MINIBASQUETE - Mini8 (6, 7 e 8 anos) e Mini10 (9 e 10 anos): Conceito e Objetivos; Organização e Planeamento - por José Almeida

Introdução

“Num campo de minibasquete joga-se muito mais do que o basquetebol”

Esta é uma abordagem ao trabalho com as crianças das faixas etárias de Mini8 e Mini10 que pretende colocar a criança, e não o futuro atleta de basquetebol, no centro do processo. Isto porque, acreditamos que um desenvolvimento equilibrado e estimulante é o principal motor, para termos melhores futuros atletas e, além disso, será uma contribuição para que sejam futuros jovens com hábitos, que os conduzirão num caminho em direção à excelência, seja em que atividade for.


1. O que é o Minibasquete

O Minibasquete é uma atividade enquadrada na Federação Portuguesa de Basquetebol. Pretende criar o gosto pela prática desportiva de uma modalidade coletiva, no praticante, e dar continuação a esse gosto através da prática do basquetebol.

O seu conteúdo programático é, fundamentalmente, baseado em conceitos ligados à modalidade do basquetebol. No entanto ‘Minibasquete’ e ‘Basquetebol’ são jogos diferentes.

Uma imagem com jogo atlético, desporto

Descrição gerada automaticamente

Sendo praticado por crianças, o Minibasquete deve ser entendido como um instrumento auxiliador do seu Desenvolvimento Integral:

  • Educativo
  • Lúdico
  • Formativo
  • Social

Para ajudar no Desenvolvimento Integral da Criança (Mini8 e Mini10), o treinador tem que:

  • Conhecer as suas necessidades e características
  • Ter conhecimentos e fundamentos pedagógicos
  • Dominar os conteúdos a utilizar
  • Ter objetivos no sentido do desenvolvimento harmonioso da criança

Enquanto Instrumento Educativo, o Minibasquete só terá sucesso se:

  • Houver empatia entre treinadores e praticantes
  • Existir cooperação e cumplicidade entre pais e treinadores
  • Todos o entenderem como componente determinante do desenvolvimento da criança

Enquanto instrumento Lúdico, o Minibasquete só terá sucesso se:

  • As sessões de treino tiverem esta componente como uma das prioridades
  • Os exercícios forem concebidos de modo a proporcionar às crianças o máximo empenho motor (evitar filas, eliminações, tempo de espera na mudança dos exercícios, explicações longas, …)


2. O perfil das crianças das faixas etárias de Mini8 e Mini10

O perfil destas crianças é essencialmente pautado pelas diferenças individuais:

  • Ritmos de aprendizagem diferenciados
  • Processos de investimento e acomodação da aprendizagem diferenciados
  • Fases de crescimento que parecem “contraditórias” para a mesma criança

O desenvolvimento da criança destas idades caracteriza-se pela sua autoperceção enquanto ser  individualizado e diferenciado dos pais. Como tal:

  • Caminha da revolta para a tranquilidade
  • Insurge-se contra os pais sem saber muito bem porquê, para depois se conformar às diretrizes dos pais como sendo suas
  • Passa do egocentrismo para a empatia pelos outros
  • Desenvolvimento das emoções
  • Passa do concreto para o abstrato
  • Passa da mistura entre fantasia e realidade para uma fantasia mais discreta
  • Início da construção identitária e da autoestima
  • Caminha do nível imaturo ético-moral para um estado mais normativo e de reivindicação de justiça
  • A personalidade torna-se mais expressiva, os “gestos são mais seus”

É consensual que as crianças não são adultos em miniatura. Diferenciam-se não apenas dos adultos, mas também dos adolescentes e mesmo entre as diferentes faixas etárias da infância. Têm características próprias no que diz respeito ao seu raciocínio, à forma como se veem a si próprias, como veem o que as rodeia e como veem os outros e o seu relacionamento com eles.

Uma atividade a ser realizada por crianças têm de ter em conta as suas características, quer no planeamento e implementação da prática (metodologia), quer na forma de relacionamento e intervenção do treinador/professor (pedagogia).

