer no futuro.

 

Que aplicações práticas podemos fazer?


Ao nível do crescimento, identificarmos o que e quanto queremos crescer será determinante. A minha cruzada com mais de 30 anos pelo Programa 100 Minis, responde ao que me parece ser decisivo, a este nível.


Ao nível da evolução, a criação de contextos com uma cultura de exigência, esforço, exigência, equipa e excelência poderá induzir adaptações decisivas.


Ao nível do desenvolvimento, se uma das características que distingue os seres os humanos é a do desenvolvimento, a capacidade de melhorarmos, de fazer melhor com menos, e este requer planeamento deliberado, então uma aplicação prática é planearmos em vez de improvisarmos a todos os níveis, começando pela visão, missão, propósito e valores.

 

Quando abordámos o “Basquetebol 5 Estrelas” (Oliveira, 2021a) em que perspetiva de mudança se enquadravam as 5 propostas (“Estrelas”)? - Tabela 2.


Tabela 2 - Integração do Basquetebol 5 Estrelas

Relativamente à mudança na perspetiva da evolução, temos “semeado” vários contributos (e.g. Oliveira, 2021e, 2021c, 2021b, 2021d, 2021f, 2021h, 2021g).


Qual é a sua “medida”? Que "medida(s)" queremos explorar? A "medida" da quantidade (crescimento), a da adaptação (evolução) e/ou a da qualidade (desenvolvimento)?

 

Que crescimento, que evolução e que desenvolvimento reconhecemos na nossa organização (por exemplo, no Basquetebol)? É o que queremos?

 

 

Bibliografia

 

Agazarian, Y. M., & Gantt, S. P. (2000). Autobiography of a Theory: Developing the Theory of Living Human Systems and it Systems-Centered Practice. London: Jessica Kingsley.

Oliveira, J. C. (2020). Basquetebol à sua medida. Retrieved March 1, 2020, from https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/2020/03/basquetebol-sua-medida-por-joao-oliveira.html

Oliveira, J. C. (2021a). Basquetebol 5 Estrelas. Retrieved July 18, 2021, from https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/2021/07/basquetebol-5-estrelas-por-joao-oliveira.html

Oliveira, J. C. (2021b). Como é que os Antigos Navegadores se Orientavam no Mar? In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 33–34). Monee, IL, USA: Independently published.

Oliveira, J. C. (2021c). Diagnóstico da Visão do Basquetebol Português - Resultados. In J. C. Oliveira (Ed.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 21–24). Monee, IL, USA: Independently published.

Oliveira, J. C. (2021d). Duas Grandes Oportunidades. In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 159–164). Monee, IL, USA: Independently published.

Oliveira, J. C. (2021e). Meta Visão do Basquetebol Português. In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 47–52). Monee, IL, USA: Independently published.

Oliveira, J. C. (2021f). O “Oxigénio” das Organizações. In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 175–177). Monee, IL, USA: Independently published.

Oliveira, J. C. (2021g). O que as Mães nos podem ensinar? In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 41–46). Monee, IL, USA: Independently published.

Oliveira, J. C. (2021h). Que Liderança pode ser Transformadora? In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 135–143). Monee, IL, USA: Independently published.

Olson, K. (2014). The Invisible Classroom: Relationships, Neuroscience & Mindfulness in School. New York: W. W Norton & Company. Retrieved from https://read.amazon.com/?asin=B008RSH3K2

Thiel, P. (2015). Zero to one: notes on startups, or how to build the future. London, England: Virgin Books.

 

 

por João Carlos Oliveira

22-08-2021








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