Olhando para a imagem, a resposta parece óbvia. Mas se quisermos ir ao fundo da questão, então precisamos de ver para além do evidente.
O que é que está para além do
óbvio e pode ser transformador?
Recorda-se ou conhece alguém que
tenha jogado sem marcador eletrónico? Muitas vezes, o material necessário
parecia ser apenas “aquelas” lâmpadas de 30 segundos, a última vermelha, para
assinalar o tempo de posse de bola. Por vezes, nem isso havia, e eram os
oficiais de mesa que sinalizavam os 30 segundos de posse de bola.
Já agora e os marcadores,
passando dos de mesa, apenas com a pontuação, que “obrigavam” os treinadores a
entrar em campo, para conseguir ver o resultado, para os que apenas tinham apenas
o resultado.
Hoje, isto é impensável, há
marcadores digitais dos 24 segundos (sim, o tempo de posse de bola já foi 30
segundos) e os marcadores passaram a eletrónicos, progrediram para digitais e,
em alguns casos, já são projetados diretamente do computador. A necessidade de
informação, para saber o que está a acontecer no jogo e, assim, vivê-lo tornou
possível seguir “jogada a jogada” (play-by-play) os jogos, em tempo real.
Esta evolução nas condições do
jogo sempre foi uma “batalha”. Lembro-me de épocas em que o grande objetivo do
Clube era ter tabelas de chão, outras marcadores e outras piso de madeira. Esta
evolução nas condições de prática foi muitas vezes impulsionada pelas condições
de disputa de determinada competição. Ou seja, para evitar a “punição” de não
poderem disputar aquele nível competitivo, os Clubes abordavam instituições e
estas apoiavam a aquisição desses “aparelhos”.
Fosse por causa dos
intervenientes, pelo jogo em si ou pelos adeptos, a evolução dos marcadores no Basquetebol
sempre esteve presente e vista como uma necessidade e, com o tempo, foram
prestando cada vez mais informação para os jogadores e os treinadores ajustarem
comportamentos e para os adeptos saberem o que se está a passar no jogo e, por
isso, experienciá-lo como se dentro dele, do jogo.
Nesta medida, nos marcadores do resultado
e tempo de jogo, acrescentaram-se os períodos (quartos), os descontos de tempo,
as faltas individuais, os números corretos dos jogadores, os pontos de cada
jogador, (…).
Ou seja, é impensável assistir-se
a um jogo de Basquetebol sem marcador e esses marcadores partilham informação referente
a alguns indicadores.
Que indicadores é que os
marcadores exibem?
Aqueles que se entendeu como
determinantes para se compreender e apreender o que se está a passar no jogo (e.g.,
tempo de jogo, resultado, faltas, pontos de cada jogador, …).
Quais são as vantagens dos
marcadores?
Consciencializar os jogadores, os
treinadores e os adeptos do que se está a passar e, com isso, perceber-se se
estamos a ir bem, se temos de mudar algo. Se as coisas estão a correr mal, a
informação nos marcadores facilita a perceção disso mesmo e podem levar-nos a
dar ainda mais e/ou a mudar a forma de jogar, para evitar a dor de estar a perder.
Se o jogo está a correr bem, o que está nos marcadores pode levar-nos a dar
ainda mais, para conseguir um determinado incentivo, por exemplo ganhar. Ou
seja, os marcadores influenciam o investimento (esforço, compromisso, persistência,
…) e a capacidade de adaptação (mudar), portanto, o comportamento de quem joga
e o tipo de experiência de quem assiste.
Que marcador eletrónico?
Pensando nos extremos, que
marcador é que gostaria de ter para jogar ou assistir a um jogo de Basquetebol?
- Marcador só com o resultado
- Marcador de 4 faces, no centro do Pavilhão, mostrando o tempo de jogo, os períodos, os descontos de tempo, os números dos jogadores e respetivas faltas, pontos, assistências e ressaltos e que ainda mostrasse as repetições de jogadas
Agora e se estivermos disponíveis
para ir mais fundo, como é que esta situação dos marcadores pode ajudar
qualquer organização, trate-se de uma federação, de uma escola, de um tribunal,
de uma fábrica ou de um hospital?
