Estudo sobre o tempo de jogo dos jogadores Portugueses e Estrangeiros das equipas da LPB – 1ª volta da época de 2019/2020 – por António Pereira

Terceiro estudo

Análise ao tempo de jogo dos jogadores portugueses e estrangeiros nos jogos da LPB.

A análise ao tempo de jogo dos jogadores portugueses e estrangeiros vem na sequência dos estudos anteriores, onde no primeiro estudo, começamos por verificar quantas pessoas vão ver um jogo de basquetebol ao vivo, no segundo estudo, tentamos verificar a competitividade da LPB, através da análise das diferenças pontuais dos diversos jogos na LPB.

Neste estudo, definimos como critério que todos os jogadores que não podem representar a seleção portuguesa seriam incluídos no grupo de “estrangeiros”, isto apesar de haver casos de jogadores que têm a nacionalidade portuguesa ou que fizeram a sua formação basquetebolística em Portugal, mas que não são ilegíveis para jogar pela seleção nacional. Todos os outros jogadores são incluídos no grupo de “portugueses”. 

Neste estudo, a pergunta de partida foi “quanto tempo jogam os jogadores portugueses e os jogadores estrangeiros?”.

A fonte dos dados utilizados foi o site da Federação Portuguesa de Basquetebol (www.fpb.pt) e foram copiados de forma manual. Fomos nós que definimos os critérios, que nos parecem corretos, para verificarmos qual seria a resposta à nossa pergunta de partida.  

Explicação do quadro: “N” corresponde ao número de equipas que participaram em 91 jogos (91 x 2 equipas=182).

Mínimo corresponde ao valor mínimo de minutos jogados por jogadores de uma categoria (portugueses ou estrangeiros) num jogo (cada equipa tem 200 minutos por cada jogo).

Máximo corresponde ao valor máximo de minutos jogados por jogadores de uma categoria (portugueses ou estrangeiros) num jogo.

Média corresponde ao valor médio de minutos jogados por jogadores de uma categoria (portugueses ou estrangeiros) num jogo. 

O erro desvio corresponde à provável precisão da média da amostra como uma estimativa da média da população para cada categoria (portugueses ou estrangeiros).

Explicação do quadro: O gráfico permite-nos visualizar: (a) as médias do total de tempo de jogo de cata uma das categorias (“portugueses” e “estrangeiros”) – linha horizontal a negrito dentro de cada “caixa” azul, (b) a localização dos dados em torno da média mais ou menos um desvio padrão, em cada categoria – as respetivas “caixas” azuis, (c) a localização dos dados em torno da média mais ou menos dois desvio padrão, em cada categoria – os traços horizontais acima a abaixo das “caixas” azuis, e (d) os outliers, os dados que dispersão da média mais ou menos dois desvios padrão – o caso 254 é relativo ao tempo de jogo dos “estrangeiros” da equipa do SL Benfica, no jogo em casa contra o Terceira Basket, em que os seus “estrangeiros” jogaram 17’ + 24’ + 21’ = 62’.

Explicação do quadro: “N” corresponde ao número de equipas que participaram em 91 jogos (91 x 2 equipas por jogo = 182).

Mínimo corresponde ao valor mínimo da percentagem de tempo de jogo por categoria (portugueses ou estrangeiros) num jogo. 

Máximo corresponde ao valor máximo da percentagem de tempo de jogo por categoria (portugueses ou estrangeiros) num jogo.

Média corresponde ao valor médio da percentagem de tempo de jogo por categoria (portugueses ou estrangeiros) num jogo.

O erro desvio corresponde à provável precisão da média da amostra como uma estimativa da média da população para cada categoria (portugueses ou estrangeiros).

Explicação do quadro: O tempo de um jogo de basquetebol disponível para os 5 jogadores em campo corresponde a 200 minutos (se não houver prolongamento). 

Este tempo de jogo foi dividido em oito intervalos: o 1º intervalo corresponde a essa categoria (“portugueses” ou “estrangeiros”) jogar entre 0 a 24 minutos; o 2º intervalo corresponde a essa categoria (“portugueses” ou “estrangeiros”) jogar entre 25 e 49 minutos; o 3º intervalo corresponde a essa categoria (“portugueses” ou “estrangeiros”) jogar entre 50 e 74 minutos; o 4º intervalo corresponde a essa categoria (“portugueses” ou “estrangeiros”) entre jogar 75 e 99 minutos; o 5º intervalo corresponde a essa categoria (“portugueses” ou “estrangeiros”) jogar entre 100 e 124 minutos; o 6º intervalo corresponde a essa categoria (“portugueses” ou “estrangeiros”)  jogar entre 125 e 149 minutos; o 7º intervalo corresponde a essa categoria (“portugueses” ou “estrangeiros”) jogar entre 150 e 174 minutos; e o 8º intervalo corresponde a essa categoria (“portugueses” ou “estrangeiros”) jogar entre 172 e 200 minutos. 