Os treinadores/professores não têm de ser psicólogos, mas é importante que tenham uma noção das características das crianças com quem trabalham, para melhor as entenderem e otimizarem a conceção da própria atividade.

 

3. Organização do Ensino-Aprendizagem

 

Modelos de Desenvolvimento do Praticante

No escalão etário dos Mini8 os conteúdos do Modelo de Desenvolvimento do Praticante privilegiam:

  • O desenvolvimento dos Esquemas Motores de Base e das Capacidades Coordenativas
  • A Introdução e Aquisição das “Competências Mínimas”
  • A ocupação do espaço
  • Noção de “Atacar” e “Defender”

No escalão etário dos Mini10 os conteúdos do Modelo de Desenvolvimento do Praticante apontam para:

  • O desenvolvimento das Capacidades Coordenativas e de algumas Capacidades Condicionais
  • A Aquisição e Consolidação das “Competências Mínimas”
  • A Introdução de um modelo tático ofensivo baseado no “Criar uma vantagem” numa estrutura de 2x2
  • Regras Fundamentais da Defesa


Abordagem Metodológica

(fases de ensino-aprendizagem de um conteúdo)

Os conteúdos programáticos devem ser apresentados ‘em jogo’ (necessidades que emergem do jogo) e ensinados e desenvolvidos sob a forma de exercícios que devem estar concebidos, sempre que possível (se não mesmo SEMPRE), com componentes lúdicas (competição, desafio, novidade). A aprendizagem de uma nova ‘skill’ deve ter esta abordagem:

  1. Introdução - deixar que experimentem, hesitem, falhem, retomem (“o quê”)
  2. Aquisição - executar no ‘vazio’, mas já com uma velocidade tipo jogo, usar uma técnica correta (“como”)
  3. Consolidação - tomada de decisão (“quando”, “porquê”)

 (Mike Mackay)

Abordagem Pedagógica

O ERRO

Desde o início, deve ficar claro, que errar é natural quando se está a aprender e, por isso, não é algo que seja censurado.

Deve ser claro também que, a criança, atleta de minibasquete não é definida, apenas, pelo que já consegue fazer, mas, sobretudo, pelo empenho e compromisso, que coloca em aprender o que ainda não sabe.

 

RELACIONAMENTO TREINADOR-CRIANÇA

Linhas de orientação para construir um bom relacionamento com as crianças


Dossier de Exercícios

Cada treinador deve ter um lote de exercícios/jogos que sejam adequados à aprendizagem dos conteúdos. A busca do treinador pelo seu próprio aperfeiçoamento deve levá-lo à procura de novos exercícios/jogos ou à sua criação. Sempre que encontrar um novo exercício deve partilhá-lo. Para além do natural trabalho de equipa, que deve existir entre todos os treinadores, a partilha do exercício permite obter opiniões e pontos de vista que servirão para uma análise mais completa do novo exercício o que poderá levar à decisão de o descartar ou a reforçar a confiança na sua utilidade. Em todo o caso, a derradeira validação será a do resultado da sua implementação. Um bom exercício deve ter:

(Aquisição)

  • Variantes que o levem de uma forma mais simples a outras mais complexas
  • Abordar mais do que um conteúdo
  • Facultar o máximo empenho motor às crianças (evitar as ‘filas de espera’ e/ou ‘eliminações’)
  • Ser ao mesmo tempo didático e divertido (através da competição ou do desafio)

 (Consolidação)

  • Para além dos anteriores ter os fatores ‘Ação e Reação’ e/ou ‘Leitura e Decisão’


