Qual é o marcador desejado? – por João Oliveira

Olhando para a imagem, a resposta parece óbvia. Mas se quisermos ir ao fundo da questão, então precisamos de ver para além do evidente.

O que é que está para além do óbvio e pode ser transformador?

Recorda-se ou conhece alguém que tenha jogado sem marcador eletrónico? Muitas vezes, o material necessário parecia ser apenas “aquelas” lâmpadas de 30 segundos, a última vermelha, para assinalar o tempo de posse de bola. Por vezes, nem isso havia, e eram os oficiais de mesa que sinalizavam os 30 segundos de posse de bola.

Já agora e os marcadores, passando dos de mesa, apenas com a pontuação, que “obrigavam” os treinadores a entrar em campo, para conseguir ver o resultado, para os que apenas tinham apenas o resultado.

Hoje, isto é impensável, há marcadores digitais dos 24 segundos (sim, o tempo de posse de bola já foi 30 segundos) e os marcadores passaram a eletrónicos, progrediram para digitais e, em alguns casos, já são projetados diretamente do computador. A necessidade de informação, para saber o que está a acontecer no jogo e, assim, vivê-lo tornou possível seguir “jogada a jogada” (play-by-play) os jogos, em tempo real.

Esta evolução nas condições do jogo sempre foi uma “batalha”. Lembro-me de épocas em que o grande objetivo do Clube era ter tabelas de chão, outras marcadores e outras piso de madeira. Esta evolução nas condições de prática foi muitas vezes impulsionada pelas condições de disputa de determinada competição. Ou seja, para evitar a “punição” de não poderem disputar aquele nível competitivo, os Clubes abordavam instituições e estas apoiavam a aquisição desses “aparelhos”.

Fosse por causa dos intervenientes, pelo jogo em si ou pelos adeptos, a evolução dos marcadores no Basquetebol sempre esteve presente e vista como uma necessidade e, com o tempo, foram prestando cada vez mais informação para os jogadores e os treinadores ajustarem comportamentos e para os adeptos saberem o que se está a passar no jogo e, por isso, experienciá-lo como se dentro dele, do jogo.

Nesta medida, nos marcadores do resultado e tempo de jogo, acrescentaram-se os períodos (quartos), os descontos de tempo, as faltas individuais, os números corretos dos jogadores, os pontos de cada jogador, (…).

Ou seja, é impensável assistir-se a um jogo de Basquetebol sem marcador e esses marcadores partilham informação referente a alguns indicadores.

Que indicadores é que os marcadores exibem?

Aqueles que se entendeu como determinantes para se compreender e apreender o que se está a passar no jogo (e.g., tempo de jogo, resultado, faltas, pontos de cada jogador, …).

Quais são as vantagens dos marcadores?

Consciencializar os jogadores, os treinadores e os adeptos do que se está a passar e, com isso, perceber-se se estamos a ir bem, se temos de mudar algo. Se as coisas estão a correr mal, a informação nos marcadores facilita a perceção disso mesmo e podem levar-nos a dar ainda mais e/ou a mudar a forma de jogar, para evitar a dor de estar a perder. Se o jogo está a correr bem, o que está nos marcadores pode levar-nos a dar ainda mais, para conseguir um determinado incentivo, por exemplo ganhar. Ou seja, os marcadores influenciam o investimento (esforço, compromisso, persistência, …) e a capacidade de adaptação (mudar), portanto, o comportamento de quem joga e o tipo de experiência de quem assiste.

Que marcador eletrónico?

Pensando nos extremos, que marcador é que gostaria de ter para jogar ou assistir a um jogo de Basquetebol?

  1. Marcador só com o resultado 
  2. Marcador de 4 faces, no centro do Pavilhão, mostrando o tempo de jogo, os períodos, os descontos de tempo, os números dos jogadores e respetivas faltas, pontos, assistências e ressaltos e que ainda mostrasse as repetições de jogadas

Agora e se estivermos disponíveis para ir mais fundo, como é que esta situação dos marcadores pode ajudar qualquer organização, trate-se de uma federação, de uma escola, de um tribunal, de uma fábrica ou de um hospital?

As organizações são compostas por pessoas que se relacionam com o propósito de satisfazer as necessidades de uma ou mais pessoas interessadas. Para isso, as organizações necessitam de organizar as contribuições das pessoas. Uma das formas de o fazer é envolvendo razoavelmente as pessoas interessadas em saber para onde ser quer ir, o que se faz e para quem, porque se faz isso, como nos vamos comportar (resumidamente visão), mas também que objetivos são crucialmente importantes, que ações podem traduzir esses objetivos em realidade, que indicadores nos podem mostrar como estamos a ir e que scoreboard ou marcador deve estar visível para todos a todo o momento (plano estratégico).

No caso do Basquetebol e com aplicações às mais diversas organizações, o tema da visão tem sido abordado recorrentemente (Oliveira, 2019, 2021c, 2021a; Pereira, 2019b, 2019a, 2021c, 2021b), a necessidade de observamos a realidade também (Oliveira, 2020b).

Hoje, o que me motiva é partilhar uma ideia que pode ter um enorme impacto. Isto é, do mesmo modo que se percebeu que para o desenvolvimento do jogo era necessário ter-se marcadores nos jogos, com alguns indicadores (pontos, tempo de jogo, faltas, …), e visíveis a todos (jogadores, treinadores e adeptos), porque isso tem um enorme impacto no comportamento e na qualidade da experiência, o mesmo se passa com qualquer organização – as organizações necessitam de quadros de resultados.