“N” corresponde ao número de equipas que participaram em 91 jogos (91 x 2 equipas por jogo = 182).

A frequência corresponde ao número de equipas que jogaram com jogadores de cada categoria (portugueses ou estrangeiros) em cada um dos intervalos. 

A percentagem corresponde à percentagem de equipas que jogaram com jogadores de cada categoria (portugueses ou estrangeiros) em cada um dos intervalos. 

A percentagem acumulativa é a percentagem acumulada do tempo de jogo em cada intervalo.

Assim e a negrito, temos que 88.5% dos “Portugueses” jogam menos de 99 minutos dos 200 de cada partida e 88,5% dos “Estrangeiros” jogam 100 minutos ou mais dos 200 de cada partida.

Explicação do quadro: No gráfico à esquerda, podemos visualizar a mancha do total de tempo de jogo (totalT). Ao centro, encontram-se os gráficos com as manchas das percentagens do tempo de jogo (percTJ). O gráfico à direita permite-nos visualizar a frequência dos intervalos do tempo de jogo (intTJG). 

Explicação do quadro: No gráfico à esquerda, podemos visualizar a mancha do total de tempo de jogo (totalT). Ao centro, encontram-se os gráficos com as manchas das percentagens do tempo de jogo (percTJ). O gráfico à direita permite-nos visualizar a frequência dos intervalos do tempo de jogo (intTJG). 

Explicação do quadro: O gráfico permite-nos visualizar a percentagem de tempo de jogo das duas categorias ("portugueses" e "estrangeiros"), nos 91 jogos realizado, durante a 1ª volta da LPB. 


Análise Estatística às diferenças das médias de tempo de jogo 

No quadro inicial, verificamos que a média de tempo de jogo dos “portugueses” é de 72.22 Minutos (nos 200 minutos possíveis) e que a média de tempo de jogo dos “estrangeiros” é de 127.86 Minutos.

Percebemos que os “estrangeiros” jogam em média mais tempo que os portugueses. Por isso e neste momento, a questão não é saber se algum grupo (“portugueses” ou “estrangeiros”) joga mais tempo (isso já sabemos), mas se essas diferenças de médias de tempo de jogo entre “portugueses” e “estrangeiros” são estatisticamente significativas.

Para averiguar se havia uma diferença estatisticamente significativa entre as médias de tempo de jogo de "portugueses" e "estrangeiros", começamos por verificar se os dados nos permitiam utilizar testes paramétricos. 

Para essa verificação, realizamos dois testes: o teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov (K-S) e o teste de homogeneidade de variância de Levene. 

Explicação do quadro: Este quadro apresenta o teste K-S com a correção de Lilliefors para as duas amostras da variável nacionalidade “Portugueses” e “Estrangeiros” com p-value (“Sig.”) respetivamente de 0.094 e 0.200. 

Com uma probabilidade de erro de 5%, podemos concluir que a distribuição da variável é Normal, nas duas amostras.

Explicação do quadro: Este quadro apresenta o teste de Levene calculado a partir da média, da mediana, da mediana corrigida pelo facto de estarmos a considerar uma amostra e não uma população inteira e pela média aparada. Podemos finalmente concluir que as variâncias populacionais estimadas a partir das duas amostras são homogéneas já que p-value > α = 0.05.

Nestas condições de aplicação, podemos utilizar testes paramétricos para testar se as médias de duas populações (no caso, “portugueses” e “estrangeiros”) são ou não significativamente diferentes. 

As hipóteses a testar são:

H0: µP ≥ µE (o tempo de jogo dos “portugueses” é maior ou igual ao dos “estrangeiros”) e 
H1: µP < µE (o tempo de jogo dos “portugueses” é menor do que o dos “estrangeiros”)

A significância da diferença entre os tempos médios de jogo dos “portugueses” vs. “estrangeiros” foi avaliada com o Teste t-Student para duas amostras. Os pressupostos deste método estatístico, nomeadamente as normalidades das distribuições e a homogeneidade de variâncias nos dois grupos avaliados foram avaliados, respetivamente, com o teste Kolmogorov-Smirnov com correção de Lilliefors (KS(182)”portugueses” = 0.061; p =0.094; KS(182)”estrangeiros” = 0.058; p =0.2000) e com o teste de Levene (F = 0.006; p = 0.937). Recorreu-se so Software IBM Statistics 25 para executar o teste e consideram-se estatisticamente significativas as diferenças entre médias cujo p-value do teste seja igual ou inferior a 0.001.