4. O Planeamento da Época

No minibasquete, a época desportiva (e já agora, também nos escalões de formação) deve ser planeada tendo como base o ensino dos conteúdos e a sua distribuição no tempo. Como tal terá toda a lógica usar as mesmas divisões do ano letivo escolar, isto é, três períodos. O início de cada período é uma oportunidade para avaliação e revisão do plano, quanto aos conteúdos a ensinar e ao nível do seu desenvolvimento. Para sabermos até onde podemos ir no que aos conteúdos diz respeito, necessitamos de conhecer as crianças com quem vamos trabalhar. Podemos aproveitar o 1º mês de treinos para os conhecermos, enquanto fazemos uma campanha de captação, pelo que nesse mês as prioridades de cada sessão de treino serão menos o ensino e mais o aspeto lúdico. Devemos basear as sessões em jogos, estafetas, jogo reduzido que nos permitirão avaliar o nível médio das capacidades coordenativas e das competências mínimas para os Mini8 e também dos fundamentos técnicos e técnico-táticos no caso dos Mini10. Este tipo de sessões de treino serão também favoráveis ao desenvolvimento da empatia entre a criança e o treinador, assim como à ‘’vontade de voltar no próximo treino’’ sobretudo quando a criança está a ter o seu primeiro contacto com o minibasquete.

Em cada Período, para além da Fase de Avaliação, devem existir Ciclos (conjuntos de microciclos) que correspondem a uma lógica de ensino-aprendizagem dos conteúdos.

O coordenador deve criar (ou solicitar aos treinadores que o façam e aprovar) Protocolos de Avaliação de acordo com o programa dado e/ou o programa que se segue, seja para avaliação contínua ou para realização de testes.

O resultado das avaliações serve para determinar (validar, ajustar, …) qual o conteúdo programático que se segue.

O coordenador deve criar (ou solicitar aos treinadores que o façam e aprovar) um Modelo de Treino e Unidade ou Unidades de Treino Tipo para cada um dos Ciclos de cada Período.


Sessão de Treino

Cada sessão de treino deve ter uma estrutura que apresente coerência, não apenas interna à própria sessão, como também ao enquadramento dessa sessão dentro do Microciclo/Ciclo.

     Modelo de Treino:

  • Objetivos
  • Estrutura (linha temporal; duração)
  • Distribuição na linha temporal e respetiva duração, dos conteúdos referentes aos objetivos

     Unidade de Treino

  • Objetivos
  • Estrutura (linha temporal; duração)
  • Distribuição na linha temporal e respetiva duração, dos conteúdos referentes aos objetivos


“Não ensine muito, espere que eles aprendam bastante…”

Hermínio Barreto

 

Ser treinador de Minibasquete é ser um Professor. Ensinar é importante. Inspirar é fundamental.

Quando tiverem dúvidas, sempre que sentirem dificuldades, lembrem-se que estão a trabalhar com crianças e simplifiquem.

Disciplina e coerência mas também uma brincadeira, um abraço, um sorriso resolverão a grande maioria das situações.

Sejam ambiciosos e vejam para além do óbvio, para além do campo, para além do cesto. A grande maioria não será profissional de basquetebol. Que encontrem aqui, no minibasquete, ensinamentos que os levem a querer ser sempre a sua melhor versão, seja em que atividade for.

No printed word, nor spoken plea can teach young minds what they should be. Not all the books on all the shelves – but what the teachers are themselves.

Rudyard Kipling 


Bibliografia

Wadsworth, B. J. (1971). Piaget's theory of cognitive development: An introduction for students of psychology and education. New York: McKay.

Kohlberg, L. (1981). The philosophy of moral development: Moral stages and the idea of justice. San Francisco: Harper & Row.

Plutchik, R. (1982). A psychoevolutionary theory of emotions. Social Science Information/sur les sciences sociales, 21(4-5), 529–553. https://doi.org/10.1177/053901882021004003

Araújo, A. (2008). Manual de Treinadores de Minibasquete. Lisboa: FPB.

Agradecimentos especiais:

Isabel Pinto (Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto)

Mike Mackay (Canada Basketball)

Mário Barros

Carlos Bio

Henrique Santos

  pelos ensinamentos

Ana Santos

  pelo apoio técnico e crítica construtiva


por José Almeida

15/04/2022









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