Isto é, se desejarmos que o comportamento das pessoas interessadas se ajuste e adapte à realidade de uma organização, então é necessário que as organizações tenham visível um quadro que exiba os indicadores fundamentais (aqueles que mostrar se o que se desejam alcançar está ou não a acontecer ou a aproximar-se) com os respetivos resultados atuais e desejados para o futuro.

A situação de pandemia, podia ter-se constituído como uma enorme oportunidade para organizações refletirem e aprofundarem a sua estratégica (visão e plano estratégico), como partilhou Pereira (2021a), se o fizeram excelente. Contudo, se não foi o caso, mais vale tarde do que nunca.

Por isso, se estivermos realmente interessados em que o comportamento das pessoas apoie o que se deseja conseguir, ter ou ser, então essa organização necessita de ter visível o quadro de resultados (com os indicadores cruciais) atuais e desejados. Contudo, para chegarmos ao quadro de resultados, necessitamos de saber quais são os indicadores de desempenho a observar [para os interessados em aprofundar esta questão, ver Oliveira (2020c, pp. 17–31)] e encontrá-los, pede-nos para clarificarmos as ações estratégicas e estas os objetivos crucialmente importantes. Por fim, estes exigem uma visão partilhada e mobilizadora. Por isso, tudo o que tiver intencionalidade começa com a visão (Oliveira, 2021a).

Gostava de reforça esta última ideia partindo de outra ideia, a do basquetebol à sua medida (Oliveira, 2020a). Uma das medidas do Basquetebol encontra-se na escala entre o involuntário e o intencional. Nesta escala, situo-me na medida da intencionalidade. Isto é, as intervenções no Basquetebol podem ser involuntárias ou intencionais. As intencionais têm pelo menos uma vantagem, saber o que se faz e para quê permite-nos mudar se não produzimos os resultados desejados (Oliveira, 2021b).

E se desejarmos aplicar estas ideias ao Basquetebol!

Aplicações Potenciais

A época 2021-2022 está a iniciar. Pensando em cada competição, ligas masculina e feminina, restantes divisões e diferentes escalões ou mesmo no Basquetebol como um Todo, qual é o Quadro de Resultados Atuais e Desejados que nos permitem viver e disfrutar da experiência, mas também adaptar e ajustar comportamentos, de forma a acontecer o que se deseja?

 

A escolha parece simples, navegar à deriva ou com bússola (Oliveira, 2021b), fazer intervenções involuntárias ou intencionais, que no caso e respetivamente, encontra eco em não ter um quadro de resultados ou tê-lo e assente em tudo o que está entre a visão e os indicadores e critérios estratégicos. As consequências serão diferentes e já agora, o que será o melhor para todos, ao longo do tempo?

 

Referências

Oliveira, J. C. (2019). Diagnosticar a Visão do Basquetebol Português. Retrieved April 27, 2019, from https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/2019/04/diagnosticar-visao-do-basquetebol.html

Oliveira, J. C. (2020a). Basquetebol à sua medida. Retrieved March 1, 2020, from https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/2020/03/basquetebol-sua-medida-por-joao-oliveira.html

Oliveira, J. C. (2020b). O “ESPELHO” do Basquetebol. Retrieved February 2, 2020, from https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/2020/02/o-espelho-do-basquetebol-por-joao.html

Oliveira, J. C. (2020c). Quem “Matou” a Mudança? Wroclaw, Poland: Independently published. Retrieved from https://www.amazon.es/Quem-Matou-Mudança-Carlos-Oliveira/dp/B08QYCT88L/ref=sr_1_1?__mk_es_ES=ÅMÅŽÕÑ&dchild=1&keywords=quem+matou+a+mudança&qid=1633076548&qsid=262-2688292-7775429&sr=8-1&sres=B08R25CVK8%2C8576844397&srpt=ABIS_BOOK

Oliveira, J. C. (2021a). Diagnóstico da Visão do Basquetebol Português - Resultados. In J. C. Oliveira (Ed.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 21–24). Monee, IL, USA: Independently published.

Oliveira, J. C. (2021b). “Insanidade” ou Sensatez. Retrieved September 25, 2021, from https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/2021/09/insanidade-ou-sensatez-por-joao-oliveira.html

Oliveira, J. C. (2021c). Meta Visão do Basquetebol Português. In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 47–52). Monee, IL, USA: Independently published.

Pereira, A. (2019a). Visão – que contributo pode dar para a marca basquetebol. Retrieved May 16, 2019, from https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/2019/05/visao-que-contributo-pode-dar-para.html

Pereira, A. (2019b). Visão com propósito - o ponto de partida. Retrieved May 6, 2019, from https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/2019/05/visao-com-proposito-o-ponto-de-partida.html

Pereira, A. (2021a). Basquetebol Português: Na encruzilhada do reativo ou pró-ativo. Retrieved March 17, 2021, from https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/2021/03/basquetebol-portugues-na-encruzilhada.html

Pereira, A. (2021b). Visão - que contributo pode dar para a marca basquetebol. In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 35–38). Monee, IL, USA: Independently published.

Pereira, A. (2021c). Visão com propósito - o ponto de partida. In J. C. Oliveira & M. Silva (Eds.), Ideias para o Basquetebol: Juntos Vamos Mais Longe (pp. 25–27). Monee, IL, USA: Independently published.

 

por João Oliveira

3-10-2021



 




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