As organizações são compostas por
pessoas que se relacionam com o propósito de satisfazer as necessidades de uma
ou mais pessoas interessadas. Para isso, as organizações necessitam de organizar
as contribuições das pessoas. Uma das formas de o fazer é envolvendo razoavelmente
as pessoas interessadas em saber para onde ser quer ir, o que se faz e para
quem, porque se faz isso, como nos vamos comportar (resumidamente visão), mas
também que objetivos são crucialmente importantes, que ações podem traduzir
esses objetivos em realidade, que indicadores nos podem mostrar como estamos a ir
e que scoreboard ou marcador deve estar visível para todos a todo o
momento (plano estratégico).
No caso do Basquetebol e com
aplicações às mais diversas organizações, o tema da visão tem sido abordado
recorrentemente (Oliveira, 2019, 2021c, 2021a; Pereira, 2019b, 2019a, 2021c, 2021b), a necessidade de observamos
a realidade também (Oliveira, 2020b).
Hoje, o que me motiva é partilhar
uma ideia que pode ter um enorme impacto. Isto é, do mesmo modo que se
percebeu que para o desenvolvimento do jogo era necessário ter-se marcadores nos
jogos, com alguns indicadores (pontos, tempo de jogo, faltas, …), e visíveis a
todos (jogadores, treinadores e adeptos), porque isso tem um enorme impacto no
comportamento e na qualidade da experiência, o mesmo se passa com qualquer
organização – as organizações necessitam de quadros de resultados.
Isto é, se desejarmos que o
comportamento das pessoas interessadas se ajuste e adapte à realidade de uma
organização, então é necessário que as organizações tenham visível um quadro
que exiba os indicadores fundamentais (aqueles que mostrar se o que se
desejam alcançar está ou não a acontecer ou a aproximar-se) com os
respetivos resultados atuais e desejados para o futuro.
A situação de pandemia, podia ter-se
constituído como uma enorme oportunidade para organizações refletirem e aprofundarem
a sua estratégica (visão e plano estratégico), como partilhou Pereira (2021a),
se o fizeram excelente. Contudo, se não foi o caso, mais vale tarde do que
nunca.
Por isso, se estivermos realmente
interessados em que o comportamento das pessoas apoie o que se deseja
conseguir, ter ou ser, então essa organização necessita de ter visível o quadro
de resultados (com os indicadores cruciais) atuais e desejados. Contudo, para
chegarmos ao quadro de resultados, necessitamos de saber quais são os
indicadores de desempenho a observar [para os interessados em aprofundar esta
questão, ver Oliveira (2020c, pp. 17–31)] e encontrá-los, pede-nos para clarificarmos as
ações estratégicas e estas os objetivos crucialmente importantes. Por fim, estes
exigem uma visão partilhada e mobilizadora. Por isso, tudo o que tiver
intencionalidade começa com a visão (Oliveira, 2021a).
Gostava de reforça esta última
ideia partindo de outra ideia, a do basquetebol à sua medida (Oliveira, 2020a). Uma das medidas do Basquetebol encontra-se na
escala entre o involuntário e o intencional. Nesta escala, situo-me na medida
da intencionalidade. Isto é, as intervenções no Basquetebol podem ser involuntárias
ou intencionais. As intencionais têm pelo menos uma vantagem, saber o que se
faz e para quê permite-nos mudar se não produzimos os resultados desejados (Oliveira, 2021b).
E se desejarmos aplicar estas
ideias ao Basquetebol!
Aplicações Potenciais
A época 2021-2022 está a iniciar.
Pensando em cada competição, ligas masculina e feminina, restantes divisões e
diferentes escalões ou mesmo no Basquetebol como um Todo, qual é o Quadro de
Resultados Atuais e Desejados que nos permitem viver e disfrutar da
experiência, mas também adaptar e ajustar comportamentos, de forma a acontecer
o que se deseja?
A escolha parece simples, navegar
à deriva ou com bússola (Oliveira, 2021b), fazer intervenções involuntárias ou intencionais, que no caso e respetivamente, encontra eco em não ter um quadro de resultados ou tê-lo e assente em tudo o que está entre a visão e os indicadores e critérios estratégicos. As consequências serão diferentes e já agora, o
que será o melhor para todos, ao longo do tempo?
Referências
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