Resultados

Este quadro apresenta as medidas descritivas.

Neste quadro, apresenta-se o teste de Levene para a homogeneidade das variâncias. Sendo p-value = 0.937 concluímos que as variâncias são homogéneas e assim a estatística de teste a utilizar para o teste de t-Student é a que assume variâncias iguais (“Variâncias iguais assumidas”).

Os “portugueses” jogam, em média, 72.22 minutos em cada jogo (SEM = 1.668), enquanto os “estrangeiros” jogam em média 127.86 minutos em cada jogo. De acordo com o teste t-Student as diferenças observadas entre os tempos médios de jogo dos dois grupos (“portugueses” e “estrangeiros”) são estatisticamente significativas (t (362) = -23.315; p = 0.000).

Sendo p-value = 0.000 < α rejeitamos H0. Por isso, os tempos médios de jogo dos dois grupos (“portugueses” e “estrangeiros”) são significativamente diferentes, no caso, os “portugueses” jogam significativamente (***) menos tempo do que os “estrangeiros”.

Gráfico equipa a equipa da % do tempo de jogo dos jogadores "portugueses" vs "estrangeiros" 

Explicação do gráfico: Os diversos gráficos que se seguem permitem-nos visualizar a percentagem de tempo de jogo por as duas categorias (portugueses e estrangeiros) em cada uma das equipas da LPB. 

Ranking das Equipas em que os “Portugueses” Jogam Percentualmente Mais Tempo

Ranking das Equipas em que os “Estrangeiros” Jogam Percentualmente Mais Tempo

Conclusões

Da leitura dos diversos quadros e gráficos realçamos o seguinte:

- Um dos dados relevantes deste estudo é-nos dado ao indicar que o conjunto de jogadores portugueses de uma equipa jogam menos que os jogadores estrangeiros, mais precisamente 88.5% dos jogadores nacionais jogam menos de 99 minutos dos 200 de um jogo. Já os jogadores estrangeiros jogam 100 ou mais minutos dos 200 de cada jogo o que equivale igualmente a um valor de 88.5%.

- O dado seguinte diz-nos que os jogadores estrangeiros jogam mais que os jogadores portugueses em % de tempo (minutos) em cada jogo 64% vs 36%, e os testes que fizemos de seguida indicam-nos que as diferenças entre as médias de tempo de jogo entre “Portugueses” e “Estrangeiros” são estatisticamente significativas (t (362) = -23.315; p = 0.000).

- O Benfica é a única equipa onde os jogadores Portugueses jogam mais minutos do que os estrangeiros (talvez a esta situação não seja alheia as lesões de diversos jogadores estrangeiros bem como o número de jogadores internacionais da equipa). O Maia Basket que só tem três estrangeiros no seu plantel, bem como o CAB Madeira que usa quatro jogadores estrangeiros estão muito perto da linha dos 50% do tempo de jogo usados pelos jogadores portugueses.

- No lado oposto do ranking, isto é, das equipas que distribuem mais minutos aos jogadores estrangeiros, encontra-se o Esgueira com 81%. Verificamos ainda que além desta, mais três equipas (Galitos do Barreiro, Barreirense e Vitória), utilizam os jogadores estrangeiros em pelo menos 70% do tempo de jogo disponível ou mais.

- Concluindo, podemos afirmar que depois de analisarmos o tempo de jogo de todos os jogadores por equipa da LPB, os diversos testes demonstram que os jogadores estrangeiros jogam mais minutos que os jogadores portugueses com claro desequilíbrio. Podemos ainda identificar equipas que têm uma rotina na distribuição dos minutos, e por fim que são poucos os portugueses utilizados em mais de 30 minutos por jogo.

Aliás este estudo pode dar indicações preciosas aos jogadores portugueses, ao dar-lhes a conhecer como é que as diversas equipas distribuem o tempo de jogo pelos diversos jogadores na 1ª volta da LPB.

Por fim, agradeço mais uma vez ao João Oliveira a sua colaboração na análise dos dados, nomeadamente no uso do programa de análise estatística SPSS.

António Pereira
12-01-2020

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